No livro "Respiração, voz e dicção"
A voz é uma das marcas
registradas das pessoas. Uma personagem bem construída, trajando
maravilhosamente bem, se movimentando com destreza e primor, de porte plástico
e destacado, inserida numa trama cujos diálogos estão devidamente estruturados,
estará fadada a retumbante fracasso caso não seja dotada de uma voz expressiva,
adequada, elaborada. E alcançar este objetivo não é tarefa tão fácil quanto
parece.
Para obter sucesso nesta etapa o leitor deve,
primeiramente, conhecer sua própria voz, saber de suas potencialidades e
limitações. Daí a necessidade do estudo e da exercitação: o preparo, o
condicionamento, o treinamento... Devemos expandir nossas capacidades físicas e
psicológicas de modo a adquirir absoluto controle sobre nosso sistema
vocal-respiratório.
Nada de negligenciar: não devemos esquecer que
o som emitido por nossa voz é produzido pelas cordas vocais que vibram com a
passagem do ar. Por isso a capacidade vocal está diretamente relacionada à
capacidade respiratória.
Tão logo adquira o conhecimento sobre seu próprio
sistema vocal, o leitor deverá promover incursões por diferentes cenários, exercitando
distintas alternativas, treinando vozes diversas, até granjear plena segurança,
completo domínio sobre sua performance e projeção.
A voz não é um componente estanque e isolado
do processo. É parte de um sistema mais amplo em que estão presentes o tipo
físico, o perfil psicológico e ainda o contexto em que se verifica a interação
ou a trama. Consequentemente, a voz deve ter como atributos:
· potência para se tornar perfeitamente audível numa
sala ou auditório, por exemplo. Caso parcela da plateia ou da assistência não
escutem a voz emanada, ocorrerá dispersão, desinteresse e, logo, ruídos e
burburinhos;
· flexibilidade para se adequar
às necessárias variações de timbres e cadências impostas pela dinâmica das
cenas bem como para interagir com o contexto estabelecido;
· plena sintonia com a
caracterização física e psicológica da personagem.
Um pequeno gravador pode ser de grande valia:
habitue-se a ler textos de diferentes tamanhos, gravando-os. Na sequência,
escute a sua voz com espírito crítico registrando numa caderneta: os erros e as
pronúncias inadequadas, o tempo das pausas, os momentos de inspiração e
expiração, o volume, a entonação e o timbre..
Repita o procedimento até que a audição se apresente límpida e
adequada.
Cantar: um santo remédio
Cantar é outra atividade que auxilia neste
processo de revitalização de nossa ‘linha de produção’ e de qualificação do
produto final, a voz. Não foram os nossos avós que nos legaram o sábio
ensinamento “quem canta seus males
espanta”?
O canto serena e apazigua os problemas do dia
a dia, evoca a alegria, magnetiza o bom humor.
Sim, cantar não é tão somente uma milenar
forma de manifestação artística. Ensinam os especialistas que pode curar
inumeráveis males quando praticado com regularidade.
Veja do que esta atividade é capaz:
·
acentua a sensação de bem estar;
·
equilibra o sistema neurovegetativo;
·
reforça a atividade dos nervos parassimpáticos,
responsáveis pelo relaxamento do corpo;
·
induz à harmonia psíquica;
·
fortalece o sistema imunológico;
·
fortalece a respiração abdominal.
A respiração abdominal é a que se executa com
profundidade. Este processo de respirar intensamente, colateralmente, massageia
o intestino e alivia o coração.
A respiração vigorosa incrementa o ar que
chega aos pulmões, a circulação sanguínea é intensificada trazendo benefícios
para a memória e a concentração.
Portanto, cante. É uma forma saudável e
sublime de revigorar a voz.
Fazer teatro: uma divina ação
Não há nenhum exagero aqui. Fazer teatro é uma
ação divina. Foi assim que a Grécia antiga fez originar essa atividade humana:
inspirando-se nas divindades helênicas e a elas prestando homenagem e
reverência.
Como o teatro é o centro por excelência das
representações, os atores são confrontados diariamente com laboratórios e exercícios
objetivando qualificar todo o processo de emissão vocal: romper a timidez e
fortalecer os sistemas que compõem o corpo humano, destacando o respiratório e
o vocal.
Sem dúvidas, assim procedendo o leitor terá diante
de si a real possibilidade de adentrar o universo dos que conseguem emprestar à
voz força, eloquência, harmonia e expressividade.
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