“Gentileza gera gentileza.” A mensagem do
poeta popular José Datrino (1917-1996), que completaria 103 anos em 2020, ganha
significado especial em tempos de intolerância política presente tanto em
discussões nas ruas quanto em redes sociais. O "profeta" que ganhou o
apelido de Gentileza deixou uma verdadeira obra escrita nas ruas do Rio Janeiro
(RJ), com apelos que vão além da cordialidade entre as pessoas.
No ano do
centenário do artista, pesquisadores que ajudaram na preservação de seu
trabalho ressaltam que os versos estão carregados de crítica ao modo de vida
contemporâneo.
Para o
professor Leonardo Guelman, do Departamento de Arte da Universidade Federal
Fluminense (UFF), o maior legado de Gentileza foi ter deixado uma
mensagem que chama à solidariedade. “Ele faz esse chamado para pensar de que
maneira nós podemos ser mais solidários enquanto sociedade e não ficarmos
suscetíveis ao individualismo alimentado pela cultura do consumo”, avalia.
Guelman é
o idealizador e coordenador do Projeto Rio com Gentileza, que promoveu a
restauração das obras do artista em 2000 e 2010. O “livro urbano” de Gentileza
é formado por 56 páginas em concreto localizadas embaixo do viaduto do Caju, na
Avenida Rio Branco, região central da capital fluminense.
As
mensagens foram escritas com tinta e pincel por Gentileza, no período de quase
cinco anos durante a década de 1980. “Ele vai nos apontar sua leitura de mundo
pelo viés da cultura popular e no artesanato da escrita, uma linguagem muito
própria para veicular sua mensagem enquanto oralidade e escrita”, aponta
Guelman.
O
movimento pela revitalização da obra de Gentileza foi apoiado por diversos
artistas como Joãosinho Trinta, que dedicou ao profeta o enredo da Grande Rio
no Carnaval de 2001, “Gentileza, o profeta do fogo”, e a cantora Marisa Monte,
que gravou uma música em homenagem ao profeta em seu disco Memórias, Crônicas e
Declarações de Amor (2000).
Filmes
Para o
documentarista Dado Amaral, que produziu dois filmes sobre Datrino - Gentileza
(1994) e Por Gentileza (2002) -, a obra do poeta popular continua viva.
Ele
considera, porém, que a apropriação da tipologia e o que classifica como “uso
indevido das mensagens” provocam um esvaziamento do sentido filosófico e ético
proposto pelo profeta e acabam por difundir uma leitura rasa de sua obra. “Elas
[mensagens] condenam o capitalismo, o lucro a qualquer preço e o amor pelo
dinheiro. Essa parte da mensagem é muito incômoda no momento em que o
capitalismo tem hegemonia irrestrita no mundo”, avalia.
Amaral
conta que conheceu Gentileza por acaso, quando foi a uma passeata pelo
impeachment de Fernando Collor, em 1992, no Rio de Janeiro. Na Avenida Rio
Branco, Amaral subiu em um ponto elevado para observar a multidão que se
concentrava no centro da capital carioca, quando avistou “uma figura
extraordinária”.
Em meio à
multidão, Gentileza se destacava pela vestimenta característica, a túnica
branca, e segurava uma placa colorida com algumas de suas mensagens escritas à
mão. “Que personagem, que figura, parei do lado dele e fiquei olhando, quase
não prestava atenção na manifestação”, lembra. Desse encontro surgiu a ideia de
fazer o primeiro documentário, lançado em 1994, em parceria com o
cineasta Vinícius Reis.
No ano
seguinte, preparou o argumento para um novo filme sobre Gentileza, mas não
conseguiu apoio para o projeto. Em 1996, Gentileza morreu, mas Amaral manteve o
projeto do filme e, em 2002, filmou o documentário “Por Gentileza”.
Biografia
Nascido em 11 de abril de 1917 em Cafelândia, interior de São Paulo, José Datrino passou a ser conhecido como Profeta Gentileza em 1961, após um incêndio ocorrido em 17 de dezembro daquele ano em um circo em Niterói. Datrino diz ter ouvido vozes que revelaram a ele sua missão.
Nascido em 11 de abril de 1917 em Cafelândia, interior de São Paulo, José Datrino passou a ser conhecido como Profeta Gentileza em 1961, após um incêndio ocorrido em 17 de dezembro daquele ano em um circo em Niterói. Datrino diz ter ouvido vozes que revelaram a ele sua missão.
Versos nas paredes: Conheça algumas das mensagens de Gentileza
"Capital
Capeta vem
de origem capital.
É o vil metal.
Faz o diabo, demônio marginal"
É o vil metal.
Faz o diabo, demônio marginal"
"Dinheiro
O dinheiro
destrói a mente da humanidade. O dinheiro coloca a humanidade surda. O dinheiro
destrói o amor. O dinheiro cega. O dinheiro mata"
"Liberdade
A
verdadeira gentileza é perfeito conforto e liberdade. Ela
simplesmente consiste em tratar os outros exatamente como você adoraria ser
tratado"
"Inimigo
Não tente
procurar um inimigo, muitas vezes você é o seu próprio inimigo"
"Ofensa impensada
Nunca ofendas verbalmente o teu inimigo. Dói muito mais uma gentileza vociferada do que uma ofensa impensada"
"Surpresas
Onde
houver gentileza, haverá sempre um gesto que surpreenda. Amor se esconde
nas coisas pequenas. E a amizade, nas atitudes que refletem maiores que a
presença"
Por Leandro Melito - Repórter da
Agência Brasil
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O livro
A peça teatral enfoca duas das mais importantes personalidades do movimento artístico mundial, o poeta e dramaturgo Maiakovski e o diretor teatral Meyerhold, ambos russos.
Entusiastas de primeira hora da revolução de 1917 pouco tempo depois se tornariam grandes vítimas dela, devorados que foram pela burocracia e pela repressão soviética.
Maiakovski passou para a história como o ‘poeta da revolução’; Meyerhold como o encenador criador do grotesco cênico e da Biomecânica, escola teatral que sorveu as ideias produtivistas de Taylor, a teoria de reflexos condicionados de Pavlov e os estudos das relações corpo-emoções de Willian James.
Filiados ao Partido Bolchevique, Maiakovski e Meyerhold montam, em 1918, em comemoração ao primeiro ano da revolução soviética, a peça teatral “Mistério Bufo”.
A partir daí mergulham no materialismo dialético e no realismo socialista promovendo um teatro maniqueísta de propaganda política: o bem numa extremidade, o mal na outra; os revolucionários de um lado e os exploradores do outro, bem ao sabor da nova ordem burocrática.
Mas quando abrem mão do teatro panfletário, simplista e maniqueísta, passam a ser acusados pelo establishment comunista de produzir uma arte “incompreensível para as massas”, e de cultuar em suas montagens “aspectos místicos, eróticos e de espírito associal”
A peça teatral enfoca duas das mais importantes personalidades do movimento artístico mundial, o poeta e dramaturgo Maiakovski e o diretor teatral Meyerhold, ambos russos.
Entusiastas de primeira hora da revolução de 1917 pouco tempo depois se tornariam grandes vítimas dela, devorados que foram pela burocracia e pela repressão soviética.
Maiakovski passou para a história como o ‘poeta da revolução’; Meyerhold como o encenador criador do grotesco cênico e da Biomecânica, escola teatral que sorveu as ideias produtivistas de Taylor, a teoria de reflexos condicionados de Pavlov e os estudos das relações corpo-emoções de Willian James.
Filiados ao Partido Bolchevique, Maiakovski e Meyerhold montam, em 1918, em comemoração ao primeiro ano da revolução soviética, a peça teatral “Mistério Bufo”.
A partir daí mergulham no materialismo dialético e no realismo socialista promovendo um teatro maniqueísta de propaganda política: o bem numa extremidade, o mal na outra; os revolucionários de um lado e os exploradores do outro, bem ao sabor da nova ordem burocrática.
Mas quando abrem mão do teatro panfletário, simplista e maniqueísta, passam a ser acusados pelo establishment comunista de produzir uma arte “incompreensível para as massas”, e de cultuar em suas montagens “aspectos místicos, eróticos e de espírito associal”
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