As expectativas de recuperação da economia brasileira têm
melhorado, mas ainda não será em 2017 que o país vai sair da crise. A previsão
é que em 2016 haverá contração de 3,4% e que o próximo ano começará com queda
de 0,5% no Produto Interno Bruto (PIB). Os dados foram apresentados pela
economista Sílvia Matos no seminário Perspectivas 2017: Economia e Política em
Momento de Mudança, promovido pelo
Instituto Brasileiro de Economia da Fundação
Getulio Vargas (FGV/Ibre).
Sílvia Matos é coordenadora técnica do Boletim Macro Ibre,
estudo mensal que contempla estatísticas, projeções e análises dos aspectos
mais relevantes da economia brasileira. “Acho difícil imaginar uma saída tão
rápida dessa recessão. Uma recessão longa, profunda, similar à dos anos 80 e,
sem dúvida, baixo crescimento neste ano”, disse.
A economista disse que o movimento de “desinflação”, tem
ocorrido em ritmo lento e, por isso, o Banco Central, está sendo mais
cauteloso, para não errar na calibragem da economia. “Nesse momento de
transição econômica a gente não sabe quanto de desinflação virá, então o Banco
Central está sendo extremamente cauteloso e, provavelmente, não terá a queda na
taxa de juros esperada pelo mercado, logo, a economia não vai poder se recuperar
com a mesma velocidade”, disse.
Sílvia disse que o calcanhar de Aquiles da economia
brasileira é a política fiscal e que a trajetória da dívida bruta é
insustentável. Ela diz que existe uma agenda de reformas para retomada dos
investimentos e estabilidade das regras. Além disso, é importante sinalizar
para investidores estrangeiros que um novo governo que vai assumir em 2019 vai
manter o modelo econômico.
“Há sempre um risco das reformas e, por isso, é importante
a gente passar isso. Mudanças constitucionais que são difíceis de ser aprovadas
para depois ser difícil também de reverter. Previdência é uma batalha
dificílima, mas se o governo conseguir pode até gerar um cenário mais favorável
do que o que a gente está avaliando”, diz.
Setor de serviços
Para a economia acelerar mais rapidamente precisaria ter
um crescimento mais robusto do setor de serviços e não apenas da atividade
industrial, mas o momento atual é de redução de despesas do governo e ainda de
consumo das famílias. “Como a gente não tem nada de fora puxando a indústria e
o setor externo não vai contribuir para este supercrescimento, o que poderia
vir seria da demanda interna, mas para a demanda interna vir com uma aceleração
muito forte, precisa ter capacidade de aceleração que viria pelo canal do
crédito, que parece ainda estar entupido”, disse após o seminário.
Para 2018, a previsão ainda é de um PIB baixo, em torno de
2%, mas os índices de desemprego podem ser melhores. “A ideia é que a taxa de
desemprego no segundo semestre de 2017 pode começar a mostrar algum recuo não é
nada brilhante, mas é um sinal favorável e poderia continuar em 2018 esse
processo. Mas a gente vai conviver com taxas de desemprego ainda elevadas,
porque antes de contratar, tem espaço para aumento de horas trabalhadas”,
disse.
A economista destacou que mesmo com as dificuldades
provocadas na economia pelos reflexos da Operação Lava Jato, não existe opção
para o país além de fazer as reformas. “Quando a situação econômica melhora de
alguma forma o político é bem avaliado. Está dando os incentivos corretos.
Vamos tentar arrumar essa economia, porque com a crise ninguém ganha, todos
perdemos. É essa visão um pouco mais otimista.
Não quer dizer que vamos
resolver todos os problemas em 2017. O cenário de curto prazo reflete esses
problemas tão grandes da nossa economia”.
Cristina Indio
do Brasil - Repórter da Agência Brasil
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