Sudão, o último rinoceronte-branco-do-norte macho, morreu em março no Quênia |
O rinoceronte-branco-do-norte está praticamente em extinção. Só há dois exemplares ainda vivos – ambos fêmeas. Mas cientistas alemães e italianos estão abrindo caminho para ressuscitar a subespécie.
Meses após a morte do último rinoceronte-branco-do-norte macho
do mundo, cientistas conseguiram desenvolver em laboratório embriões contendo o
DNA da espécie, na esperança de salvar esses animais da extinção. O estudo foi
publicado nesta quarta-feira (04/07) na revista científica Nature Communications.
Os pesquisadores descrevem o rinoceronte-branco-do-norte (Ceratotherium simum cottoni)
como o mamífero mais ameaçado do mundo, com apenas duas fêmeas vivas – ambas
inférteis e descendentes de Sudão, o macho derradeiro
que morreu em março numa reserva no Quênia.
A equipe de cientistas europeus usou técnicas já existentes de
reprodução assistida para fertilizar óvulos de rinocerontes-brancos-do-sul (Ceratotherium simum simum)
com espermatozoides de rinocerontes-brancos-do-norte mortos, congelados em
laboratório.
Os óvulos foram retirados de fêmeas dessa outra subespécie, que
também pertence à espécie de rinoceronte-branco, por meio de um dispositivo de
extração de dois metros de comprimento, recentemente patenteado.
A fertilização in vitro gerou embriões híbridos, ou seja, que
contêm o DNA das duas subespécies de rinoceronte-branco. A intenção, nesse
momento, era comprovar que a técnica de criação desses embriões funcionaria – e
funcionou.
Agora, um próximo passo delicado para os cientistas é retirar
óvulos das duas últimas fêmeas de rinoceronte-branco-do-norte existentes para
produzir embriões puros dessa subespécie, usando a mesma técnica inovadora.
Os embriões devem ser então implantados numa "barriga de
aluguel", que gerará os filhotes. O papel ficará a cargo de fêmeas de
rinocerontes-brancos-do-sul. Essa subespécie, menos ameaçada, ainda conta com
cerca de 21 mil exemplares em todo o mundo.
"São os primeiros embriões de rinoceronte produzidos in
vitro da história", saudou o pesquisador alemão Thomas Hildebrandt, do
Instituto Leibniz em Berlim, que liderou o estudo. "Eles têm uma chance
muito alta de gerar uma gravidez quando forem implantados numa mãe
substituta."
Segundo Hildebrandt, o objetivo da equipe é que o primeiro
filhote de rinoceronte-branco-do-norte nasça em cerca de três anos.
"Levando em conta que a gestação dura 16 meses, temos pouco mais de um ano
para fazer uma implantação bem-sucedida."
Os pesquisadores pediram permissão para colher óvulos de Najin e
Fatu, filha e neta de Sudão, antes ainda do final do ano – num processo
considerado arriscado por Hildebrandt. Elas vivem na mesma reserva no Quênia
onde morrera o patriarca.
Deutsche Welle