Total global de pessoas deslocadas e refugiadas aumentou em 4% de 2019 para 2020, segundo relatório da ONU
Em meio a conflitos e perseguições, 82,4 milhões de pessoas estavam vivendo em fuga ao fim de 2020. ONU pede que governos abandonem "políticas egoístas" e ajam para encontrar soluções.
O número de pessoas vivendo como refugiadas, requerentes de refúgio ou
deslocados internos em seus próprios países - após serem forçadas a fugir de
sua regiões devido a perseguições, conflitos, violência e violações dos
direitos humanos - aumentou para 82,4 milhões no ano passado, segundo o último
relatório Global Trends, do Alto Comissariado da ONU para os Refugiados
(Acnur).
O documento, divulgado nesta sexta-feira (18/06), pede uma reversão da
tendência global de aumento dos deslocamentos e fugas, que já dura quase uma
década. Os números cresceram 4% em relação ao total registrado no final de 2019
(79,5 milhões de pessoas).
A ampla maioria dos refugiados em todo o mundo está abrigada em países de
renda média ou baixa que fazem fronteira com regiões em crise. Os países menos
desenvolvidos acolhem 27% de todos os refugiados.
No final do ano passado, havia 20,7 milhões de refugiados sob a tutela do
Acnur, além de 5,7 milhões de palestinos e 3,9 milhões de venezuelanos. Essas
dados tiveram um leve aumento em relação ao ano anterior.
Outros 48 milhões de pessoas foram forçadas a se deslocar dentro de seus
próprios países, enquanto 4,1 milhões estão na condição de requerentes de
refúgio.
Os dados revelam que, apesar da pandemia e de pedidos globais de
cessar-fogo para que governos possam cuidar de doentes e feridos, conflitos
permanecem sendo a maior causa dos deslocamentos.
Por trás de
cada número, um ser humano
O Alto Comissário da ONU para Refugiados, Filippo Grandi, disse que por
trás de cada um desses números está "uma pessoa deslocada de sua casa e
uma história de fuga, desenraizamento e sofrimento". "Cada indivíduo
merece nossa atenção e apoio, não apenas através de ajuda humanitária, mas na
busca de soluções para pôr fim aos seus tormentos."
Grandi afirma que, mesmo com a Convenção de Genebra para os Refugiados, de
1951, e o Pacto Global sobre Refugiados sendo os quadros legais e as
ferramentas para lidar com o problema, "precisamos de vontade política
mais forte para lidar com os conflitos e perseguições que forçam pessoas a
fugir".
Segundo o relatório, mais de 160 países fecharam suas fronteiras durante o
auge da pandemia de covid-19 em 2020, sendo que 99 nações não fizeram exceções
para pessoas que buscam proteção internacional.
Contudo, cada vez mais os países encontram meios de processar os pedidos
de refúgio, ao mesmo tempo em que conseguem conter o avanço da doença. Isso vem
sendo possível com medidas como exames médicos nas fronteiras, certificados de
saúde, imposição de quarentenas temporárias aos recém-chegados, procedimentos
simplificados de registro e audiências por vídeo para os requerentes de
refúgio.
Durante o ano passado, 33,8 mil refugiados receberam suas cidadanias nos
países que os acolheram. Entretanto, dados referentes ao reassentamento - ou
seja, a passagem de migrantes de um primeiro país anfitrião não seguro para um
terceiro país seguro - registraram queda acentuada.
Apenas 34,4 mil pedidos de reassentamento foram aceitos – o número mais
baixo dos últimos 20 anos. Isso se deve a uma significativa diminuição dos
países abertos a receber refugiados, assim como à pandemia.
Grandi sublinhou que os governantes e os que possuem influência sobre as
tomadas de decisões devem "deixar de lado suas diferenças, abandonar
abordagens egoístas em suas políticas e se concentrar em evitar e resolver
conflitos, além de garantir os direitos humanos".
Crianças
nascidas como refugiadas
Segundo o relatório, as crianças são, particularmente, as mais afetadas
pelas crises de deslocamento, especialmente se essa situação se arrastar
durante muitos anos. A ONU calcula que quase 1 milhão de crianças já nasceram
como refugiadas entre 2018 e 2020.
No total, 42% das pessoas forçadas a se deslocarem são meninas e meninos
com idades inferiores a 18 anos. Muitas delas estão sob risco de permanecer no
exílio durante os próximos anos. Algumas, potencialmente, pelo resto de suas
vidas.
O relatório conclui que um dos grandes desafios é assegurar as melhores
condições para as crianças em risco, além daquelas que estão desacompanhadas ou
separadas de suas famílias.
Em torno de 21 mil menores desacompanhados ou separados entraram com
pedidos de refúgio em 2020, em comparação com 25 mil no ano anterior.
Levando-se em conta que o número total de novos pedidos de refúgio caiu em 1
milhão em 2020 devido à pandemia, os dados referentes às crianças ainda são
excepcionalmente altos.
Por Okeri Ngutjinazo, Deutsche
Welle
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