Tecnologias
inovadoras, desenvolvidas pelo Laboratório de Métodos Computacionais em
Engenharia (Lamce), localizado no Parque Tecnológico da Universidade Federal do
Rio de Janeiro (UFRJ), na Ilha do Fundão, vão dar “vida” ao Museu Histórico
Nacional (MHN).
O projeto
será inaugurado nesta terça-feira (13), na Galeria das Carruagens, onde foram
aplicadas duas técnicas. Uma delas é a projeção holográfica, que utiliza atores
vestidos com roupas de época dos séculos 18 e 19, resultado de parceria com a
Escola Nacional de Belas Artes. A ideia é que ali, por meio de uma tela
transparente de projeção, a pessoa perceba a interação com os atores, disse o
diretor do Lamce, Gerson Cunha. “A gente pediu que eles (atores) fizessem
gestos para atrair as crianças e dar um pouco de vida àquela galeria, que só
tinha exposição das carruagens paradas”.
Outro
aplicativo desenvolvido funciona tanto em tablet quanto em
smartphone. “O museu está com um conjunto de tablets para
atender aos grupos de visitantes, de estudantes. Nesses tablets, o
visitante aponta para diversos cartazes e painéis e consegue ver os objetos em
3D. Além disso, a pessoa consegue ver a parte interna da carruagem, como se ela
estivesse lá”, destacou. O aplicativo é gratuito e estará disponível para
dispositivos da plataforma Android e IOS/Apple.
O
visitante escolhe a carruagem de sua preferência, clica e tem uma visão
interna. Se olhar para cima, vê o teto interno da carruagem. “Essa é uma experiência
interessante, porque nenhuma pessoa pode entrar nas carruagens”, comentou
Cunha. A pessoa consegue olhar, inclusive, com óculos de papelão,
chamados cardboards, o que pode proporcionar aos usuários uma
experiência 3D. O aparelho, produzido pelo Google, contém duas lentes e requer
o acoplamento de um smartphone. “A pessoa consegue olhar como se estivesse
dentro de cada veículo lá. O museu entrou com a parte técnica, de conteúdo, e a
gente entrou com a parte tecnológica para associar”.
Segundo
Gerson Cunha, a proposta dessa cooperação não é só transformar o museu em um
espaço virtual, mas ampliar a experiência do visitante. Ou seja, além de
enxergar o acervo, ele começa a perceber coisas antes não identificadas. “É a
realidade que tem ali aumentada, com informações adicionais, para dar vida”.
Durante os
testes de implantação do projeto, feitos pelos técnicos do Lamce, grupos de
estudantes avaliaram a introdução das tecnologias inovadoras. O resultado
alcançado cumpriu o objetivo pretendido, disse Cunha. “Em nenhum momento, a
gente quis que a tecnologia ultrapassasse o que tem ali e, sim, que aumentasse
a experiência para ter mais informações do que está exposto”.
Sala
Dreyfus
No mesmo
dia 13, será mostrado o piloto de outro aplicativo para visualizar o teto da
Sala Dreyfus. Como se trata de um teto muito alto, Gerson Cunha explicou que
foi usada uma técnica que faz a composição de uma série de fotografias e traz
essa composição para dentro de um tablet, onde a pessoa pode
explorar as imagens, em um processo parecido com o do Google Maps. Com o
aplicativo implantado pelo Laboratório do Parque Tecnológico da UFRJ, o
visitante consegue dar um zoom (aproximação da imagem) e olhar
detalhes mínimos de pinceladas da pintura”.
O diretor
do MHN, Paulo Knauss, informou que o teto da Sala Dreyfus decorou originalmente
a sala da revista do Supremo Tribunal Federal antes de o museu ocupar o local.
Seu pintor foi Carlos Oswald, autor do desenho do Cristo Redentor. As seis
alegorias retratadas no teto representam a história do direito no Brasil.
Como a
parceria com o Museu Histórico Nacional está firmada, o Lamce se organiza para
dar sequência ao projeto de introdução de tecnologias de realidade aumentada e
holografia para outras peças históricas do museu. A continuidade do trabalho
vai depender de patrocínio. A ideia, segundo Gerson Cunha, é expandir para
todas as áreas da instituição, para que as pessoas possam chegar lá, observar
as pinturas e, como ocorre com o Google Maps, chegar ao detalhe das pinceladas.
O Lamce já
fez protótipos dessas técnicas em várias galerias do museu, mas a aplicação do
conteúdo geral se dará conforme os investimentos forem ocorrendo.
Investimentos
Cerca de
R$ 170 mil foram investidos pelo governo federal na primeira fase do projeto,
por meio de edital do Ministério da Cultura, informou Knauss. Como o Museu
Histórico Nacional tem mais de 3 mil metros quadrados de áreas de exposição
permanente, o diretor disse que estão sendo pensadas intervenções em diferentes
setores. “A gente tem um pacote. Para cada um (setor), há uma ideia de ação”.
A próxima
etapa que deve receber as tecnologias desenvolvidas pelo Lamce, laboratório do
Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa em Engenharia
(Coppe) da UFRJ, é a das grandes pinturas históricas, como a Batalha
Naval do Riachuelo, a Passagem de Humaitá e O
Último Baile da Ilha Fiscal. Os recursos necessários atingem o mesmo valor
da primeira etapa. “A gente agora vai começar a montar e preparar o novo
projeto”, disse Knauss.
Tão logo
consiga financiamento, o museu pretende dar início ao projeto, que revelará aos
visitantes a técnica usada pelos vários pintores, o tipo de pincelada, o
desenho de base que existe por trás, com visão raio X. Por outro lado, será
feita a interpretação iconográfica dos elementos, para mostrar os objetos que o
museu tem em sua reserva técnica. Um exemplo é a carranca da Fragata
Amazonas, da Batalha Naval do Riachuelo. “A pessoa vai apontar
seu celular ou tablet e vai ver uniformes de época que a gente
tem na nossa coleção. Vai ver as imagens e as explicações desses elementos
todos, por que estão compondo aquela tela”.
Renovação
No Último Baile
da Ilha Fiscal, a ideia é identificar os personagens e tentar animar a
tempestade que se organiza no céu, com nuvens representativas do Terceiro
Reinado e da República. Na avaliação de Paulo Knauss, essas inovações vão
contribuir para renovar o olhar do público em relação ao acervo do museu, ao
mesmo tempo que permite outras formas de interação. No caso das carruagens, por
exemplo, embora seja proibido o acesso direto aos equipamentos, a interação por
meio do tablet promove uma viagem ao passado e permite
contextualizar a peça exposta, para que o visitante entenda melhor o que ela
significa.
Knauss
destacou que, sobretudo para os jovens, as tecnologias constituem elemento
adicional de atração do museu. “Eles interagem com essas linguagens eletrônicas
com muita facilidade. Isso aproxima também a leitura das peças antigas, que têm
um tipo de material e decoração diversificado. Atrai o jovem e, por meio dessa
linguagem eletrônica, a gente tem mais um elemento que chama a atenção da
juventude, além das possibilidades de animação”.
O diretor
do Museu Histórico Nacional já tem preparado, também na linha das alegorias,
projeto para as telas ovais do século 18 de Leandro Joaquim, que apresentam o
cotidiano da cidade, como Pesca da Baleia, Lagoa do
Boqueirão. A partir de imagem captada em gigapixel (alta resolução),
poderão ser aumentados os detalhes, permitindo a leitura das miniaturas observadas
nas cenas históricas, como a presença de escravos e indígenas. “Coisas que, na
imagem geral, a gente não percebe”, disse Knauss.
Acervo
O Museu
Histórico Nacional ocupa todo o complexo arquitetônico da Ponta do Calabouço,
na Praça 15, centro do Rio de Janeiro. Tornou-se o mais importante museu de
história do país, com acervo de cerca de 258 mil itens, entre objetos,
documentos e livros.
Por Alana
Gandra, na Agência Brasil