Os
resultados de uma experiência inédita feita entre os dias 8 e 18 deste mês na
aldeia dos kuikuros, no Alto Xingu, pela organização não governamental (ONG)
People's Palace Project e pela empresa Factum Arte, da Inglaterra, foram
apresentados hoje (23), no Museu do Amanhã, no Rio de Janeiro, durante o
seminário Xingu: arte, tecnologia e preservação. A ONG britânica é líder em
tecnologia digital de preservação do patrimônio cultural.
Na
avaliação do diretor da ONG, Paul Heritage, os resultados da residência
artística internacional registrada este mês na aldeia Ipatse, no Território
Indígena do Xingu, em parceria com a Associação Indígena Kuikuro do Alto Xingu,
foram imediatos. “Eles gostaram de fazer essa troca conosco”, disse Heritage,
que respondeu ao desafio proposto pelos artistas indígenas de levar alta
tecnologia para preservar a cultura dos kuikuros.
A People's
Palace Project levou para o Alto Xingu a mesma tecnologia que utiliza no mundo
inteiro. “Os mesmos artistas que preservaram [digitalmente] o túmulo de
Tutankamon [faraó do Antigo Egito que morreu na adolescência; era filho de
Aquenáton], no Vale dos Reis, no Egito; os mesmos que cuidaram [da preservação
digital] de quadros de Caravaggio [pintor italiano, atuou em Roma, Nápoles,
Malta e Sicília, entre 1593 e 1610]; os mesmos que fizeram uma cópia exata
da Última Ceia, de Michaelangelo [pintor, escultor, poeta e
arquiteto italiano, considerado um dos maiores criadores da história da arte do
Ocidente], eles têm alta tecnologia que emprestaram para os kuikuros para
preservar a cultura deles e para replicar, difundir a cultura deles”, disse o
diretor.
Segundo
Paul Heritage, o que os indígenas querem é respeito à sua cultura, às suas
tradições; divulgação da cultura sem que isso acarrete destruição no
intercâmbio com outras culturas. Drones e impressão em 3D foram algumas
tecnologias usadas na experiência. Heritage disse que da mesma forma que vídeos
foram utilizados há 20 ou 30 anos nas aldeias como forma de “trocar a cultura
entre si e com o mundo dos brancos”, a ONG centrou suas atividades em novas
tecnologias.
Continuidade
A ideia é
continuar com essa experiência. A People's Palace Project pretende retornar, em
setembro deste ano, à aldeia dos kuikuros, que estão construindo uma oca que
vai “virar um centro cultural”. Segundo Heritage, ali eles poderão mostrar a
cultura, danças, rituais, máscaras e seu modo de viver. A ONG pretende replicar
também a cultura indígena em outros locais do Rio de Janeiro e em Londres.
“Acho que é o momento mais que certo que a gente tem que aprender com o povo
indígena o jeito como eles tratam o planeta, como vivem juntos, a coletividade,
que a gente perdeu em nossa sociedade atual de juntar com a luta deles por
direitos políticos, pela sobrevivência”.
O diretor
da ONG sustentou que a preservação da cultura é a preservação do povo, da
língua, do ponto de vista de uma coletividade. “É um ato de olhar”. Isso foi
fundamental na civilização europeia ao classificar os objetos e preservar sua
cultura, disse. “A gente precisa dessa preservação. Faz parte da biodiversidade
humana”.
O
projeto-piloto resultará em outros experimentos. Gradualmente, serão
construídos elementos que podem resultar em uma exposição do próprio povo
Kuikuro. Paul Heritage deixou claro que não se trata de uma mostra da ONG, mas
dos indígenas. “A gente está lá para ajudar eles a criar essa nova aldeia por
meio dessas tecnologias”.
Esta foi a
primeira vez que a ONG, reconhecida internacionalmente por seus trabalhos com
alguns dos maiores artistas e museus do mundo, efetua um projeto no Brasil.
Por Alana
Gandra, da Agência Brasil