Quando partiu de Lisboa em 1807,
fugindo das tropas do exército francês de Napoleão Bonaparte, a Família Real
Portuguesa trouxe para o Brasil, entre outros bens, uma preciosa coleção de
minerais raros. Organizada e classificada no século 18 pelo renomado geólogo e
mineralogista alemão Abraham Gottlob Werner (1749-1817), a coleção é composta
por pedras originárias de várias partes do planeta, incluindo minas europeias
atualmente esgotadas ou fechadas.
Cobiçada por Napoleão, que teria dado
ordens para confiscá-la quando seus soldados invadissem Portugal, a Coleção
Werner veio a se tornar no Brasil o primeiro conjunto científico a integrar o
acervo do Museu Nacional. Parte dessa importante coleção pode ser vista pelo
público em uma exposição temporária inaugurada na tarde de hoje (17) no museu,
localizado na Quinta da Boa Vista, no bairro imperial de São Cristóvão, na zona
norte do Rio, em homenagem ao bicentenário da morte de Werner, considerado o
pai da mineralogia moderna.
São cerca de 60 peças, entre
instrumentos e pedras, que representam a diversidade de minerais que compõem a
coleção, assim como algumas referências da época, como a reprodução de trechos
do catálogo, fichas históricas e uma breve história da coleção.
Uma das peças exibidas na mostra é
uma pedra com cristais de apatita, considerada uma das mais bonitas da coleção
e que, segundo a lenda, foi a que teria despertado o interesse do imperador
francês. Segundo Fabiano Faulstich, pesquisador do Departamento de Geologia e
Paleontologia do Museu Nacional e um dos curadores da mostra, a pedra “é uma
amostra relativamente pequena, mas que conta com cristais muito bonitos e bem
cristalizados de apatita, um fosfato, e que por ser tão bem cristalizado e
transparente foi durante muito tempo descrita como se fosse água marinha que,
como se sabe, é uma gema preciosa”.
História
A coleção foi adquirida pela Coroa
Portuguesa no final do século 18 por intermédio de Antônio de Araújo Azevedo,
primeiro Conde da Barca, junto à Escola de Minas de Freiberg, na Alemanha, da
qual Abraham Werner era a figura mais destacada. O geólogo alemão foi o
precursor do método de identificação dos minerais de forma sistemática, através
das suas propriedades físicas, como: sistema cristalino, cor, traço, brilho,
tipo de clivagem, fratura e dureza, e sua fama atraiu estudantes de toda a
Europa e até das Américas.
Ao chegar a Portugal, em uma época
turbulenta para o país, a coleção por pouco não foi perdida. Caixas com as
amostras ficaram na alfândega do Porto de Lisboa durante meses sem que ninguém
fosse retirá-las. “Certo dia abriram as caixas para ver o que era e quando
viram que era um monte de pedras decidiram jogá-las no rio, mas Carlos Napion,
um engenheiro militar italiano a serviço da Coroa Portuguesa, ficou sabendo da
história, interveio e evitou que a coleção fosse perdida”, contou o curador Fabiano
Faulstich.
Trazida para o Brasil durante a fuga
da Família Real portuguesa, a bordo do navio Medusa, a Coleção Werner foi
levada à Academia Real Militar, atual Instituto Militar de Engenharia, onde
serviu para aulas práticas dos alunos desta instituição. Coube ao geólogo
alemão Barão Von Eschwege transferi-la em 1819 para o então Museu Real, hoje
Museu Nacional.
Primeiro museu do Brasil, a
instituição hoje vinculada à Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) é
também a mais antiga do país nas áreas de História Natural e Antropologia.
Sediado a partir de 1892 no Paço de São Cristóvão, o Museu Nacional comemora
200 anos de criação em 2018. O local foi residência oficial da Família Imperial
até 1889.
A exposição Minerais da Coleção
Werner pode ser visitada de terça-feira a domingo, das 10h às 17h, e às
segundas-feiras, das 12h às 17h. Os ingressos custam R$ 6 a inteira e R$ 3 a
meia. Em todos os dias, a entrada é gratuita a partir das 16h. Crianças até 5
anos de idade e pessoas com deficiência também têm gratuidade.
Agência
Brasil
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