Shakespeare, um dramaturgo para além da posteridade
Aos 23 de abril de 1616, o maior dramaturgo da língua inglesa foi ter com Ésquilo, Sófocles e todos os grandes do teatro universal, deixando como legado 38 peças, 154 sonetos, dois poemas de narrativa longa, e inúmeros outros poemas.
No ano da morte de Shakespeare faleceu também Miguel de Cervantes, autor de Don Quixote de La Mancha; e foi neste mesmo ano que o Papa Paulo V proibiu as obras de Nicolau Copérnico, notadamente a teoria heliocêntrica do sistema solar, que se contrapunha à visão então vigente, a geocêntrica, que considerava a terra como centro do universo.
É curioso observar que, em pleno século XXI, era de globalização e comunicação instantânea, o escritor continua tão atual e cultuado como nos idos de seu apogeu, na Stratford-upon-Avon de 1600. Suas obras mantêm-se vivas e provocantes, em todos os quadrantes do planeta, inspirando autores e artistas de todas as culturas e nacionalidades, uma unanimidade sem precedentes.
“To be or not to be: that's the question”; jamais, em tempo algum, escritor algum escreveu frase tão enigmática que expõe, na exata medida, a dimensão da obra de William Shakespeare, nascido em 1564 na cidade de Stratford-upon-Avon.
“Ser ou não ser, eis a questão” está incrustada em uma de suas mais brilhantes obras, A Trágica História de Hamlet, Príncipe de Dinamarca. Aqui um trecho em que dialoga com o fantasma, na cena V do 1º ato:
“FANTASMA — Sou a alma de teu pai, por algum tempo condenada a vagar durante a noite, e de dia a jejuar na chama ardente, até que as culpas todas praticadas em meus dias mortais sejam nas chamas, enfim, purificadas. Se eu pudesse revelar-te os segredos do meu cárcere, as menores palavras dessa história te rasgariam a alma; tornar-te-iam, gelado o sangue juvenil; das órbitas fariam que saltassem, como estrelas, teus olhos; o penteado desfar-te-iam, pondo eriçados, hirtos os cabelos, como cerdas de iroso porco-espinho. Mas essa descrição da eternidade para ouvidos não é de carne e sangue. Escuta, Hamlet! Se algum dia amaste teu carinhoso pai...
HAMLET — Ó Deus!
FANTASMA — Vinga o seu assassínio estranho e torpe.”
No livro “A arte da dramaturgia”, utilizei inúmeras frases das geniais obras de Shakespeare, solicitando que leitores e alunos, a partir delas, estruturassem “sketch”, micro-peças teatrais. Vejam aqui algumas premissas para a produção da dramaturgia utilizada na metodologia ThM:
“A arte da dramaturgia - como escrever uma peça de teatro?”
Utilizaremos como fonte inspiradora frases da obra teatral de Willian Shakespeare (1564-1616). Para cada frase escreva uma micro-peça teatral.
429)“As águias deixam que os passarinhos cantem, sem nenhuma preocupação com seu trinado alegre, certas de que com a sombra de suas asas poderão reduzi-los ao silêncio.” (Tito Andronico – Cena IV – Ato IV);
430)“Mais nobre é o gaio do que a cotovia, por ter plumagem mais bonita.” (A megera domada – Cena III – Ato IV);
431)“Não pode haver couraça mais forte do que um coração limpo. Está três vezes mais armado quem defende a causa justa, ao passo que está nu, ainda que de aço revestido, o indivíduo de consciência manchada por ciúmes e injustiças.” (Henrique VI – Cena II – Ato III);
432)“As chuvas finas duram muito, mas são curtas as grandes tempestades.” (A tragédia do Rei Ricardo II – Cena I – Ato II);
433)“Não faças como alguns desses pastores que aconselham aos outros o caminho do céu, cheio de abrolhos, enquanto eles seguem ledos a estrada dos prazeres, sem dos próprios conselhos se lembrarem.” (Hamlet – Cena III – Ato I);
434“O espírito culpado sempre abriga suspeita. Em cada moita o ladrão pensa que se esconde um soldado.” (Henrique VI – Cena VI – Ato V);
435)“Só os mendigos conseguem contar quanto dinheiro tem.” (Romeu e Julieta – Cena VI – Ato II);
436)“Todo mundo é capaz de dominar uma dor, exceto quem a sente.” (Muito barulho por nada – Cena II – Ato III);
437)“O escravo tem nas mãos os meios de cancelar seu cativeiro.” ( Júlio César – Cena III – Ato I);
438)“Ninguém poderá jamais aperfeiçoar-se, se não tiver o mundo como mestre. A experiência se adquire na prática.” (Os dois cavaleiros de Verona – Cena III – Ato I);
439)“Malha o ferro enquanto é tempo, do contrário esfria.” (Henrique VI – 3ª Parte – Cena I – Ato V);
440)“Quem consegue manter-se fiel a um senhor vencido, vence o vencedor.” (Antônio e Cleópatra – Cena XI – Ato III);
441)”Há mais coisas entre o céu e a terra (...) do que supões sua vã filosofia.” (Hamlet – Cena V - Ato I);
442)”O fogo oculto lavra com mais força.” (Os dois cavalheiros de Verona – Cena II – Ato I);
443)“Quantos espinhos nessas frases brandas!” (Bem está o que bem acaba – Cena IV – Ato III);
444)“O mais mirrado fruto cai da árvore primeiro.” (O mercador de Veneza – Cena I – Ato IV);
445)“Mais nobre é o perdão que a vingança.” (A tempestade – Cena I – Ato V);
446)“Não nos basta ajudar os que precisam; depois, devemos ampará-los.” (Timão de Atenas – Cena I – Ato I);
447)“ A todos, teus ouvidos; a voz, a poucos.” (Hamlet – Cena III – Ato I);
448)“Um cetro arrebatado com violência precisa ser mantido por processos iguais ao da conquista.” (Vida e morte do Rei João – Cena IV – Ato III).
Eis aqui um outro trecho, este extraído de O Mercador de Veneza:
“Ele me humilhou, impediu-me de ganhar meio milhão, riu de meus prejuízos, zombou de meus lucros, escarneceu de minha nação, atravessou-se-me nos negócios, fez que meus amigos se arrefecessem, encorajou meus inimigos. E tudo, por quê? Por eu ser judeu. Os judeus não têm olhos? Os judeus não têm mãos, órgãos, dimensões, sentidos, inclinações, paixões? Não ingerem os mesmos alimentos, não se ferem com as armas, não estão sujeitos às mesmas doenças, não se curam com os mesmos remédios, não se aquecem e refrescam com o mesmo verão e o mesmo inverno que aquecem e refrescam os cristãos? Se nos espetardes, não sangramos? Se nos fizerdes cócegas, não rimos? Se nos derdes veneno, não morremos? E se nos ofenderdes, não devemos vingar-nos? Se em tudo o mais somos iguais a vós, teremos de ser iguais também a esse respeito. Se um judeu ofende a um cristão, qual é a humildade deste? Vingança. Se um cristão ofender a um judeu, qual deve ser a paciência deste, de acordo com o exemplo do cristão? Ora, vingança. Hei de por em prática a maldade que me ensinastes, sendo de censurar se eu não fizer melhor do que a encomenda.”
Passados quase 400 anos da morte do dramaturgo inglês, sua obra continua profunda, atual, instigante, desafiando homens e mulheres em suas interações com o mundo exterior, mas, sobretudo, nas relações com o interior misterioso que se abriga em cada um de nos.
Não restam dúvidas que Shakespeare deixou uma obra tão densa, complexa e bela que, por certo, será capaz de atravessar mais 4,56 bilhões de anos. Muito tempo?, qual!?, só a idade da terra.
A metodologia de Planejamento Estratégico Quasar K+, a tecnologia de produção de Teatro Popular de Boneco Mané Beiçudo, e a metodologia ThM-Theater Movement são criações originais de Antônio Carlos dos Santos.
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