quinta-feira, 12 de janeiro de 2017

No limite da barbárie


Enquanto o mundo acompanha estarrecido a sequência de chacinas nos presídios do Amazonas e Roraima, com 99 assassinatos, de onde saem imagens indescritíveis de corpos carbonizados, decapitados, esquartejados e corações arrancados, dentro do Brasil as autoridades voltam a debater tardiamente a situação, propondo as mesmas fórmulas já experimentadas em outros motins sangrentos, que nunca deram certo: investir em construção de prédios, mesmo sabendo que nunca haverá prisões suficientes para atendar à expansiva demanda de crimes dentro e fora das cadeias.
Fala-se em investir em um sistema de “ inteligência” integrado entre estados e o governo federal, num claro reconhecimento de que a bandidagem anda a distâncias estelares, comparadas com a lerdeza e omissão do Estado Brasileiro. Vale indagar: até quando o aparato estatal continuará incapaz de impedir* o domínio das penitenciárias pelas facções criminosas? Há quanto tempo se discute meios tecnológicos de bloquear ligações de celulares de dentro dos presídios? E por que as penitenciárias servem de paiol de annamentos e ferramentas da bandidagem?
Existe esse universo indecifrável da criminalidade dentro e fora das prisões, onde faltam espaço, dignidade e cumprimento da lei, e outro espantoso dentro do próprio Judiciário, com suas incontroláveis regalias e privilégios. Mesmo na crise, a farra da gastança não tem limite. Reportagem da Folha de S. Paulo de ontem revela que os magistrados brasileiros não economizam na hora de viajar ao exterior. De 2013 a 2015, os custos dos tribunais superiores com voos internacionais foram de R$ 3 milhões por ano, em média, destacando-se o caso de uma só viagem, com desembolso de R$ 55 mil no bilhete de classe executiva para Walton Alencar, do TCU.
O TCU não é Judiciário, mas acompanha em salários, privilégios e regalias o que ocorre no Poder da Justiça, que consumiu, só em 2015, R$ 4 milhões em diárias de magistrados. Talvez coibindo esses disparates e não apenas discutindo as tragédias, o Judiciário teria muito mais a contribuir com medidas que pacifiquem o caótico sistema carcerário, onde até juizes criminais temem vistoriar e conhecer de fato o que se passa lá dentro. O que nada resolve é o jogo de empurrar de um poder para o outr o e cada esfera de governo tentando culpar a outra pelas tragédias anunciadas, que escancaram as entranhas do país já tão desacreditado.

O Imperial (MA)
_____________
Quais as semelhanças entre a corrupção no império russo de 1.800 e a verificada no Brasil atual? Como Nicolai Gogol, o maior escritor russo, tratou a questão? Para saber mais, clique aqui
Para comprar o livro, clique aqui.