quarta-feira, 30 de junho de 2021

Biólogo recebe 'Oscar verde' por trabalho na preservação de botos ameaçados em Rio Grande

Biólogo Pedro Fruet trabalha na preservação de botos no Sul do RS — Foto: WFN/Divulgação

Em 2021, seis cientistas foram reconhecidos pela entidade internacional Whitley Fund for Nature. População de 90 botos na Região Sul do RS é ameaçada pela pesca. Iniciativa busca achar solução para reduzir mortalidade dos animais.

 

O biólogo brasileiro Pedro Fruet foi um dos seis vencedores do Prêmio Whitley 2021, distinção conhecida como "Oscar verde", entregue pela entidade britânica Whitley Fund for Nature (WFN) em maio. O cientista atua na preservação da população de botos ameaçados pela pesca em Rio Grande, na Região Sul do Rio Grande do Sul.

O prêmio de 40 mil libras, o equivalente a cerca de R$ 300 mil, será destinado a ações de conservação dos cetáceos da região. O especialista afirma que há aproximadamente 90 botos vivendo nas águas do Sul do RS. A meta do projeto é reduzir a mortalidade dos animais em 40% nos próximos cinco anos.

"Esse prêmio está coroando um trabalho. Faz 20 anos que eu estudo esses animais, eu dedico a minha vida a isso. Mas, na verdade, o projeto dos botos teve início em 1974", explica.

Fruet é formado em biologia, com mestrado e doutorado na Universidade Federal do Rio Grande (FURG) na área de oceanografia biológica. Pesquisador há 20 anos, o cientista integra um projeto de preservação, iniciado em 1974 no Museu Oceanográfico da FURG, e é sócio-fundador da ONG Kaosa. Além disso, o biólogo é secretário do Meio Ambiente do município gaúcho.

O prêmio seleciona seis conservacionistas do Hemisfério Sul, financiando os projetos e dando treinamento para os cientistas. É a décima vez que o Brasil é reconhecido pela WFN.

"Vamos continuar monitorando a população de botos para entender como ela responde a esses estímulos e impactos humanos ao longo do tempo", diz.

Preservação

No monitoramento dos golfinhos, o grupo percebeu que a morte acidental de botos em redes de pesca estava aumentando na região. Para tentar conter os óbitos, foi criada uma zona de preservação. Entretanto, segundo Fruet, a iniciativa não teve resultados, os animais seguiam morrendo nas redes.

"Os golfinhos continuavam morrendo e o pescador estava sendo preso e perseguido pelos órgãos de fiscalização, que estavam fazendo o trabalho deles. Estava se colocando energia e dinheiro do poder público nisso e, no final das contas, o problema persistia", relata.

Para resolver esse problema, Fruet propôs uma abordagem social do problema, integrando os pescadores na preservação dos botos. Com a verba do projeto, Pedro Fruet pretende capacitar profissionais para atuação na fiscalização.

"Nós vamos fazer um processo participativo, tentar buscar uma solução para acalmar os ânimos e ver se a gente consegue chegar no objetivo final, que é reduzir a mortalidade", diz.

Além disso, a iniciativa pretende fazer um mapeamento da população de botos, coletando dados e analisando o comportamento demográfico dos animais.

"A gente vai sair de barco, fazer esse monitoramento. A gente conhece todos os bichos aqui, pelas marcas nas nadadeiras, consegue estimar o tamanho da população, quantos filhotes tem por ano, quando é que uma fêmea começa a reproduzir", explica.

Botos no RS

De acordo com Pedro Fruet, o Rio Grande do Sul tem uma alta população de botos, principalmente no estuário da Lagoa dos Patos.

Os botos também podem ser vistos em Tramandaí e Torres, no Litoral Norte. "Eles ajudam os pescadores artesanais a pegar tainha, eles têm um comportamento espetacular", comenta.

No continente, cerca de 600 animais se concentram próximos da costa do Atlântico entre o norte de Santa Catarina e a Argentina.

Por Gustavo Chagas, G1 RS


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terça-feira, 29 de junho de 2021

IMIGRAÇÃO - O desencanto da juventude

 


Os jovens não têm tempo a perder e cansaram de esperar uma melhora no Brasil que nunca acontece. Sem perspectivas, mais da metade deles está desempregada e 47% pretendem mudar para outro país


Toda uma geração de brasileiros está desencantada com o País, com seu presente e seu futuro. Segundo o diagnóstico do Atlas da Juventude da Fundação Getúlio Vargas (FGV), neste momento, quase metade dos jovens (47%), entre 15 e 29 anos, cansou do Brasil e quer tentar a sorte em outra nação. E não há argumentos que possam convencê-los do contrário. O lugar que costumava exportar uma imagem de alegria para o mundo, hoje, amarga a segunda posição no ranking da infelicidade com 19,8%, só perdendo para a Turquia. O desemprego atinge 14,7% da população e entre os mais jovens esse percentual cresce para 56%. A falta de perspectivas é evidente e no cenário de pandemia tudo fica potencializado num ambiente caótico para planejar a própria vida. Desgostosos, 27% dos jovens brasileiros não estudam e não trabalham e são chamados pejorativamente de “nem-nem”.

Um sentimento de que nenhum esforço basta para se obter sucesso no Brasil domina a mente dos jovens. O estudante de fisioterapia Pedro Lepeltier Bittencourt, 21 anos, pensa assim. Em 2019, ele morou em Gold Coast, na Austrália, e pretende voltar ao país para morar em Sydney. Bittencourt disse que a política e a falta de oportunidades de trabalho são os principais motivos para deixar o País. Ele é contundente ao afirmar que a gestão desastrosa do presidente da República acelerou a tomada de decisão. “Bolsonaro representa tudo que é desagradável e vai contra o que a gente vem aprendendo em torno de igualdade, de respeito, de amor, de valores e de religião”, diz. “Se pelo menos houvesse uma mudança no governo eu poderia pensar em ficar”.

As expectativas de volta à normalidade econômica para o País não causam ânimo. Dados da Organização das Nações Unidas (ONU) exibem a queda de 62% no fluxo de investimento do capital externo, o que representa uma volta à situação de 20 anos atrás. O Brasil caiu da 6ª para a 11ª posição. Segundo o professor de Economia da Unicamp Marcelo Proni não há qualquer previsão de melhora em 2022 e a falta de perspectiva para os jovens é generalizada. Ele afirma ainda que o mercado está dominado pelo subemprego e pela informalidade e que, talvez, somente a partir de 2023 haja uma alteração nesse cenário. “Precisamos de uma mudança da política econômica e de investimentos sociais que gerem empregos”, diz.

O estudante de relações internacionais, Felipe Jukemura, não quer arriscar esperando tanto tempo. Aos 20 anos, ele acaba de conseguir uma vaga para estudar na cidade de Poitiers, na França. Ele só não vai agora por conta das restrições impostas aos brasileiros na Europa. Mas, no ano que vem, ele se muda. Além da questão econômica, Jukemura se incomoda muito com os problemas no meio ambiente e com o desrespeito aos direitos humanos. “O Brasil caminhava para ser vanguarda nesses setores. Era exemplo a ser seguido, mas o atual governo mudou tudo”, afirmou Jukemura. O barbeiro Rodrigo Santos Júnior vislumbra uma vida muito melhor fora do País. Ele morou de setembro de 2019 até março de 2020 na cidade de Familicão, em Portugal, quando foi obrigado a voltar ao Brasil no início da pandemia. Aos 20 anos, ele é um caso fora da curva. Diz que tinha um salário melhor no Brasil do que em Portugal, mas mesmo assim insiste em voltar para a Europa. “Acredito que fora do Brasil tenho como construir uma vida melhor para mim e minha família. A segurança e a economia nos outros países são mais confiáveis”, afirma. O psicólogo Francesco Pellegatta pensa que quando as pessoas perdem a esperança elas tendem a ser mais críticas. “Os jovens tem uma inclinação maior a ficar preocupados pelo próprio futuro”.

Na crise, há uma tendência das pessoas procurarem segurança, explica o psicólogo e doutor em neurociência, Yuri Busin. “A pandemia trouxe uma incerteza que ativou um instinto primitivo nos jovens. Eles veem pessoas com êxito deixarem o País e seguem o exemplo”, afirma. O estudante de engenharia química Vinícius Pinto, 21 anos, vai para Toronto, no Canadá, em setembro e busca segurança. Ele pretende ficar por lá e fazer um curso em administração e negócios. “Lá as pessoas são mais respeitosas. Tudo acontece da maneira certa, sem o jeitinho brasileiro”.

Um dos países preferidos para a aventura de morar no exterior é a Irlanda. A facilidade de conseguir emprego é o principal fator, além das exigências serem menores do que em outros países. Dublin, a capital, é a cidade favorita. Paulo Pereira Filho foi para lá em 2018 e trabalha como entregador de comida por aplicativo. No Brasil, trabalhava como help desk e não conseguia pagar as contas. “No Brasil, 1% das pessoas consegue ter sucesso, não importa o quanto se esforcem”, afirma. A jovem Aline Yoshida, 26 anos, também vive em Dublin. Mudou-se para lá após a vitória de Bolsonaro, em 2018, e não entende porque um País tão rico quanto o Brasil não protege seu povo. Ela conta que o governo irlandês incentivou as pessoas a não trabalharem na pandemia para diminuir o contágio. “Meu sonho é trazer meus pais para viverem comigo. Daqui só vejo o Brasil piorar”, analisa. O presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE), Iago Montalvão, diz que existe um “baixo investimento do governo em educação, ciência e tecnologia”, o que só piora as coisas. Ele lembra que os valores defendidos pelo governo não se afinam com as aspirações da juventude. Mais do que ambição por um futuro melhor, os jovens lutam pela sobrevivência num País triste e desalentado.

Por Eudes Lima, Revista Isto é    


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