terça-feira, 22 de junho de 2021

Turbinas eólicas ameaçam refúgio da arara-azul-de-lear na Bahia, alertam pesquisadores

 


A chegada de um complexo eólico em Canudos, na região da Caatinga baiana, a 400 km de Salvador, tem gerado preocupações entre pesquisadores que temem pelo fim da espécie Arara-azul-de-lear (Anodorhynchus leari).

 

O projeto da empresa Voltalia Energia do Brasil prevê a instalação de 81 turbinas eólicas, sendo 28 na primeira fase e outras 53 no segundo período.

De acordo com o Fundação Biodiversitas, a área que será usada pela empresa é uma das principais rotas das aves que saem em bando ou em pares para se alimentar em horários de pouca visibilidade, como no início da manhã e no fim da tarde. Para a bióloga Glaucia Drummond, superintendente técnica da Fundação Biodiversitas, com a construção do parque eólico haverá perigo de colisão das aves com os aerogeradores promovendo a extinção da espécie, que hoje tem cerca de 1.900 e tem sido classificada como ‘Em perigo’ de extinção, segundo a União Internacional para Conservação da Natureza (IUCN).

– Achamos arriscado o funcionamento de um parque eólico na área de ocorrência das learis. A espécie voa aos pares e em bando, de modo que um único evento de colisão poderá haver a morte de muitos indivíduos e comprometer a viabilidade populacional em pouco tempo, ou seja, extinguir a espécie - afirma Glaucia.

A Biodiversitas adverte que para a permissão da construção do Parque Eólico Canudos, aprovada pelo Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos da Bahia (Inema), a empresa Voltalia não precisou apresentar um licenciamento ambiental completo, se limitando ao processo de forma simplificada. Eles ressaltam a resolução do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), que exige o “Estudo de Impacto Ambiental e Relatório de Impacto Ambiental (EIA/RIMA), além de audiências públicas para os empreendimentos eólicos que estejam localizados áreas de ocorrência de espécies ameaçadas de extinção e áreas de endemismo restrito, conforme listas oficiais.”

De acordo com o Instituto Arara Azul, outro fator que também ameaça a população da arara-azul-de-lear é a captura de indivíduos para abastecer o comércio ilegal de animais silvestres, devido ao seu valor por ser rara e a redução de seu principal item alimentar, o licuri, além da redução de seus alimentos alternativos. Atualmente, a população possui dois sítios que utilizam como dormitório e reprodução: os paredões da Estação Biológica de Canudos (EBC), com 1500 hectares e Estação Ecológica do Raso da Catarina. Para buscarem alimentos, os coquinhos da palmeira licuri, elas podem percorrer cerca de 50 a 70 km.

O outro lado

Procurada pelo O GLOBO, a empresa Voltalia Energia do Brasil informou que o projeto possui todas as licenças necessárias para a fase atual e esclareceu que realizou diversos estudos para avaliação de potenciais impactos na região, com propostas de ações de controle da fauna e flora.

A empresa acrescentou que como parte da aprovação do licenciamento ambiental expedido pelo INEMA foi desenvolvido um Programa de Conservação da Arara-azul-de-lear, coordenado pela bióloga Erica Pacífico para anular, minimizar ou mitigar os possíveis impactos que possam surgir em virtude da instalação do empreendimento.

– Até o momento não existem evidências de que haverá um real impacto da presença do parque eólico na dinâmica populacional das araras – afirma a bióloga Erica Pacífico.

Ainda segundo a Voltalia, estudos foram realizados para um diagnóstico ambiental de toda a área que compreende o projeto da companhia. " Além de avaliações de impactos e reuniões públicas com a comunidade, autoridades locais e estaduais, a empresa desenvolveu um plano de ação para o desenvolvimento socioambiental da região. O plano de ação foi desenvolvido e detalhado no Programa Básico Ambiental, que foi entregue aos órgãos competentes", complementa a empresa em comunicado.

Para evitar riscos, a companhia de energia renovável vai usar uma tecnologia para identificação da aproximação de indivíduos em voo no entorno dos aerogeradores em que possibilitará interromper a operação minimizando o risco de colisão. Além disso, as pás serão pintadas de preto para evitar ainda mais novos acidentes.

O Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos da Bahia não se pronunciou até o fechamento da matéria.

O Globo


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