No
final de 2017, tive a oportunidade de fazer a palestra de abertura da semana
acadêmica de Pedagogia de uma faculdade filantrópica de São Paulo. Lá, conheci
Carla, uma estudante que me puxou para um canto no final do evento e
compartilhou como era importante ela estar na faculdade. Há alguns anos atrás, Carla tinha deixado a escola e entrado na lista de
evasão e abandono escolar.
Carla
não estava sozinha nessa realidade, mas se tornou exceção por conseguir voltar
aos estudos. Todos os anos, aproximadamente ¼ dos jovens de 15 a 17 anos não
concluirá uma nova série por falta de engajamento, segundo a pesquisa
“Engajamento Escolar”, da Galeria de Estudos e Avaliação de Iniciativas
Públicas (GESTA). A iniciativa, liderada pela Fundação
Brava e pelo Instituto Ayrton Senna, ainda aponta que a evasão e o abandono têm um custo estimado de R$130 bilhões de reais
por ano – considerando perda de renda,
prejuízos na atividade econômica do país, aumento do crime e violência e de
questões de saúde. Alguns Estados brasileiros chegam a gastar 30% de suas
receitas anuais com reprovação e abandono no Ensino Médio.
Mais pobres têm maior dificuldade de frequentar a escola
O
estudo também ressalta que a probabilidade de frequentar a escola entre jovens
de 15 a 17 anos é bem mais baixa em cenários de jovens de famílias chefiadas
por mulheres negras analfabetas, pobres e residentes na área rural.
Ou
seja, em todos os Estados brasileiros e no Distrito Federal, encontram-se
muitos jovens com menos oportunidades de frequentar a escola na idade certa. Em
Santa Catarina e no Paraná, por exemplo, a proporção é de que apenas 2 em cada
10 jovens com menos oportunidades frequentando o Ensino Médio entre 15 e 17
anos, enquanto 8 em 10 jovens com mais oportunidades frequentam essa mesma
etapa escolar na idade correta.
Em
entrevista para o jornal Valor Econômico, o diretor de educação e de competências
da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), Andreas
Schleicher, defendeu: “Os mais pobres não têm esse estímulo social ao
aprendizado em casa, então a escola tem um papel muito importante” e
complementou reforçando que não podemos mais lidar com a desigualdade na nossa
sociedade somente redistribuindo o dinheiro. Precisamos mexer nas
oportunidades.
Muita gente pequena, em lugares pequenos, fazendo coisas pequenas, pode
mudar o mundo
Em
2013, decidi conhecer mais da realidade educacional brasileira e conhecer
soluções criativas locais que possibilitam que realidades como as citadas acima
sejam combatidas por meio da educação. Decidi sair da área corporativa da
educação básica e iniciar o Caindo no Brasil. Viajei 5 meses de ônibus pelo
país para conhecer iniciativas e educadores que trabalham para uma educação com
mais significado, de maior qualidade e que garantam oportunidades para todos.
Nas
mais variadas cidades que visitei, tive a oportunidade de conhecer educadores
que são empreendedores de necessidade. Gente de todos os tipos que superavam
desafios para que crianças, jovens e adultos tivessem educação de qualidade e
inventavam soluções com os recursos disponíveis para garantir essa
possibilidade. A iniciativa se concretizou no livro Caindo
no Brasil: uma viagem pela diversidade da educação e
hoje é uma plataforma
que apoia soluções que combatem a evasão escolar na Educação Básica.
Caio
Dib