No Teatro de Bonecos Mané Beiçudo a coluna dorsal do texto dramático é construída sobre uma situação-problema, uma questão definida pela comunidade como grave, nevrálgica, estrutural e que demanda urgente solução.
Definida a coluna dorsal, os atores estruturam o espetáculo teatral com passagens, cenas e provocações que objetivam estimular a participação da platéia. Mais que convidando, é como que, incansavelmente, o público estivesse sendo intimado a participar da ação cênica, a intervir na seqüência da trama, endossando, ratificando ou retificando a condução e a seqüência proposta pelos atores. Mas, atenção para os limites. Esta intimação não deve ter o peso da coação e sim o da construção solidária.
As cenas, passagens e provocações devem ter como referência as estórias, causos, ditados e provérbios presentes no imaginário popular: as brincadeiras de circo, as cantigas de roda, as Advinhas, Parlendas e Travalinguas; as Fábulas e Fórmulas de Escolha, os Desafios, ABC e Repentes, e tudo o mais que se traduza em resgatar nosso patrimônio imaterial.
Os brinquedos eletrônicos, os vídeo games, os blogs, fotologs, orkut’s e a parafernália propiciada pela rede mundial de computadores podem nos reduzir à figura dos clientes robotizados, pasteurizados, estandardizados, globalizados, sem identidade e cultura próprias.
Neste contexto, as antigas brincadeiras, as peladas de rua, o pique esconde, a corrida de saco, a queimada, o carrinho de rolemã, as estórias de assombração, a cultura e os valores imateriais que forjam o espírito público, o ser solidário e fraterno, o respeito e os vínculos de compromisso para com o outro, vão se tornando páginas viradas da história.
Pais preocupam-se com a segurança dos filhos trancando-os em casa, sem atinar que os estão entregando, de mão beijada, para a mediocridade que exala das telas das TV’s, e – pior - submetendo-os à ação da bandidagem que transita livremente na rede, via internet.
Deixamos de ir ao teatro, ao cinema, às exposições e instalações de arte, aos museus; deixamos de visitar os familiares e de freqüentar as casas dos amigos por conta de nossos bairros tomados por um exército de vândalos e marginais. Tornamo-nos prisioneiros em nossos próprios lares.
Mas o fato de permanecermos em casa não tem significado fortalecer os vínculos familiares, retomar as refeições ao redor da mesa, dar continuidade a conversa interrompida na noite anterior. Não. Cada filho faz de seu quarto um espaço indevassável, um bunker intransponível, com sistema de som, aparelho de TV e computador próprios.
Não se trata de empreender um movimento contra a modernidade, contra as inexoráveis transformações que elevam a humanidade a um patamar superior. Trata-se, sim, de manter o controle sobre este processo, de torná-lo compatível com uma qualidade de vida melhor para todos.
Esta é a razão que se encontra na base do Teatro de Bonecos Mané Beiçudo: estudar, pesquisar, resgatar nossos referenciais antropológicos, histórico-culturais, trazendo para o presente nossa memória esquecida.
Um antigo ditado popular alerta que um povo sem passado, sem memória, está predestinado a viver sem a perspectiva do futuro.
Além das fontes tradicionais de pesquisa, livros, documentos pertencentes a bibliotecas e acervos históricos, convêm investir em uma excelente e providencial fonte de pesquisas e coleta de informações: conversas formais e informais com as pessoas mais idosas do bairro, da comunidade. Elas guardam na memória as raízes que vêm de nossos mais remotos antepassados. E que ajudaram a conformar o que os brasileiros têm de identidade.
O texto teatral que emergirá deste processo será uma dramaturgia envolvente, desperta, embasada historicamente, crítica, onírica e, fundamentalmente, divertida. Porque uma das mais relevantes e nobres funções do teatro popular é exatamente a de divertir.
Este artigo está publicado no portal da Associação dos Professores de São Paulo - Aproesp.
Antônio Carlos dos Santos - criador das tecnologias Quasar K+ de Planejamento Estratégico, da metodologia de produção de Teatro Popular de Bonecos Mané Beiçudo, e da tecnologia ThM-Theater Movement.
Definida a coluna dorsal, os atores estruturam o espetáculo teatral com passagens, cenas e provocações que objetivam estimular a participação da platéia. Mais que convidando, é como que, incansavelmente, o público estivesse sendo intimado a participar da ação cênica, a intervir na seqüência da trama, endossando, ratificando ou retificando a condução e a seqüência proposta pelos atores. Mas, atenção para os limites. Esta intimação não deve ter o peso da coação e sim o da construção solidária.
As cenas, passagens e provocações devem ter como referência as estórias, causos, ditados e provérbios presentes no imaginário popular: as brincadeiras de circo, as cantigas de roda, as Advinhas, Parlendas e Travalinguas; as Fábulas e Fórmulas de Escolha, os Desafios, ABC e Repentes, e tudo o mais que se traduza em resgatar nosso patrimônio imaterial.
Os brinquedos eletrônicos, os vídeo games, os blogs, fotologs, orkut’s e a parafernália propiciada pela rede mundial de computadores podem nos reduzir à figura dos clientes robotizados, pasteurizados, estandardizados, globalizados, sem identidade e cultura próprias.
Neste contexto, as antigas brincadeiras, as peladas de rua, o pique esconde, a corrida de saco, a queimada, o carrinho de rolemã, as estórias de assombração, a cultura e os valores imateriais que forjam o espírito público, o ser solidário e fraterno, o respeito e os vínculos de compromisso para com o outro, vão se tornando páginas viradas da história.
Pais preocupam-se com a segurança dos filhos trancando-os em casa, sem atinar que os estão entregando, de mão beijada, para a mediocridade que exala das telas das TV’s, e – pior - submetendo-os à ação da bandidagem que transita livremente na rede, via internet.
Deixamos de ir ao teatro, ao cinema, às exposições e instalações de arte, aos museus; deixamos de visitar os familiares e de freqüentar as casas dos amigos por conta de nossos bairros tomados por um exército de vândalos e marginais. Tornamo-nos prisioneiros em nossos próprios lares.
Mas o fato de permanecermos em casa não tem significado fortalecer os vínculos familiares, retomar as refeições ao redor da mesa, dar continuidade a conversa interrompida na noite anterior. Não. Cada filho faz de seu quarto um espaço indevassável, um bunker intransponível, com sistema de som, aparelho de TV e computador próprios.
Não se trata de empreender um movimento contra a modernidade, contra as inexoráveis transformações que elevam a humanidade a um patamar superior. Trata-se, sim, de manter o controle sobre este processo, de torná-lo compatível com uma qualidade de vida melhor para todos.
Esta é a razão que se encontra na base do Teatro de Bonecos Mané Beiçudo: estudar, pesquisar, resgatar nossos referenciais antropológicos, histórico-culturais, trazendo para o presente nossa memória esquecida.
Um antigo ditado popular alerta que um povo sem passado, sem memória, está predestinado a viver sem a perspectiva do futuro.
Além das fontes tradicionais de pesquisa, livros, documentos pertencentes a bibliotecas e acervos históricos, convêm investir em uma excelente e providencial fonte de pesquisas e coleta de informações: conversas formais e informais com as pessoas mais idosas do bairro, da comunidade. Elas guardam na memória as raízes que vêm de nossos mais remotos antepassados. E que ajudaram a conformar o que os brasileiros têm de identidade.
O texto teatral que emergirá deste processo será uma dramaturgia envolvente, desperta, embasada historicamente, crítica, onírica e, fundamentalmente, divertida. Porque uma das mais relevantes e nobres funções do teatro popular é exatamente a de divertir.
Este artigo está publicado no portal da Associação dos Professores de São Paulo - Aproesp.
Antônio Carlos dos Santos - criador das tecnologias Quasar K+ de Planejamento Estratégico, da metodologia de produção de Teatro Popular de Bonecos Mané Beiçudo, e da tecnologia ThM-Theater Movement.