domingo, 20 de novembro de 2016

Nos EUA, opção por 'escola em casa' ganha grupos para manter convívio social


Cada vez mais pais nos Estados Unidos têm optado pelo caminho do chamado 'homeschooling', ou 'escola em casa', amparados por leis que lhes permitem escolher planos de estudos, métodos, bibliografia e a administração total do tempo de ensino.
E para que as crianças não percam muito contato social, algumas famílias se organizam em grupos que seguem esta proposta para que possam coordenar determinadas atividades.
Paula Castaño, uma bailarina profissional, está criando suas filhas entre ensaios, atuações e viagens por outros países. O pré-escolar de Matilda, que tem 6 anos e é a mais velha das duas, foi feito entre Estados Unidos, Espanha e Colômbia. O pai das meninas é músico e viaja muito, e o casal optou por este caminho para que a família não fique muito tempo separada.
A motivação principal pelo ensino domiciliar não é a pressão de uma vida quase nômade (a família tem base em Miami). Paula acredita que, aos 4 ou 5 anos, uma criança não está preparada para tantas horas longe dos pais.
Ela argumenta que o sistema de ensino tradicional está mal projetado, mais focalizado no trabalho dos pais do que no bem-estar emocional das crianças.
Como a família depende da renda do marido e, além disso, Paula não quer deixar sua profissão, ela montou uma escola de "danças do mundo", que tem a presença de alunas e alunos que praticam ou não o homeschooling. A ideia é não se desvincular da sociedade.
Se no futuro suas filhas decidirem estudar na escola comum, Paula não as impedirá. Esta família está começando um caminho ao qual cada vez mais pais recorrem, fundamentalmente por se sentirem muito ocupados ajudando os filhos com inúmeros trabalhos de casa.
Estudar em casa é muito simples nos Estados Unidos. Só são exigidos vontade, notificação ao sistema de ensino público (no caso de Paula, o do condado Miami-Dade) e enviar um aval de um especialista, apenas uma vez ao ano, para dar conta do rendimento individual do estudante.
A californiana Cybele Botrán é outra entusiasta deste sistema de ensino. Professora com mestrado em Educação, há 13 anos ela decidiu ensinar os filhos em casa por estar descontente com o pouco tempo que lhe restava para visitar museus e fazer atividades recreativas em família.
Em 2003 ela começou com seu primeiro filho, Miguel, que agora tem 20 anos e, na faculdade, cursa Astrofísica. Depois, seguiu o mesmo caminho com os outros dois, Adrián, de 18, e Sophia, que tem 16.
Casada com um espanhol e morando em Miami, Cybele lembra quando se reunia nos parques da cidade com outras famílias que também praticam o homeschooling.
Segundo ela, não é necessário ser professora para assumir a educação dos filhos, e é algo que inclusive pode atrapalhar. "Porque acabamos olhando a educação em casa como se fosse a do colégio, e não o é", alegou.
"A educação em casa se baseia em uma relação muito íntima, e você precisa usar seu sexto sentido. Realmente, o que aprendi na universidade não me ajudou. Era como uma falsa segurança", acrescentou.
Com sua experiência, Cybele assessora o grupo PATH (Parents' Association for Teaching at Home, ou Associação de Pais para o Ensino em Casa, em tradução livre), que se reúne todas as semanas para enriquecer os conhecimentos dos estudantes com o que os pais possam contribuir.
Este é um dos poucos grupos não religiosos que praticam o homeschooling em Miami. O grupo conseguiu magníficas salas de aula em um centro social que, paradoxalmente, é religioso, mas aluga as instalações a um preço módico.
"Não queremos que o governo nos dirija, queremos liberdade", disse Cybele, que observa um crescimento do homeschooling em setores profissionais "simplesmente porque a escola particular é muito cara ou porque a pública às vezes não oferece boa qualidade ou tem muitos alunos".
"Isto começou na época dos hippies, e depois se propagou com pais evangélicos, quando tiraram a educação religiosa do colégio público", acrescentou.
Segundo o escritório de imprensa de Escolas Públicas do Condado Miami-Dade, 3.220 estudantes são ensinados em casa. Este condado é o quarto em quantidade de alunos (345 mil) do sistema de escolas públicas de todo o país, atrás de Nova York, Los Angeles e Chicago.
Embora esta possibilidade exista e cada vez maisn se ouça falar do homeschooling, outros pais acreditam que não há nada melhor para uma criança do que as instituições regulares. Este é o caso, por exemplo, de Raonel Rosales, pai de dois meninos em idade escolar e morador de Kendall, no sul do condado.
Ele reconheceu estar "muito atarefado em casa com a quantidade de trabalhos escolares", mas acredita que seus filhos têm que conhecer como é a vida, e, segundo ele, "em casa não conseguirão".
"Para mim a vida é compartilhar com estranhos", disse, para em seguida questionar: "Se todos saírmos do sistema tradicional, quem vai regular o ensino?".
EFE
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