quinta-feira, 5 de abril de 2018

Combater a evasão escolar é trabalhar para um país melhor



No final de 2017, tive a oportunidade de fazer a palestra de abertura da semana acadêmica de Pedagogia de uma faculdade filantrópica de São Paulo. Lá, conheci Carla, uma estudante que me puxou para um canto no final do evento e compartilhou como era importante ela estar na faculdade. Há alguns anos atrás, Carla tinha deixado a escola e entrado na lista de evasão e abandono escolar.

Carla não estava sozinha nessa realidade, mas se tornou exceção por conseguir voltar aos estudos. Todos os anos, aproximadamente ¼ dos jovens de 15 a 17 anos não concluirá uma nova série por falta de engajamento, segundo a pesquisa “Engajamento Escolar”, da Galeria de Estudos e Avaliação de Iniciativas Públicas (GESTA). A iniciativa, liderada pela Fundação Brava e pelo Instituto Ayrton Senna, ainda aponta que a evasão e o abandono têm um custo estimado de R$130 bilhões de reais por ano – considerando perda de renda, prejuízos na atividade econômica do país, aumento do crime e violência e de questões de saúde. Alguns Estados brasileiros chegam a gastar 30% de suas receitas anuais com reprovação e abandono no Ensino Médio.
Mais pobres têm maior dificuldade de frequentar a escola
O estudo também ressalta que a probabilidade de frequentar a escola entre jovens de 15 a 17 anos é bem mais baixa em cenários de jovens de famílias chefiadas por mulheres negras analfabetas, pobres e residentes na área rural.
Ou seja, em todos os Estados brasileiros e no Distrito Federal, encontram-se muitos jovens com menos oportunidades de frequentar a escola na idade certa. Em Santa Catarina e no Paraná, por exemplo, a proporção é de que apenas 2 em cada 10 jovens com menos oportunidades frequentando o Ensino Médio entre 15 e 17 anos, enquanto 8 em 10 jovens com mais oportunidades frequentam essa mesma etapa escolar na idade correta.

Em entrevista para o jornal Valor Econômico, o diretor de educação e de competências da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), Andreas Schleicher, defendeu: “Os mais pobres não têm esse estímulo social ao aprendizado em casa, então a escola tem um papel muito importante” e complementou reforçando que não podemos mais lidar com a desigualdade na nossa sociedade somente redistribuindo o dinheiro. Precisamos mexer nas oportunidades.
Muita gente pequena, em lugares pequenos, fazendo coisas pequenas, pode mudar o mundo
Em 2013, decidi conhecer mais da realidade educacional brasileira e conhecer soluções criativas locais que possibilitam que realidades como as citadas acima sejam combatidas por meio da educação. Decidi sair da área corporativa da educação básica e iniciar o Caindo no Brasil. Viajei 5 meses de ônibus pelo país para conhecer iniciativas e educadores que trabalham para uma educação com mais significado, de maior qualidade e que garantam oportunidades para todos.
Nas mais variadas cidades que visitei, tive a oportunidade de conhecer educadores que são empreendedores de necessidade. Gente de todos os tipos que superavam desafios para que crianças, jovens e adultos tivessem educação de qualidade e inventavam soluções com os recursos disponíveis para garantir essa possibilidade. A iniciativa se concretizou no  livro Caindo no Brasil: uma viagem pela diversidade da educação e hoje é uma plataforma que apoia soluções que combatem a evasão escolar na Educação Básica.

Caio Dib