segunda-feira, 21 de novembro de 2016

O teatro Mané Beiçudo e a fábrica de teatro popular

O Teatro de Bonecos Mané Beiçudo é um teatro universal, que transcende as nacionalidades e idiossincrasias locais, mas enfoca com um olhar de lince - mais aguçado, abrangente e generoso - as especificidades da formação antropológico-cultural dos homens que habitam o cerrado brasileiro e suas faixas de transição com o pantanal, a floresta amazônica e a mata atlântica.

As características do Teatro de Bonecos Mané Beiçudo contém elementos resgatados da história do teatro popular de bonecos, como o Vidouchaka da Índia; o Karagós da Turquia; o Punch da Inglaterra; o Guignol da França; o Fantoccini da Itália; e o Babal, João-redondo, Cassimiro-coco, Mané-gostoso, Briguela e Mamulengo no Brasil.

Todos esses teatros, realizados em diferentes países do mundo, por povos de diferentes matizes, mantém como propriedades intrínsecas a improvisação, a crítica mordaz e o humor instigante, livre e irreverente.

Como todo teatro que se preze, o Mané Beiçudo também provoca, inquieta, questiona e diverte.

Portanto, se as intersecções e pontos em comum com o teatro popular de bonecos são grandes, o Mané Beiçudo guarda uma diferenciação que o torna único dentre todos, exclusivo, inédito e sem igual: sua concepção político-estratégica e seu arranjo produtivo.

No plano político-estratégico, alguns quesitos são observados:

• conteúdos direcionados a promover a participação-cidadã, destacando valores e princípios como a radicalização da democracia, a justiça econômica e social e a capacidade de promover intervenções individuais e coletivas na realidade local;
• estética direcionada à tradução das expressões culturais oriundas do imaginário popular, das tradições e dos valores locais.


No plano do arranjo produtivo:

• completa interação dos atores e produtores com a platéia e a comunidade;
• a instituição dos momentos Ex-Ante, Ex-Cursus e Ex-Post, estabelecendo uma ação continuada numa concepção do Espetáculo Permanente, sempre aberto, suscetível e ávido por inovações;
• a tecnologia de produção de bonecos direcionada a valorizar a matéria prima disponível e abundante no local;
• a tecnologia de produção da dramaturgia disponível para que a comunidade exercite a criação e produção coletiva.

Nos dias presentes, tudo concorre para que as pessoas estejam presas, limitadas, confinadas numa redoma opaca e opressora. A desmedida concorrência predatória imposta pelo sistema e pela lógica individualista, canabalizando as relações humanas, fazendo com que vejamos o outro não como um solidário companheiro de jornadas e sim como um adversário, um inimigo, um obstáculo a ser superado; a insegurança generalizada que nos mantêm aprisionados atrás de muralhas medievais, cercas de arame eletrificado, circuitos internos de TV, sistemas monitorados de alarme e toda a parafernália eletrônica nos tornam seres carentes de uma cultura libertária que integre e não separe, que construa o plano da coletividade e da individualidade solidária e não a da sacralização da “Lei de Gerson”.

Com modéstia e ousadia, características que lhe são intrínsecas, Mané Beiçudo propõe contribuir com este processo, no exato limite de suas possibilidades. Disponibilizar para os brasileiros um teatro aberto, lúdico, provocativo, inebriante, transformador e popular.

O Teatro de Bonecos Mane Beiçudo é uma construção coletiva. É como se viajássemos numa locomotiva cujo destino aponta para um cais, para um porto onde o futuro se apresente melhor e mais justo para todos.

Antônio Carlos dos Santos - criador da metodologia Quasar K+ de Planejamento Estratégico e a tecnologia de produção de Teatro Popular de Bonecos Mané Beiçudo.


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