Sempre me chamaram dengosa, manhosa, mas naquele dia me sentia de fato
com um saco de preguiça pendurado às costas. Na realidade era puro arroubo e
êxtase, não cabia de fascínio, gozo e contentamento. É que jamais, em tempo
algum, havia estado em um veículo presidencial. Não que eu fosse uma cadela
qualquer, uma frívola vira lata, dessas que se encontram aos milhares nos
becos, esquinas, grotas, invasões e favelas. Nunca fui pouca coisa. Já havia
experimentado todos os tipos de automóveis, do carro popular aos luxuosos
blindados contra pobreza e bandidagem. Já curti soneca em automóveis
particulares, sindicais, partidários e até – quer saber? - nos de uso
exclusivo, restrito da Câmara Federal. Mas andar em carro presidencial, em
carruagem do poder executivo, objeto do desejo de tantos, jamais poderia
imaginar que tal prazer me fosse dado.
E não é que o destino achou por bem sorrir para os meus costados oferecendo
um tipo de privilégio reservado a uns poucos iluminados?
Mas naquele dia, enquanto escalava o banco do carro presidencial, ia
percebendo a grata satisfação de haver me enganado. Feliz e grato equívoco
embalado por uma realidade que entoava singelos cânticos angelicais, como se
num sonho povoado por fadas madrinhas e querubins. E a prova ia me certificando
eu própria, presencialmente, desfrutando o prazer e o conforto de trafegar num
veículo intangível até mesmo para as mais altas autoridades do país; o que
falar então para os pobres e medíocres mortais - fosse gente, fosse cadela - como
eu?
Em minha estréia como passageira do seletíssimo clube não desfrutava do
esplendor do Lincoln Town Car e nem da elegância aristocrática do Rolls-Royce
Silver Wraith ano 1952. Ainda não era a hora. Mas pressentia, era uma questão
de tempo. Apenas uma questão de tempo e nada mais. Logo estaria senhora de tudo
e de todos. Por enquanto era simplesmente uma van, um utilitário bosta-rala que
fazia às vezes de diligência presidencial. Um utilitário por demais comum e
insípido para compor aquele cenário mágico de filme hollywoodiano. Mas o que de
fato importava era que o veículo - independente de marca, modelo e ano -
integrava a frota oficial da Presidência da República, com brasão, inscrições
oficiais, e tudo o mais que a exclusividade assegurava. Sangue puro. Nenhuma
relevância, portanto, o fato de ser conduzida num furgão dos mais insossos
dentre os disponíveis no mercado. O fundamentalmente importante, de destaque e
relevância, era que eu estava ali, de carne e osso, com todos os pêlos
escovados, laço de fita vermelha no pescoço, sendo conduzida pela carruagem
presidencial. Achei por bem me submeter a uma bateria de beliscões e pequenos
tabefes provando a mim mesma que a realidade estava a prumo e que de forma
alguma a deixaria escapar. Sim, tinha pleno domínio de minhas faculdades
mentais, gozava de minha normalidade canina, meu juízo não me abandonara. Vivia
uma realidade de sultão, não um sonho efêmero, passageiro. Sorvia uma realidade
só permitida aos deuses e seus mensageiros, reis, xeiques, imperadores,
presidentes, proprietários de mega-corporações transnacionais. (Para continuar lendo, clique aqui.)
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Dramaturgo, o autor transferiu para seus contos literários toda a criatividade, intensidade e dramaticidade intrínsecas à arte teatral.
São vinte contos retratando temáticas históricas e contemporâneas que, permeando nosso imaginário e dia a dia, impactam a alma humana em sua inesgotável aspiração por guarida, conforto e respostas.
Os contos:
1. Tiradentes, o mazombo
2. Nossa Senhora e seu dia de cão
3. Sobre o olhar angelical – o dia em que Fidel fuzilou Guevara
4. O lugar de coração partido
5. O santo sudário
6. Quando o homem engole a lua
7. Anos de intensa dor e martírio
8. Toshiko Shinai, a bela samurai nos quilombos do cerrado brasileiro
9. O desterro, a conquista
10. Como se repudia o asco
11. O ladrão de sonhos alheios
12. A máquina de moer carne
13. O santuário dos skinheads
14. A sorte lançada
15. O mensageiro do diabo
16. Michelle ou a Bomba F
17. A dor que nem os espíritos suportam
18. O estupro
19. A hora
20. As camas de cimento nu
OUTRAS OBRAS DO AUTOR QUE O LEITOR ENCONTRA NAS LIVRARIAS amazon.com.br:
São vinte contos retratando temáticas históricas e contemporâneas que, permeando nosso imaginário e dia a dia, impactam a alma humana em sua inesgotável aspiração por guarida, conforto e respostas.
Os contos:
1. Tiradentes, o mazombo
2. Nossa Senhora e seu dia de cão
3. Sobre o olhar angelical – o dia em que Fidel fuzilou Guevara
4. O lugar de coração partido
5. O santo sudário
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11. O ladrão de sonhos alheios
12. A máquina de moer carne
13. O santuário dos skinheads
14. A sorte lançada
15. O mensageiro do diabo
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18. O estupro
19. A hora
20. As camas de cimento nu
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A – LIVROS INFANTO-JUVENIS:
Livro 1. As 100 mais belas fábulas da humanidade
I – Coleção Educação, Teatro & Folclore (peças teatrais infanto-juvenis):
Livro 1. O coronel e o juízo final
Livro 2. A noite do terror
Livro 3. Lobisomem – O homem-lobo roqueiro
Livro 4. Cobra Honorato
Livro 5. A Mula sem cabeça
Livro 6. Iara, a mãe d’água
Livro 7. Caipora
Livro 8. O Negrinho Pastoreiro
Livro 9. Romãozinho, o fogo fátuo
Livro 10. Saci Pererê
II – Coleção Infantil (peças teatrais infanto-juvenis):
Livro 1. Não é melhor saber dividir
Livro 2. Eu compro, tu compras, ele compra
Livro 3. A cigarra e as formiguinhas
Livro 4. A lebre e a tartaruga
Livro 5. O galo e a raposa
Livro 6. Todas as cores são legais
Livro 7. Verde que te quero verde
Livro 8. Como é bom ser diferente
Livro 9. O bruxo Esculfield do castelo de Chamberleim
Livro 10. Quem vai querer a nova escola
III – Coleção Educação, Teatro & Democracia (peças teatrais infanto-juvenis):
Livro 1. A bruxa chegou... pequem a bruxa
Livro 2. Carrossel azul
Livro 3. Quem tenta agradar todo mundo não agrada ninguém
Livro 4. O dia em que o mundo apagou
IV – Coleção Educação, Teatro & História (peças teatrais juvenis):
Livro 1. Todo dia é dia de independência
Livro 2. Todo dia é dia de consciência negra
Livro 3. Todo dia é dia de meio ambiente
Livro 4. Todo dia é dia de índio
V – Coleção Teatro Greco-romano (peças teatrais infanto-juvenis):
Livro 1. O mito de Sísifo
Livro 2. O mito de Midas
Livro 3. A Caixa de Pandora
Livro 4. O mito de Édipo.
B - TEORIA TEATRAL, DRAMATURGIA E OUTROS
VI – ThM-Theater Movement:
Livro 1. O teatro popular de bonecos Mané Beiçudo: 1.385 exercícios e laboratórios de teatro
Livro 2. 555 exercícios, jogos e laboratórios para aprimorar a redação da peça teatral: a arte da dramaturgia
Livro 3. Amor de elefante
Livro 4. Gravata vermelha
Livro 5. Santa Dica de Goiás
Livro 6. Quando o homem engole a lua
Livro 1. As 100 mais belas fábulas da humanidade
I – Coleção Educação, Teatro & Folclore (peças teatrais infanto-juvenis):
Livro 1. O coronel e o juízo final
Livro 2. A noite do terror
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Livro 4. Cobra Honorato
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Livro 9. Romãozinho, o fogo fátuo
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II – Coleção Infantil (peças teatrais infanto-juvenis):
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Livro 6. Todas as cores são legais
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Livro 8. Como é bom ser diferente
Livro 9. O bruxo Esculfield do castelo de Chamberleim
Livro 10. Quem vai querer a nova escola
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Livro 1. Todo dia é dia de independência
Livro 2. Todo dia é dia de consciência negra
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Livro 2. O mito de Midas
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Livro 6. Quando o homem engole a lua