segunda-feira, 27 de julho de 2015

Processo produtivo do teatro popular de bonecos

A fábrica ex-post

Já no dia seguinte à apresentação do espetáculo teatral, os atores e o Núcleo Gestor mobilizarão as lideranças para, junto às autoridades competentes, promover o encaminhamento das demandas e pressionar pelo atendimento das exigências.

Este ato é realizado na grande manifestação épica-carnavalesca do Espetáculo-mestre.

De cada autoridade responsável solicitarão um cronograma onde estará discriminado, passo a passo, as etapas para o pleno atendimento da demanda, a plena solução do problema apresentado.

É fundamental a identificação dos aliados naturais neste processo e solicitar deles a adesão ao Projeto: os vereadores e parlamentares dos demais níveis como deputados e senadores, o Ministério Público, ONG’s, órgãos de representação de classe como a OAB, o CREA, o CNSS – dentre outros – e a mass-mídia, os órgãos de imprensa.

A entrega das demandas às autoridade constituídas deve se dar nesta grande marcha épica-carnavalesca, uma grande caminhada pelas ruas centrais da região, com tambores, bandeiras, estandartes, cartazes, bonecos gigantes, num ato de mobilização criativo, o teatro de rua, o Espetáculo-mestre.

O teatro – como o conhecemos – surgiu na Grécia antiga, das grandes marchas carnavalescas em reverência ao deus Dionísio (entre os gregos)/Baco (entre os romanos). O TBMB resgata a pujança e a alegria das marchas carnavalescas como um tributo e uma reverência ao poder popular, à força dos trabalhadores, das mulheres, dos estudantes, da comunidade organizada.

Seria hipocrisia avocar ao Projeto a pretensão de poder tudo contra os mais fortes, contra os setores poderosos e melhor organizados. Nosso principal atributo é atuar como um instrumento de mobilização comunitária e de reflexão crítica. Nossa obrigação é ser um ponto aglutinador das forças que almejam as transformações necessárias, que aspiram pelas intervenções sobre a realidade com vistas a tornar a vida melhor para todos. Sem jamais perder de vista os valores que compõem o patrimônio cultural da comunidade. E todo este processo tem no centro a mais fina das manifestações artístico-culturais.

Este processo de pressionar as autoridades constituídas em busca de soluções para os nossos problemas exige persistência e flexibilidade.

Persistência porque a autoridade só se movimenta diante da pressão democrática, a pressão sistemática, compacta, ininterrupta, densa e volumosa.

Flexibilidade porque temos que ter a criatividade para, rápida e inesperadamente mudar as estratégias, alterar os instrumentos, surpreendendo o demandado o tempo inteiro. Por isto o Espetáculo-mestre pode durar uma hora, um dia, uma semana, um mês, um ...

Daí é que – neste ínterim – produziremos e apresentaremos inúmeras outras peças teatrais, mantendo acesa a chama da mobilização por mudanças, mantendo nosso conjunto de forças permanentemente acionados.

Quando a comunidade considerar o problema definitivamente resolvido é elaborado o espetáculo derradeiro deste ciclo. Será o espetáculo comemorativo que expressará o ato e a festa da vitória.

Fechado o ciclo, um outro é iniciado – a 2ª edição – com a identificação de uma nova questão que será problematizada, que será estruturada numa linguagem dramática, que terá seu curso conforme estabelecido na presente metodologia.

No TBMB a concepção é por um teatro permanente, sempre aberto, suscetível e ávido por inovações. É o princípio do Espetáculo Permanente.

Antônio Carlos dos Santos é criador da metodologia de produção de teatro popular de bonecos Mané Beiçudo.