Foi no papado de Clemente VIII que Giordano Bruno foi executado. Foi este mesmo papa quem liberou a comercialização e o consumo do café na Europa, até então uma bebida proibida e excomungada. Em uma das passagens da peça, quando se discute a partilha do produto da corrupção, um dos personagens assim se manifesta:
"(...) Farnésio: Sim, meu caro, sem dúvidas, seria o seu fim. Porque eu contaria que, apesar do santo padre ter liberado o consumo da bebida maometana em toda a Europa, apesar da comercialização do café ter sido liberada pela Santa Sé, apesar da bebida não mais ser proibida aos cristãos, o dedicadíssimo Giovanni Archetti continua se valendo da antiga proibição para impor barreiras sobre barreiras burocráticas, inventando papelório, rotinas, fluxos, linhas de autoridade e subordinação tão somente para entravar e dificultar. A antiga cantilena de criar dificuldades para vender facilidades (...)"
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Um passeio por três séculos de história "a bordo" de uma xícara de café
Da África Central aos países árabes, da Europa à América Latina,
passando pela Ásia, o café tem espaço privilegiado no mundo há mais de três
séculos, um passeio pela história que uma exposição em Marselha tenta revelar.
Nasceu
no século XIII nas montanhas da Etiópia, na região de Kaffa - que lhe deu nome
-, não demorou a passar por Egito e Império Otomano e, daí, a partir do século
XVIII, para o resto dos continentes.
O que
tem esta bebida, de semente tropical e gosto meio amargo, que monopoliza
paladares e perfuma os restaurantes?
É
exatamente o que procura responder a exposição "Café In" no Museu das
Civilizações da Europa e do Mediterrâneo (MuCEM) de Marselha, uma homenagem a
este grão que ficará aberta ao público até o dia 23 de janeiro de 2017.
Escritor
e jornalista, Jean-Michel Djian, curador geral da "Café In", foi
abordado pela direção do MuCEM para que "imaginasse uma exposição".
"Sou um apaixonado pelo café e conheço bem a Etiópia, a pátria do
café", contou Djian à Agência Efe.
O
resultado: 400 obras de fotógrafos, artistas plásticos, intelectuais,
antropólogos, músicos e escritores que, à sua maneira, abordam o tema do café
como uma tendência em crescimento.
A
exposição forma uma compilação na qual estão incluídas fotografias do
brasileiro Sebastião Salgado (1944-presente), textos do escritor francês Honoré
Balzac (1799-1850), partituras do compositor alemão Johann Sebastian Bach
(1685-1750), uma escultura do artista cubano Roberto Fabelo (1950-presente),
entre outros.
Nela
percorre-se a trajetória do café, desde suas origens africanas, passando por
seu legado colonial na América Latina, até a enorme produção e consumo atual.
O
trabalho não deixa de fora as propriedades medicinais atribuídas à bebida e até
a cultura da "cafeomancia", a arte de prever o futuro através da
borra do café.
"Muito
se bebe, mas pouco se conhece o café". Assim confirmou Djian ao ressaltar:
"Idolatramos o café, bebemos 2,6 bilhões de xícaras de café por ano e não
sabemos por que bebemos".
Com
seu aroma reconfortante e seus efeitos energéticos, são consumidas sete milhões
de toneladas de café anualmente no mundo.
Um
fenômeno explicado pelos nove quilos de café consumidos por ano, em média,
pelos habitantes de países como Finlândia, Dinamarca e Noruega, principais
consumidores do produto no mundo.
Sobre
a produção comercial de café, segundo a exposição, o peso recai sobre Etiópia,
Indonésia e Colômbia, seguidos de Vietnã e Brasil. Enquanto isso, países como
Peru e México se destacam no cultivo do café ecológico.
Se
ficaram dúvidas, os números: o café, em suas duas espécies distintas - arábica
e robusta - constitui, em nível mundial, a segunda produção em termos de troca
comercial depois do petróleo, diz Djian, com uma tendência anual em alta de 2,5%.
Apesar
de terem sido ditas há séculos, as palavras do militar e governante francês
Napoleão Bonaparte (1769-1821) continuam tão válidas como nunca: "O café
forte me ressuscita".
Por
Luis De Jesús - EFE
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