O cineasta Zózimo Bulbul, que completaria 80 anos em 2017 e dá nome ao festival, é homenageado no Encontro de Cinema NegroFernando Frazão/Arquivo/Agência Brasil |
O eletrizante Hear Me Move (Ouça-me dançar, em tradução livre), primeiro filme sul-africano de dança, do diretor Scottnes Smith, abre hoje (30), às 19h, a 10º edição do Encontro de Cinema Negro Zózimo Bulbul – Brasil, África e Caribe, no Rio de Janeiro.
O longa-metragem, de 2015, conta a história do
filho de um famoso dançarino de rua que tenta descobrir as razões por trás da
morte do pai. O filme rodou importantes festivais, como os de Toronto, no
Canadá, e Cannes, na França, com uma trilha sonora inebriante e é a aposta da
primeira noite do festival.
O Encontro de Cinema Negro Zózimo Bulbul vai
até 9 de setembro, trazendo em sua programação, que este ano homenageia o
fundador do festival – Zózimo Bulbul, morto em 2013 – mais de 80 produções,
sendo boa parte estrangeira, vindas do Senegal, Mali, Nigéria, Gana e de Cuba,
por exemplo. Haverá produções consagradas e trabalhos de jovens revelações.
“Na
última edição, tivemos 32 filmes brasileiros selecionados, de um total de 55
inscrições totais, esse ano, tivemos 66, em um universo de 98. É um salto de
100%”, diz o curador e diretor premiado, Joel Zito Araújo, salientando o
caráter afirmativo do festival. Ele atribui o aumento de realizadores negros no
Brasil a políticas de cotas raciais nas universidades e ao crescimento do
movimento hip hop nas periferias “que aceleraram o processo”.
Outro
destaque internacional da mostra vem da Inglaterra. O documentário Generation Revolution (Geração Revolução,
em tradução livre, 2016) é sobre jovens ativistas negros e latinos que vivem em
Londres e se posicionam contrariamente a políticas de austeridade, a pobreza e
a violência policial. O filme chama a atenção para a capacidade de organização
dos jovens, além do compromisso deles com a igualdade de gênero.
Referência
no Brasil e no mundo, o Encontro de Cinema Negro pretende fortalecer a
identidade negra de maneira não estereotipada, favorecer a troca de
experiências, negócios e o diálogo com festivais pelo mundo. Para isso, estarão
presentes os curadores do Festival de Ecrans Noir, de Camarões, e o
secretário-geral da Federação de Cineastas Pan-africanos, Cheick Oumar Sissoko,
um dos mais premiados e reconhecidos cineastas do Mali. O evento é também uma
janela de exibição para produções de destaque que não chegam facilmente ao
público.
Uma
novidade desta edição é a mostra de filmes infantis que ocorre amanhã (31) e
sábado (2). As salas do Cinema Odeon, centro, vão exibir o consagrado desenho
animado Nana e Nilo e o Tempo de Brincar, de Sandro Lopes, além
de Òrun ÀiyÉ. Este último, de Jamile Coelho e Cíntia Maria,
dublado por Carlinhos Brown, apresenta o mito de criação do universo narrado
pelos orixás. Ainda na programação para crianças, El
Reflexo, da sergipana Everlane Moraes, que estudou na Escuela
Internacional de Cinema y TV, de Cuba, é um dos filmes em espanhol.
Estreias
Entre
os destaques nacionais estão as estreias do primeiro episódio da série Fé Menina,
do Coletivo Mulheres de Pedra, que será exibido hoje, na abertura, e o aguardado
documentário Tia Ciata, de Mariana Campos e Raquel
Beatriz, em exibição amanhã (31), às 21h. O filme sobre Tia Ciata traz uma
perspectiva feminina sobre a baiana batizada Hilária Batista de Almeida, uma
das figuras mais influentes para o surgimento do samba, no Rio, no século 19.
Haverá uma sessão especial do longa na quarta-feira (6), às 14h, no Centro
Federal de Educação Tecnológica (Cefet), no Maracanã.
Para
destacar o protagonismo das mulheres negras no audiovisual, será exibido o
curta Rainha(2016), de Sabrina Fidalgo, vencedor do Festival
Internacional de Curtas do Rio de Janeiro – Curta Cinema, em novembro passado.
Em preto e branco, o filme narra a jornada de uma jovem para se tornar rainha
de bateria em sua comunidade. A realizadora estudou na Escola de TV e Cinema de
Munique, na Alemanha, e dirige a própria produtora.
“O
filme selecionado, Rainha, é meu sexto curta e é o quarto
filme selecionado para o Encontro”, disse. Ela frisa o papel do festival como
uma importante janela de exibição. “Moramos em um país onde mais da metade da
população brasileira é negra, mas ela não é vista no audiovisual. As produções
ignoram nossa presença seja atrás ou na frente das câmeras”, criticou.
Paralelamente,
na mostra educativa, serão exibidos filmes de sucesso nacional, como os
documentários Raça (2013) de Joel Zito Araújo,
curador do Encontro de Cinema Negro, e Abolição (1988), de Zózimo Bulbul,
o homenageado, sobre os 100 anos da Lei Áurea.
Os
ingressos para as sessões no Cinema Odeon, no centro, custam R$ 6 (inteira) e
R$ 3 (meia) e estarão disponíveis a partir de hoje. A entrada é gratuita no
Centro Cultural Justiça Federal, no centro, e no Museu de Arte do Rio (MAR), na
Praça Mauá. Basta chegar uma hora antes e retirar os bilhetes. A programação
completa você encontra aqui.
Por Isabela Vieira, da Agência Brasil
O livro com a peça teatral Irena Sendler, minha Irena:
A história registra as ações de um grande herói, o espião e membro do Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães, Oskar Schindler, que salvou cerca de 1.200 judeus durante o genocídio perpetrado pelos nazistas. O industrial alemão empregava os judeus em suas fábricas de esmaltes e munições, localizadas na Polónia e na, então, Tchecoslováquia.
Irena Sendler, utilizando-se, tão somente, de sua posição profissional – assistente social do Departamento de Bem-estar Social de Varsóvia – e se valendo de muita coragem, criatividade e altruísmo, conseguiu salvar mais de 2.500 crianças judias.
"O Anjo do Gueto de Varsóvia", como ficou conhecida Irena Sendlerowa, conseguiu salvar milhares de vidas ao convencer famílias cristãs polonesas a esconder, abrigando em seus lares, os pequeninos cujo pecado capital – sob a ótica do führer – consistia em serem filhos de pais judeus.
Período: 2ª Guerra Mundial, Polônia ocupada pela Alemanha nazista. A ideologia de extrema-direita que sistematizou o racismo científico e levou o antissemitismo ao extremo com a Solução Final, implementava a eliminação dos judeus do continente europeu.
A guerra desencadeada pelos nazistas – a maior deflagração do planeta – mobilizou 100 milhões de militares, provocando a maior carnificina já experimentada pela humanidade, entre 50 e 70 milhões de mortes, incluindo a barbárie absoluta, o Holocausto, o genocídio, o assassinato em massa de 6 milhões de judeus.
Este é o contexto que inspirou o autor a escrever a peça teatral “Irena Sendler, minha Irena”.
Para dar sustentação à trama dramática, Antônio Carlos mergulhou fundo na pesquisa histórica, promovendo a vasta investigação que conferiu à peça um realismo que inquieta, suscitando reflexões sobre as razões que levam o homem a entranhar tão exageradamente no infesto, no sinistro, no maléfico. Por outro lado, como se desanuviando o anverso da mesma moeda, destaca personagens da vida real como Irena Sendler, seres que, mesmo diante das adversidades, da brutalidade mais atroz, invariavelmente optam pelo altruísmo, pela caridade, pela luz.
É quando o autor interage a realidade à ficção que desponta o rico e insólito universo com personagens intensos – de complexa construção psicológica - maquinações ardilosas, intrigas e conspirações maquiavélicas, complôs e subterfúgios delineados para brindar o leitor – não com a catarse, o êxtase, o enlevo – e sim com a reflexão crítica e a oxigenação do pensamento.
Dividida em oito atos, a peça traz à tona o processo de desumanização construído pelas diferentes correntes políticas. Sob o regime nazista, Irena Sandler foi presa e torturada – só não executada porque conseguiu fugir. O término da guerra, em 1945, que deveria levar à liberdade, lancinou o “Anjo do Gueto” com novas violências, novas intolerâncias, novas repressões. Um novo autoritarismo dominava a Polônia e o leste Europeu. Tão obscuro e cruel quanto o de Hitler, Heydrich, Goebbels, Hess e Menguele, surgia o sistema que prometia a sociedade igualitária, sem classes sociais, assentada na propriedade comum dos meios de produção. Como a fascista, a ditadura comunista, também, planejava erigir o novo homem, o novo mundo. Além de continuar perseguindo Irena, apagou-a dos livros e da historiografia oficial, situação que só cessaria com o debacle do império vermelho e a ascensão da democracia, na Polônia, em 1989.
Para saber mais, clique aqui.