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Muitos querem acreditar que Grotowski, Artaud e o Living Theatre integram uma só escola. Ledo engano.
Artaud e o Living Theatre consagram a anarquia e a intensidade, a explosão total. Já na obra de Grotowski o que vemos é a experimentação do trabalho meticuloso, o artesanato, o completo domínio sobre todas as etapas da produção dramática.
Os primeiros encenadores – Antonin e J. Malina - incidem diretamente sobre a platéia, provocando-a, instigando-a. Já Grotowski utiliza de artifícios sutis, importunando-a de forma indireta, através da inquietude do espetáculo.
Grotowski só conheceu Artaud e sua mais completa obra - O Teatro e seu Duplo - quando já tinha desenvolvido as premissas do Teatro Pobre. Apesar das diferenças entre as metodologias de um e de outro, impressiona o número de pontos de convergência. É como se o diretor polonês tivesse se encarregado de dar materialidade aos sonhos do encenador francês.
Em ambos percebe-se uma obstinada busca pela superação do texto enquanto trampolim, priorizando sua utilização “como material para a construção do som”. Marca também a obra de ambos a investigação sobre uma linguagem corporal que conduza ao transe; o inconformismo com o palco tradicional; a procura por alternativas que alterem a relação palco-platéia e o resgate do aspecto sagrado da representação teatral.
Mas o encenador polonês empresta a estes componentes comuns características que tornam seu movimento único, singular, sem paralelo, diferenciando-se tanto do Teatro da crueldade como do Happening.
Do ator exige entrega total em sua busca pela expressividade corporal: “o ator ao desempenhar deve fazer uma doação total de si mesmo”, afirma Grotowski (“Em busca de um teatro pobre”).
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Uma diferença marcante do Teatro Pobre é a limitação da ação: preferência pelos pequenos públicos, pelas platéias diminutas, procurando assim estabelecer uma interação mais profunda entre os atores e a assistência.
A idéia básica é envolver o espectador num clímax perturbador que o levaria a se conhecer melhor. Decorre daí a preocupação com um espetáculo que se caracterize pela intensidade e perfeição.
Os componentes estruturados para enriquecer o jogo teatral - como a iluminação, a cenografia, a música e a maquilagem - são descartadas para, na visão de Grotowski, fazer emergir e dar lugar à verdadeira teatralidade. Dessa forma, ao contrário de criar e estruturar uma personagem, o ator passa a se incumbir de descobrir-se através dele. O ator é o centro de tudo. E tudo passa pelo físico, pelo corpo submetido a rigoroso treinamento, pela expressão corporal. Para um corpo plástico e multi-presente, qual a razão de adereços e acessórios como jogos de luz, maquilagem e música? Para chegar a este ator, Grotowski submete seu grupo a seções diárias de hata-ioga e a psicanálise.
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O encenador polonês descartou os componentes do teatro e mais tarde, já no final de sua existência, chegou a descartar o próprio espectador – agora denominado testemunha – a ponto de alguns questionarem se o que Grotowski exercitava ao final da vida seria mesmo manifestação teatral.
De qualquer forma, a denominação encontrada pelo encenador polonês para batizar sua escola teatral não passa de tosca ironia. Mais apropriado seria renomeá-lo como O Teatro Rico de Jerzy Grotowski.
Antônio Carlos dos Santos é o criador da metodologia de produção do teatro popular de bonecos Mané Beiçudo e da tecnologia de planejamento estratégico Quasar K+