Alexandre Saraiva era superintendente da Polícia Federal no Amazonas até ser afastado do cargo sumariamente por denunciar a cumplicidade do governo com as exportações de madeira ilegal que fomentam o desmatamento.
Transferido pelo governo do presidente Jair Bolsonaro
para um cargo inferior, o policial federal agora recorre à música para pedir
que países ricos parem de comprar madeira de lei tirada ilegalmente da maior
floresta tropical do mundo.
Ele faz suas acusações num clipe da música "SOS
Amazônia", canção de Cristina Saraiva e Simone Guimarães, divulgada no
momento em que países se reúnem na conferência da ONU sobre clima COP26, em
Glasgow.
"Se a terra sangrar, se o fogo arder, não vou
descansar, ninguém vai vender ipê, azulão, tupã, cambará, ninguém vai vender
meu chão, meu lugar", canta ele em no vídeo enquanto imagens mostram
pilhas de troncos em clareiras da floresta prontos para serem transportados por
afluentes do rio Amazonas.
O vídeo também mostra o ex-ministro do Meio Ambiente
brasileiro Ricardo Salles, que renunciou em julho em meio a uma investigação
criminal que analisa se ele obstruiu um inquérito da Polícia Federal sobre
abate ilegal de árvores.
Em abril, Saraiva foi rebaixado a delegado em Volta
Redonda, a millares de quilômetros da Amazônia por ter enviado uma
notícia-crime ao STF contra Salles relacionada ao comércio ilegal de madeira.
Agora, Saraiva pede que a União Europeia endureça as
regulações sobre a entrada de madeira ilegal. Ele disse que a Europa não está
conseguindo flagrar documentos fraudulentos sobre a origem da madeira
brasileira.
A UE é a principal compradora de madeira ilegal da
Amazônia devido à leniência no cumprimento da lei, disse ele, acrescentando que
a procura atrai organizações criminosas perigosas à exploração de um mercado
estimado pela Interpol em 152 bilhões de dólares por ano.
Isto exige uma auditoria melhor dos documentos de
exportação de madeira brasileira, explicou Saraiva, que estima que 90% deles
são forjados para ocultar a origem clandestina. Ele também pediu o
fortalecimento das agências ambientais que Bolsonaro priva de fundos e
enfraquece enquanto pressiona por mais mineração e agricultura comerciais na
região amazônica.
"A música é uma ferramenta e um meio de
comunicação, e não resta dúvida da responsabilidade do Brasil na preservação da
Amazônia, mas existe um mercado ilegal que fomenta as exportações
ilegais."
"A Amazônia é nossa, é brasileira", opinou
Saraiva, repetindo a defesa frequente de Bolsonaro da soberania nacional quando
refuta as críticas europeias às suas políticas ambientais.
"Mas a obrigação de preservar a Amazônia também é
nossa", acrescentou Saraiva. "E a comunidade internacional precisa
fazer sua parte e parar de comprar a madeira ilegal do Brasil."
Anthony Boadle, Reuters
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