Ideia de recolher lixo do chão enquanto se caminha ou corre surgiu na Suécia |
Iniciado na Suécia, o "plogging" tem como objetivo beneficiar tanto o meio ambiente quanto o corpo e vem ganhando adeptos em todo o mundo. Mas será que ela ajuda mesmo a resolver o problema global do lixo?
Ouve-se
o estrondo de um trovão, mas ainda não há sinal de chuva. Mesmo que ela esteja
a caminho, isso não é desculpa. Com tênis de corrida nos pés e luvas e sacola
plástica nas mãos, estou pronta para começar a correr e catar lixo do chão.
Mas ir
sozinha não tem graça. Por isso pergunto a alguns amigos se gostariam de
experimentar essa nova tendência comigo. "Você quer dizer, pegar o lixo de
outras pessoas?", responde com uma pergunta minha amiga Petra, mostrando
zero entusiasmo.
Eu
explico que o plogging é
a última moda vinda da Suécia. É uma combinação de jogging com plocke,
"catar" em sueco. A ideia é muito simples: se vê um lixo enquanto
corre ou caminha, você o cata – bom para seu corpo e para o planeta. Petra não
está entusiasmada com a ideia, mas se deixa vencer com um "por que
não?" Afinal, ela está sempre reclamando do lixo jogado pelo nosso lindo parque.
Eu
também consegui convencer minha amiga Regina e meu marido a se juntarem a nós,
mas persuadir minha filha de nove anos se provou mais difícil. Verdade seja
dita: ela sequer recolhe as coisas dela no próprio quarto. Eu argumento que
correr em grupo vai ser legal, mas ela nem quer saber.
A ideia
de correr e ajudar o meio ambiente ao mesmo tempo atrai mais a minha filha de
12 anos. E seu entusiasmo é suficiente para convencer a irmã menor. Logo as
duas se equipam e podemos dar a partida.
Da Suécia para o planeta
Vamos
nos encontrar no parque Vorgebirgspark, no sul de Colônia. No caminho, eu
explico como o ativista ambiental sueco Erik Ahlström começou a correr e catar
lixo há dois anos. A mania se espalhou pelo mundo, graças, em grande parte, aos
vídeos que viralizaram nas redes sociais.
Da
Alemanha ao Chile, passando pelos Estados Unidos e até mesmo a Rússia, gente de
todo o mundo está respondendo ao chamado para se encontrar nos parques ou nas
ruas das cidades a fim de ajudar a livrar seus bairros do lixo – enquanto se
mantêm em forma, é claro.
Meu
grupo de novatos não é o único a experimentar a tendência em nossa cidade no
oeste da Alemanha. Uma iniciativa chamada Plogging Cologne foi lançado em
fevereiro pelas jornalistas e esportistas Anita Horn e Caro Köhler.
Agora a
turma tem mais de 350 membros, incluindo ambientalistas, donas de casa, mães
com filhos, estudantes e aposentados: um grupo misto, como o nosso. Começamos
com uma caminhada pelo parque, vasculhando o chão em busca de lixo e olhando
ansiosamente para o céu. O tempo vai se manter? Ou os nossos esforços de
responsabilidade cívica serão recompensados com um banho de chuva?
Decidimos
nos arriscar e começar a correr. À primeira vista, a grama parece bonita e
arrumada, mas há muito lixo nos arbustos. Então, paramos e o apanhamos.
Cidade limpa e corpo são
Minha
filha mais velha fica especialmente satisfeita com seu primeiro achado: duas
garrafas que podem ser devolvidas em troca do valor do depósito. Sorrindo, ela
diz que pode ficar rica com esse esporte. Não demora muito para que nossas sacolas
fiquem cheias de tampas de garrafas, lenços, sacolinhas de cocô de cachorro e
embalagens plásticas.
Köhler,
da Plogging Cologne, relata uma grande variedade de itens – não apenas copos de
café, embalagens de doces e jornais velhos, mas também fraldas, panelas velhas,
sapatos, partes de bicicletas e até mesmo cadeiras de escritório. O grupo
organiza previamente o descarte com empresas de reciclagem, que esperam no fim
da corrida para coletar o lixo.
Um
grupo de gente correndo e carregando sacos de lixo entre os arbustos faz alguns
franzirem o cenho. Outras reações dos transeuntes vão desde a curiosidade até
mensagens de parabéns. Um casal assistindo a um jogo noturno de badminton até
pergunta se pode se juntar a nós na próxima vez.
Graças
a meu marido, que é cientista esportivo, descobrimos também que o plogging é um
treino mais completo do que simplesmente correr. "Quando a gente se curva
para pegar o lixo no chão, está exercitando alguns músculos das pernas que
normalmente não usa quando está só correndo", explica.
Uma pequena ajuda já basta?
Após
cerca de uma hora, terminamos. Nossas bolsas estão cheias e o parque está um
pouco mais limpo. Não está tudo perfeito, mas Regina está feliz com a mudança
positiva. Petra admite que não é tão difícil levar uma pequena sacola consigo
para pegar o lixo, sempre que for caminhar ou correr.
Mas
minha filha de 12 anos parece preocupada: "Nosso mundo deve ser mantido
saudável para os próximos 100 anos. Mas, com todo esse lixo plástico produzido
todos os dias, as coisa não parecem boas para nós, crianças".
Plogging é,
claro, uma contribuição pequena, frente aos enormes problemas ambientais.
Alexander Heyd, da União da Natureza e Conservação da Biodiversidade da
Alemanha (NABU), concorda com as preocupações da minha filha: o plogging é uma moda
que logo passar, e precisamos nos concentrar ainda mais na redução do uso de
embalagens plásticas.
Britta
König, da organização ambiental WWF da Alemanha, apoia a mania do plogging, mas ressalta
que a coleta de lixo não precisa ser feita apenas durante a corrida. Mas não só
os consumidores precisam agir contra o problema da poluição plástica, também
empresas e fabricantes devem ser responsabilizados pela gestão de seus próprios
resíduos, afirma.
Contudo,
mesmo que a moda acabe sendo de curta duração, Köhler, do Plogging Colônia
espera que ela faça com as pessoas pensarem de forma diferente sobre o lixo.
Quando
estávamos fazendo nosso caminho pelo parque, comecei a pensar sobre os meus
hábitos. Eu considerei o que deveria comprar a fim de levar a menor quantidade
de embalagem possível para casa. E fico feliz que minhas filhas também estejam
sendo levadas a refletir sobre esses problemas.
Depois
de uma hora correndo no parque e coletando lixo, elas também vão parar de jogar
as coisas delas pelo chão – será?
Deutsche Welle