O
microteatro, formato inovador criado na Espanha em 2009, chega ao Rio para
impactar
Por Camila Moraes, no El País
Como trazer de volta ao teatro o público que o
cinema comercial, a televisão e outros tipo de entretenimento tecnológicos e
massivos desviaram das artes cênicas nos últimos tempos? A resposta, ao
contrário do que se pensa, pode ser simplificar o espetáculo, em lugar de
complicá-lo com pirotecnias.
Essa foi a experiência que viveu a
espanhola Yolanda Barrasa e outros criadores do microteatro, um formato
teatral inovador que nasceu em 2009 em Madri, dentro dos pequenos quartos de um
prostíbulo abandonado. A proposta, como já foi dito, é simples: reduzir a
duração da obra, a quantidade de atores em cena e de espectadores na plateia e
o espaço disponível para a encenação. Assim, com três atores, 15 espectadores,
15 metros quadrados e 15 minutos de peça no máximo, nasceu uma experiência
teatral que pode ser comparada ao conto na literatura e ao curta-metragem no
cinema. Uma história com um punch, feita para impactar.
A novidade acaba de aterrissar no Rio
de Janeiro, trazendo da Espanha e dos vários microteatros que se espalharam
pelo mundo (mais de 100) a exigência de que cada encenação se repita várias
vezes numa mesma noite, para que o público escolha ao que assistir. O lugar
escolhido foi o Castelinho do Flamengo, onde o microteatro carioca,
com várias peças curtas apresentadas ao mesmo tempo, ficará instalado por
quatro semanas (de 14 de novembro a 6 de dezembro). A entrada às sessões que
acontecerão sempre às sextas e sábados é gratuita.
“Foi a forma que encontramos de
reconquistar o espectador e de atrair um público distinto ao que frequenta hoje
em dia o teatro tradicional. Em Madri, onde fundamos um microteatro permanente,
chegamos a encenar a mesma peça 20 vezes numa noite, com um público que
misturava adolescentes e idosos, entre outras pessoas”, conta Yolanda sobre o Microteatro Por Dinero –
referência mundial desse tipo de “teatro íntimo, que valoriza os detalhes e os
sussurros”, como explica a própria diretora, responsável por uma montagem
brasileira da micropeça A solas (a sós), de Lorenzo Silva, sobre um
interrogatório entre um homem e uma mulher.
Não só Yolanda e seus companheiros
reconheceram essa democratização do público, como que tinham revitalizado o
formato teatral. Isso se deve, principalmente, à experiência de um teatro
simultâneo, que implica que o espectador escolha livremente suas obras preferidas.
“O teatro curto existe desde Cervantes, mas essa proposta dinâmica e
democrática foi para nós o surgimento de algo insólito. É uma grande emoção ver
que o formato foi amplamente adotado”, diz.
A ideia de um microteatro carioca surgiu casualmente,
quando Yolanda veio ao Brasil para dar um dos workshops extramuros da Escuela de Cine y Televisión de SanAntonio de los Baños, de Cuba. Depois da estreia no Rio, é possível
que se abra uma temporada em São Paulo e em Curitiba, mas por hora nada está
confirmado. Só que o show vai durar 15 minutos, com três atores, 15 pessoas na
plateia... E que pretende emocionar.