De São Paulo, cinquenta famílias japonesas pertencentes à Seita Shindo
Renmei – Liga do Caminho dos Súditos, resolveram fugir para o interior do
cerrado.
A seita era alvo de aguerrida perseguição. Implacavelmente a polícia
combatia seus integrantes em virtude dos assassinatos promovidos contra os que
reconheciam como verdadeiras as notícias sobre a derrota do império japonês.
A Shindo Renmei era uma organização secreta que exercia forte influência
ideológica sobre a colônia nipônica radicada em São Paulo, mas diluída também
nos demais estados brasileiros. Com estruturação paramilitar e radical difusora
das milenares tradições japonesas, a Liga do Caminho dos Súditos afirmava que a
notícia sobre a derrota dos países do Eixo não passava de propaganda enganosa produzida
pelos países aliados. Na realidade, as ondas de rádio da BBC de Londres
divulgando ininterruptamente a rendição japonesa não passavam de artifício madraço
para minar o inquebrantável moral dos saldados leais ao imperador,
contra-divulgava a liderança da Shindo. E passaram a perseguir e assassinar
todos os integrantes da colônia nipônica que ousassem dar crédito às notícias
emanadas da rádio londrina. Para os militantes da seita radical era intolerável
duvidar da invencibilidade nipônica ostentada em mais de 2600 anos de
sucessivas vitórias, sem que o país tivesse perdido uma guerra sequer.
A Shindo preparou, então, seus esquadrões de matadores – os tokkotai - e
foi à caça dos que acreditaram na vitória dos países liderados pelas forças
aliadas: Inglaterra, EUA e URSS. Assassinaram quase 30 imigrantes, deixando
feridos mais de 150.
A reação da polícia não demorou. O DOPS paulista encarcerou mais de 30
mil suspeitos e não menos de 400 foram condenados a penas que variaram de um a
30 anos de cadeia.
Por interferência direta do mais alto dirigente da República um decreto
presidencial deporta, para o Japão, 80 integrantes da seita. Todavia, no
indulto do Natal de 1956, o presidente Juscelino Kubitschek coloca todos em
liberdade, imaginando, assim, virar uma página negra da história brasileira.
Com a generosidade do ato o presidente mais popular dentre todos já
havidos imaginou ter lançado uma pá de cal sobre a tragédia que assolou os 200
mil imigrantes japoneses. Ninguém percebeu - nem os serviços de inteligência
das três armas - que 50 dos maiores dirigentes e matadores da Shindo Renmei
migraram, com suas famílias, para o interior do cerrado brasileiro.
No mínimo dois membros de cada uma das famílias que agora evadia para o
Planalto Central foram impiedosamente torturados e mortos nos porões do DOPS
paulista. Providencialmente a polícia permitiu que uns poucos sobrevivessem à
tortura com o único propósito de que – libertos – relatassem, na colônia, as brutais
técnicas de martírio e suplício. Afogamento, choque elétrico, estupro, pau de
arara, garrote vil, simulação de fuzilamento, retirada de órgãos do corpo, era
o mínimo que ocorria nos porões das delegacias de polícia.
Primeiramente as famílias vagaram a esmo pelos portos do Rio de Janeiro
e Santos esperançosos em encontrar os prometidos navios japoneses que os
levariam de volta à nação do sol nascente.
Após meses de uma angustiante espera resolveram, então, se refugiar num
lugar ermo, de todos desconhecido, inatingível ou, no mínimo, inalcançável
pelos braços da repressão policial. E se estabeleceram nos vales encobertos da
grande serra localizada no nordeste goiano onde somente os escravos, fugindo da
implacável perseguição dos capitães de mato, conseguiram alcançar.
O local era de dificílimo acesso, habitado por descendentes de escravos,
os quilombolas. Se o inacessível lugar viabilizou liberdade aos negros, por
outro lado, assegurou também - aos remanescentes de escravos - completo
isolamento. Foi como congelar o tempo. Os negros quilombolas, descendentes dos
primeiros africanos que aqui aportaram, adentraram o século XXI vivendo como se
em 1746.
Os quilombolas, de início, estranharam aquela gente de olho puxado que
se mantinha arredia a qualquer tentativa de aproximação. Mas souberam
compreendê-los e não criaram desnecessários constrangimentos. Sabiam que só estavam
ali - naquela terra inóspita e inacessível – por serem vítimas de implacável
perseguição. E essa realidade conheciam como ninguém. Por isso os
afro-descendentes respeitaram a dor de seus únicos vizinhos permitindo-os
curtir em paz o isolamento escolhido.
No seio das 50 famílias que agora dividiam com os quilombolas as serras
inóspitas havia mais de 30 cientistas. Eram pesquisadores renomados no Japão,
respeitados e venerados pelo número e qualidade das descobertas e invenções,
sobretudo nas áreas da engenharia militar, da genética e da biomedicina.
Cinco desses cientistas foram os que desenvolveram o avião de caça Zero
que tantas baixas cominou aos aliados nas homéricas batalhas aéreas travadas nos
céus do Pacífico. Mas a parte mais significativa dos cientistas migrantes orientava
suas pesquisas para a área da engenharia genética.
Na China, quando o país estava subjugado pelo Japão, esses cientistas
integraram o grupo que perpetrou todo o tipo de experimentações utilizando
seres humanos como cobaias, notadamente crianças e mulheres chinesas. Como
receberam carta branca do imperador e do alto comando militar japonês, não
havia impedimento ou limitação - fosse ético, moral ou religioso – à experimentação
científica. A completa inexistência de limites levou ao sacrifício de 600 mil
mulheres e de 1 milhão de crianças tragadas por experiências genéticas malsucedidas.
Quando o grupo chegou a São Paulo trazia expertise suficiente para abrir
uma nova frente no campo da pesquisa embrionária. Deram origem à partenogênese,
técnica científica através da qual um ser vivo nasce a partir de um óvulo sem
que haja fecundação.
O objetivo traçado consistia em conquistar o absoluto controle sobre a
reprodução humana de modo a gerar tão somente seres plenamente saudáveis, com
biótipos pré-determinados e já com o ordenamento cerebral estabelecido para a
obtenção da máxima performance, do máximo fator de inteligência. Os cientistas
não mais toleravam a casualidade dos relacionamentos do homem com a mulher que
gerava filhos imprevisíveis, às vezes com ótima desenvoltura física, mas
inadequado desempenho cerebral; outras vezes com alto desempenho mental, mas
capacidade física comprometida. Muitos marginais e criminosos foram criados em
berço de ouro, tiveram formação rígida, pais devotados, relacionamentos seguros
e confiáveis – condenavam os pesquisadores de olhos horizontais.
Era então necessário fugir a esta lógica de incertezas e adentrar à
lógica da previsibilidade matemática, rigorosamente exata, em que saberiam gerar
filhos vitoriosos, física e mentalmente saudáveis, os únicos admissíveis,
aceitáveis, aptos a conduzir o império japonês a um novo ciclo de conquistas e
glórias. (Para ler o conto completo, clique aqui).
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Dramaturgo, o autor transferiu para seus contos literários toda a criatividade, intensidade e dramaticidade intrínsecas à arte teatral.
São vinte contos retratando temáticas históricas e contemporâneas que, permeando nosso imaginário e dia a dia, impactam a alma humana em sua inesgotável aspiração por guarida, conforto e respostas.
Os contos:
1. Tiradentes, o mazombo
2. Nossa Senhora e seu dia de cão
3. Sobre o olhar angelical – o dia em que Fidel fuzilou Guevara
4. O lugar de coração partido
5. O santo sudário
6. Quando o homem engole a lua
7. Anos de intensa dor e martírio
8. Toshiko Shinai, a bela samurai nos quilombos do cerrado brasileiro
9. O desterro, a conquista
10. Como se repudia o asco
11. O ladrão de sonhos alheios
12. A máquina de moer carne
13. O santuário dos skinheads
14. A sorte lançada
15. O mensageiro do diabo
16. Michelle ou a Bomba F
17. A dor que nem os espíritos suportam
18. O estupro
19. A hora
20. As camas de cimento nu
OUTRAS OBRAS DO AUTOR QUE O LEITOR ENCONTRA NAS LIVRARIAS amazon.com.br:
São vinte contos retratando temáticas históricas e contemporâneas que, permeando nosso imaginário e dia a dia, impactam a alma humana em sua inesgotável aspiração por guarida, conforto e respostas.
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4. O lugar de coração partido
5. O santo sudário
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A – LIVROS INFANTO-JUVENIS:
Livro 1. As 100 mais belas fábulas da humanidade
I – Coleção Educação, Teatro & Folclore (peças teatrais infanto-juvenis):
Livro 1. O coronel e o juízo final
Livro 2. A noite do terror
Livro 3. Lobisomem – O homem-lobo roqueiro
Livro 4. Cobra Honorato
Livro 5. A Mula sem cabeça
Livro 6. Iara, a mãe d’água
Livro 7. Caipora
Livro 8. O Negrinho Pastoreiro
Livro 9. Romãozinho, o fogo fátuo
Livro 10. Saci Pererê
II – Coleção Infantil (peças teatrais infanto-juvenis):
Livro 1. Não é melhor saber dividir
Livro 2. Eu compro, tu compras, ele compra
Livro 3. A cigarra e as formiguinhas
Livro 4. A lebre e a tartaruga
Livro 5. O galo e a raposa
Livro 6. Todas as cores são legais
Livro 7. Verde que te quero verde
Livro 8. Como é bom ser diferente
Livro 9. O bruxo Esculfield do castelo de Chamberleim
Livro 10. Quem vai querer a nova escola
III – Coleção Educação, Teatro & Democracia (peças teatrais infanto-juvenis):
Livro 1. A bruxa chegou... pequem a bruxa
Livro 2. Carrossel azul
Livro 3. Quem tenta agradar todo mundo não agrada ninguém
Livro 4. O dia em que o mundo apagou
IV – Coleção Educação, Teatro & História (peças teatrais juvenis):
Livro 1. Todo dia é dia de independência
Livro 2. Todo dia é dia de consciência negra
Livro 3. Todo dia é dia de meio ambiente
Livro 4. Todo dia é dia de índio
V – Coleção Teatro Greco-romano (peças teatrais infanto-juvenis):
Livro 1. O mito de Sísifo
Livro 2. O mito de Midas
Livro 3. A Caixa de Pandora
Livro 4. O mito de Édipo.
B - TEORIA TEATRAL, DRAMATURGIA E OUTROS
VI – ThM-Theater Movement:
Livro 1. O teatro popular de bonecos Mané Beiçudo: 1.385 exercícios e laboratórios de teatro
Livro 2. 555 exercícios, jogos e laboratórios para aprimorar a redação da peça teatral: a arte da dramaturgia
Livro 3. Amor de elefante
Livro 4. Gravata vermelha
Livro 5. Santa Dica de Goiás
Livro 6. Quando o homem engole a lua
Livro 1. As 100 mais belas fábulas da humanidade
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Livro 1. O coronel e o juízo final
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Livro 9. Romãozinho, o fogo fátuo
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II – Coleção Infantil (peças teatrais infanto-juvenis):
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Livro 2. Eu compro, tu compras, ele compra
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Livro 5. O galo e a raposa
Livro 6. Todas as cores são legais
Livro 7. Verde que te quero verde
Livro 8. Como é bom ser diferente
Livro 9. O bruxo Esculfield do castelo de Chamberleim
Livro 10. Quem vai querer a nova escola
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Livro 1. A bruxa chegou... pequem a bruxa
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Livro 3. Quem tenta agradar todo mundo não agrada ninguém
Livro 4. O dia em que o mundo apagou
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Livro 1. Todo dia é dia de independência
Livro 2. Todo dia é dia de consciência negra
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Livro 6. Quando o homem engole a lua