Meus caros, extraí um
trecho do livro “Irena Sendler, minha Irena”, um diálogo que discorre sobre o
tratamento que Hitler e os nazistas impunham aos portadores de necessidades
especiais. E mais abaixo, uma matéria sobre o festival que exibe 32 filmes
inéditos com histórias sobre deficiência.
“(...)
Anette
Estamos convencidas, eu e Margret, que
estão com pesquisas, fazendo experiências com humanos no hospital...
Anton
Deus do céu.
Anette
Experiências, experiências médicas, experiências
químicas...
Anton
Deus. Onde chegamos?!
Anette
Mais grave, Anton.
Anton
Mais grave?
Anette
Mais grave. Assassinato de crianças...
Anton
Assassinato? De crianças? Não pode,
impossível.
Anette
Crianças com algum tipo de problema
físico ou mental estão sendo assassinadas. Estão traficando órgãos, Anton,
traficando órgãos humanos.
Anton
Experiências, assassinatos de crianças,
tráfico de órgãos... Então é a confirmação, a confirmação da Solução Final,
Anette, a Solução Final de que fala Hitler. O alucinado, o demente está, mesmo,
determinado a levar adiante sua política de extermínio do povo judeu.
Anette
Acontece que a insanidade ultrapassou
todos os limites. Estão vitimando também negros, católicos, opositores,
homossexuais, ciganos, minorias e ...
Anton
E...
Anette
Excepcionais, deficientes, portadores
de necessidades especiais.
Anton
Está dizendo bobagem, mulher. Preste
atenção no que diz.
Anette
Não podemos ignorar os sinais, meu
marido, não vamos fazer isso, não vamos fechar os olhos e fingir que nada está
acontecendo ao nosso redor.
Anton
A Solução Final é o plano deles, dos
nazistas, para exterminar o povo judeu, Anette, o povo judeu. É um absurdo, a
barbárie das barbáries, a repugnância das repugnâncias, a forma mais abjeta da
crueldade, de todo inaceitável, mas, entenda, limita-se ao povo judeu. O ódio,
a cólera dos alemães, está centrada no povo judeu.
(...)”
Festival no
Rio exibe 32 filmes inéditos com histórias sobre deficiência
Realizado a cada dois anos e considerado um dos mais importantes eventos
de inclusão cultural do país, o Assim Vivemos - Festival Internacional
de Filmes sobre Deficiência chega à sua 8ª edição, exibindo de hoje
(16) até o próximo dia 28, no Centro Cultural Banco do Brasil no Rio de Janeiro
(CCBB Rio), 32 filmes de 20 países, entre eles o Brasil. São documentários
inéditos, de curta e média metragem, que contam histórias protagonizadas por
pessoas com diversas deficiências, como síndrome de Down, autismo, paralisia
cerebral, atrofia muscular espinhal, e deficiências física, visual, auditiva e
intelectual.
O relacionamento delicado entre uma garota especial e o universo que a rodeia
é o tema do curta Luiza, de Caio Baú, um dos representantes
brasileiros na mostra. No filme, a sexualidade serve como um fio condutor para
abordar questões como preconceito, relacionamento entre pais e filhos,
superproteção familiar, autonomia, diferenças e amor.
Outros destaques da programação do festival são a produção indiana Eu
sou Jeeja, sobre a líder ativista Jeeja Ghosh, que luta pelos direitos dos
que têm paralisia cerebral na Índia, e Dois Mundos, obra polonesa
que mostra a família de Laura, garota de 12 anos que tem pais surdos. A
superação pelo esporte é o tema de 50 X Rio, filme italiano que
conta a história de Alex Zanardi, ex-campeão de Fórmula Indy que se preparou
para os Jogos Paralímpicos no Rio de Janeiro, em 2016.
“Ao mesmo tempo em que nos leva a refletir sobre aspectos fundamentais
da vida em sociedade e do autoconhecimento, o festival também faz refletir
sobre o nosso país, por meio da comparação com as mais diversas culturas e
sociedades representadas na seleção”, afirmam Lara Pozzobon e Gustavo Acioli,
curadores do evento, em texto sobre a mostra.Eles acrescentam que essa
comparação é sempre reveladora, “principalmente quando descobrimos que somos
mais avançados no que pensávamos que éramos atrasados, e mais atrasados no que
pensávamos que éramos avançados”.
Os Estados Unidos, o Reino Unido, Canadá, a Austrália, Suíça, Itália,
Espanha, Polônia, Bulgária, Finlândia, Espanha, Turquia, Ucrânia, Tailândia, a
Alemanha, Rússia, Índia, Myanmar e a Letônia, além do Brasil, formam a lista dos
países que tiveram produções selecionadas para o festival. Além da exibição de
filmes, a programação do evento conta com quatro debates sobre os temas A visão
e os sentidos da arte; Corpo e movimento; Tecnologia assistiva de ponta e Amor
e relacionamento.
Como não podia deixar de ser, a acessibilidade para todos os públicos é
uma preocupação fundamental dos organizadores do festival. Nesse sentido, o
CCBB Rio oferece as condições mínimas necessárias para o evento, uma vez que
tem sua arquitetura concebida para o acesso de pessoas com mobilidade reduzida
e cadeirantes.
Além disso, o festival oferece audiodescrição em todas as sessões e
catálogos em Braille para pessoas com deficiência visual. Já as pessoas com
deficiência auditiva contam com legendas eletrônicas nos filmes e interpretação
em Libras nos debates.
Desde a primeira edição, em 2003, o CCBB abriga o Assim Vivemos,
que depois do Rio segue para os centros culturais do Banco do Brasil em
Brasília (este ano, de 5 a 17 de setembro) e São Paulo (de 20 de setembro a 1º
de outubro). “Acreditamos que o cinema, seja pelo filme de ficção ou pelo
documentário, tem sido grande ferramenta de conscientização, e o festival tem
contribuído bastante ao transportar o público para as mais diversas realidades
e situações que envolvem a questão da deficiência”, avalia o gerente-geral do
CCBB Rio, Fabio Cunha.
A programação completa está disponível no site www.assimvivemos.com.br . O
CCBB Rio fica na Rua Primeiro de Março, 66, no centro.
Por Paulo Virgilio, da Agência Brasil
Para saber sobre o livro, clique aqui. |