Os irmãos
Antônio, de 4 anos, e Miguel, de 1 ano e meio, correm até uma estante baixinha
da Biblioteca Parque Villa-Lobos, na zona oeste da capital paulista, e puxam a
quantidade de livros que as mãos conseguem carregar. A poucos metros dali,
jovens e adultos usam os computadores, outros leem e estudam.
Tal como no Parque Villa-Lobos, outras bibliotecas têm investido em
interatividade com os usuários, programação diversificada e horário ampliado
para mudar a relação com leitores. Se antes o silêncio absoluto era lei em uma
biblioteca, nos últimos anos essa relação vem se transformando. Gestores
investem em estratégias para criar vínculos com os usuários e atrair leitores.
Para Antônio e Miguel, a biblioteca vira “playground”. Eles levam os livros até
a oca, um espaço aberto no coração da biblioteca, e sentam em meio a almofadas
e bancos coloridos. “O legal é essa mescla de livros e brinquedos em um lugar
iluminado. Bem diferente das bibliotecas antigas, com ambiente fechado e
escuro”, diz a mãe dos garotos e estudante de Veterinária, Ana Karina Avelhan,
de 35 anos. “É importante trazê-los desde cedo. E poder brincar com os livros
ao lado ajuda a mostrar para eles que ler não é chato.”
Para a estudante de obstetrícia Letícia Araújo, de 19 anos, a biblioteca é
lugar de espairecer. Durante a semana, faz trabalhos da faculdade. Aos fins de
semana, brinca de jogos de tabuleiro e de videogame do acervo com amigos. “Vivo
cercada de livros, então gosto de aproveitar o que tem para fazer na biblioteca
além do livro”, afirma.
A ideia da administração, ao inaugurar a biblioteca no Parque, era exatamente
ampliar os usos da biblioteca e elevá-la ao status de espaço cultural. “A gente
brinca que a biblioteca é um parque temático, cujos temas são leitura e
cultura. Mas se a pessoa quer ir à biblioteca para ficar sentada, apenas
admirando, é bem-vinda. A biblioteca precisa ser espaço de liberdade”, explica
Pierre Ruprecht, diretor da SP Leituras – organização social responsável pelas
bibliotecas Villa-Lobos e São Paulo, no Parque da Juventude.
Liberdade até para pedir a compra de determinada obra. Segundo Ruprecht, os
sócios das duas bibliotecas podem indicar livros que gostariam de ter nos
espaços. “Hoje, um terço do que é comprado e que está no acervo é indicação dos
sócios. É uma atividade de relacionamento.”
Mesma estratégia adotou a Biblioteca Mário de Andrade, no centro da capital,
que há quatro meses passou a funcionar 24 horas. Este ano, o espaço lançou uma
campanha nas redes sociais e pediu a indicação de livros e filmes dos usuários
para montar a programação de cinema do espaço.
“Percebemos que essa interação é muito importante. O próprio público pode
pautar parte da programação do espaço cultural. A lista dos livros que o
público quer se transforma em lista de compras de títulos novos. Esse é um
fenômeno recente de tentar criar vínculos com usuários”, diz o diretor da
Biblioteca, Luiz Armando Bagolin.
Com o atendimento 24 horas, a biblioteca viu a frequência diária dobrar de 1,2
mil para 2,5 mil usuários. O número de empréstimos cresceu 20% em relação a
março, último mês antes do período de adaptação para o funcionamento
ininterrupto.
Também no centro da cidade, a biblioteca Monteiro Lobato, embora seja especializada
em público infantojuvenil, oferece mesa com jogos de xadrez e tem programação
até para idoso. Toda sexta-feira, a aposentada Maria Simões, de 90 anos, vai
sozinha até o espaço para assistir shows de dança e canto, voltados para
idosos, no teatro da biblioteca. “Acho que adoro mais essa biblioteca do que as
crianças.”
Por Juliana
Diógenes, em O Estado de S. Paulo
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