Rosie é uma robô.
Mais especificamente, uma bot, uma aplicação de computador. Recebeu esse nome
inspirado na faxineira dos Jetsons. Nasceu com intuito parecido: limpar. Em vez
de tapetes, varre bancos de dados públicos para detectar sujeiras
parlamentares. Logo nos primeiros meses, reportou 8.500 situações de uso
suspeito da cota parlamentar, uma quantia de R$ 33 mil a R$ 44 mil de dinheiro
público que cada deputado federal e senador recebe para exercer sua atividade
política - além dos salários e da verba para o gabinete. São notas fiscais de
alimentação, transporte, acomodação e outros gastos que eles entregam à Câmara
dos Deputados e ao Senado para posterior reembolso. Ao vasculhar os dados, o
programa encontrou documentos que registram cervejas em Las Vegas, 13 almoços
em um único dia, 9 quilos consumidos em um restaurante selfservice, R$ 1.500
gastos em bode assado e almoços simultâneos em diferentes regiões: Caxias do
Sul, no Rio Grande do Sul, Rio Branco, no Acre, e Caxias do Sul de novo, tudo
em um intervalo de 15 minutos.
A robô tem posição
de destaque na Operação Serenata de Amor, um projeto de inteligência artificial
concebido por cidadãos, dez especialistas em tecnologia, para fiscalizar a
administração pública. A vocação da Serenata não é ser uma Lava Jato
automatizada, como explica Pedro Vilanova, um dos idealizadores. 'É fazer
milhões de denúncias de poucos reais, não uma denúncia de milhões de reais',
disse em palestra no Wired Festival Brasil, realizado pelas Edições Globo Condé
Nast e por O Globo no Rio de Janeiro em 1o e 2 de dezembro. A Câmara dos
Deputados recebe 20 mil pedidos de reembolso por mês dos 513 parlamentares.
Quem os confere são os próprios políticos. Em 2016, 3 milhões de notas fiscais
geraram R$ 150 milhões em reembolsos. Diante da abundância de dados e da falta
de transparência, a Operação Serenata decidiu transformar leis em código. Após
levantadas as suspeitas certas, deputados devolveram dinheiro, mesmo que
quantias ínfimas, como R$ 18 em cerveja consumida em Las Vegas.
Um dia, Vilanova
recebeu uma ligação. Era uma chamada da Câmara. Ao chegar a uma sala com uma
equipe de quatro servidores, diz ter ouvido: 'Pedro, a gente recebe 600
denúncias em um ano. Você mandou isso em uma semana'. Explicou: 'Nada contra
sua equipe, mas temos um robô e ele é mais rápido'. Rosie começou a ficar
popular (talvez não tanto dentro do Congresso). Passou a ter presença nas redes
sociais e ganhou uma conta oficial no Twitter, onde publica cada irregularidade
que encontra e menciona o perfil oficial do congressista envolvido. Também foi
parar no horário nobre da TV. Depois disso, a equipe da Serenata recebeu 300
pedidos de análise de prefeituras. A exposição pública de Rosie aumentou a
eficiência do trabalho. 'O deputado vê o tuíte, paga o que deve, tira uma foto
e responde: Rose, pelo amor de Deus, eu já devolvi!', brinca Vilanova.
O Brasil está em 7º
lugar num ranking internacional sobre disponibilidade de dados públicos - uma
bela colocação. Também tem, segundo um estudo recente do Fórum Econômico
Mundial, um dos piores índices de confiança em políticos do mundo. Criar um
modelo matemático que identifique inconsistências no modo como parlamentares
usam verba pública, portanto, é certeza de resultados positivos. A robô acerta
em 89% das vezes.
A família de agentes digitais a que Rosie
pertence vem crescendo. Há vários tipos: chatbots (mensageiros que aprendem a
dialogar com humanos a partir de inteligência artificial), social bots (que
interagem a partir de perfis em redes sociais) e bots políticos, hoje
estigmatizados de forma negativa. Foram associados à geração automática de
conteúdo falso, impulsionada por ideologia ou tática eleitoral. Em 2014, 10% da
discussão na internet sobre a disputa entre os candidatos Dilma Rousseff e
Aécio Neves era gerada por robôs, segundo a Fundação Getulio Vargas. Donald
Trump, cuja eleição deu destaque a termos como 'fake news' e 'pós-verdade',
conversou algumas vezes com uma fã de nome Nicole. Há suspeita de que o
interlocutor do presidente seja um robô, não uma eleitora. Mas nem todo bot
político é um troll ou radical. Além de Rosie, há Alice, criada por Matheus de
Rezende, de 35 anos, e usada pela Controladoria-Geral da União (CGU) e pelo
Tribunal de Contas da União (TCU) para encontrar indícios de irregularidades em
editais e atas de pregões. Todos os dias, Alice processa informações de
centenas de documentos e envia mensagens aos auditores sobre contratos
suspeitos. Entre seus maiores feitos, levou o TCU a intervir em um edital para
a conservação de uma estrada em Goiás, com erros. Salvou R$ 40 milhões com a
correção.
'Ai meus
algoritmos. Não consegui entender o que você disse' é a resposta de Beta,
apelido de Betânia, robô feminista que está no Messenger do Facebook, diante de
uma mensagem com coraçãozinho. É conhecida pelo ativismo bem-humorado. Nasceu
neste ano (sob o signo de Touro, conta uma das criadoras, do coletivo feminista
Nossas) e conversa com 45 mil usuários da rede social, sendo 80% mulheres.
Engaja-se em pautas relacionadas a direitos humanos. Na semana passada, enviou
mensagens a todas as mulheres amigas com o aviso de que seria votada a Proposta
de Emenda Constitucional 181, que, entre outros casos, criminaliza o aborto
mesmo em casos de estupro. Reuniu milhares de assinaturas de repúdio. Durante a
campanha, cada deputado que analisava o texto recebeu 22 mil e-mails.
Além de
monitoramento legislativo, Beta está sempre disponível no chat para tirar
dúvidas sobre abuso sexual e questões de gênero. Foi concebida com algumas
qualidades. 'É agregadora, descontraída e irônica', diz Laura Moliniari, de 24
anos, uma das criadoras. Apesar da construção minuciosa de personalidade, a ideia
não é fingir que Beta é uma mulher. Rosie, Alice e Beta são criaturas digitais,
aliadas dos interessados em tornar a política mais transparente e humana. Com
ajuda robótica.
Por PAULA SOPRANA, COM DANIELA SIMÕES, na Época online
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A arte de escrever bem
Escrever é uma necessidade vital, um fundamento sem o qual a comunicação perde em substância.
Os desafios do dia a dia exigem intensa troca de mensagens, seja nas redes sociais, seja nas corporativas: relacionamentos pessoais, correio eletrônico, elaboração de projetos e relatórios, participação em concursos e processos seletivos, negociações empresariais, tratados corporativos, convenções políticas, projetos literários... Tarefas que se tornam triviais, textos que se tornam mais adequados e elegantes quando as técnicas para a elaboração da redação criativa se encontram sob inteiro domínio. E não é só. Escrever está umbilicalmente vinculado à qualidade de vida, à saúde, ao bem-estar.
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