O curta-metragem Vazio do Lado de Fora, do diretor Eduardo
BP, será o único representante brasileiro na edição de número 70 do Festival de
Cannes, um dos mais importantes do cinema mundial, que ocorre na conhecida
cidade francesa entre os dias 17 e 28 de maio.
O filme, de 22 minutos, é uma ficção ambientada em meio
aos escombros da demolição da Vila Autódromo, comunidade de 40 anos localizada
em Jacarepaguá, na zona oeste do Rio de Janeiro, que foi removida para as obras da Olimpíada
Rio 2016. Eduardo BP explica que o curta não
é uma tentativa de representar a luta pela moradia, mas de abordar o tema por
uma outra perspectiva.
“O filme lida com as emoções. Tem um roteiro, tem
diálogos, teve uma preparação de elenco intensa, algumas pessoas da Vila
Autódromo atuaram, mas a maioria é ator de fora mesmo. O filme tem uma dimensão
documental, mas com uma pegada experimental, não conta a história deles
exatamente, é mais estético”, diz BP.
Vazio do Lado de Fora será um dos 16 filmes exibidos na
mostra Cinéfondation Selection, que exibe filmes produzidos alunos de cinema e
completa 20 anos em 2017. O curta brasileiro foi escolhido entre 2.600
inscritos de todo o mundo. A premiação dessa categoria é separada da Palma de
Ouro de Cannes e ocorre no dia 26 de maio, no Theatre Luis Buñuel, no Palais du
Festival.
A obra é o trabalho de conclusão de curso de BP e outros
quatro colegas na Universidade Federal Fluminense. Além de BP na direção, o
curta tem Ana Galizia na direção de fotografia, Guilherme Souza na assistência
de direção e Victória Bastos e Carolina Aleixo na direção de arte.
O trabalho contou com verba do edital Eclipse, de apoio a
filmes universitários, e já passou pelo Festival de Tiradentes (MG), em março,
e pela Mostra do Filme Livre, no Centro Cultural Banco do Brasil do Rio de
Janeiro, em abril. Antes de ir para Cannes, também será apresentado na Mostra
Pajeú, que acontece entre 15 e 20 de maio, no Cine São José, de Afogados da
Ingazeira, sertão do Pajeú, interior de Pernambuco.
Surpresa
“Eu nem tinha muita esperança em ir, como é um filme muito
experimental, não sabia se a curadoria de Cannes teria esse interesse, essa
abertura. Não sabia qual o perfil que a fundação buscava. Fiquei muito
surpreso, até porque [o curta] foi inscrito sem nenhum tipo de contato com o
festival”, diz o diretor.
Sobre a filmagem na Vila Autódromo, ele disse que a equipe
também pesquisou uma possível locação na favela do Metrô Mangueira, outra
comunidade removida no Rio, ao lado do estádio do Maracanã, mas terminaram
optando pela Vila Autódromo, onde passaram três meses visitando o local e
conversando com os moradores.
“Gravar ali foi muito louco, porque [a área] estava em
pleno processo de reurbanização, a gente estava num lugar aberto com 30, 50
tratores passando o tempo todo de um lado pro outro... Tivemos que nos
relacionar tanto com o s moradores quanto com o pessoal da obra. Ficamos na
dúvida de fazer lá, porque estavam num processo muito acelerado, a cada semana
estava diferente. A cada semana a gente tinha que reavaliar se daria pra fazer.
A gravação mesmo durou seis dias”, explicou BP.
Até o meio do ano que vem, o curta Vazio do Lado de Fora
vai circular pelos festivais e, depois, deve ser disponibilizado na internet.
Por Akemi Nitahara, da Agência Brasil
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