Com texto de
Victor Névoa e direção de Kiko Marques, 'Insones' estreiou em São Paulo
Faz 365 dias que eles não pregam os olhos.
Inertes sobre um longo sofá, vestindo trajes de festa, os quatro personagens de "Insones” tentam sem sucesso finalizar a conta-gem regressiva do Ano-Novo.
A cada vez que experimentam celebrar a virada, são tomados por uma distração qualquer.
Faz 365 dias que eles não pregam os olhos.
Inertes sobre um longo sofá, vestindo trajes de festa, os quatro personagens de "Insones” tentam sem sucesso finalizar a conta-gem regressiva do Ano-Novo.
A cada vez que experimentam celebrar a virada, são tomados por uma distração qualquer.
Para
conceber a montagem, idealizada por Névoa e pelas atrizes Fernanda Raquel e
Helena Cardoso — que dividem o palco com Paulo Arcuri e Vinícius Meloni —, o
grupo se baseou nos livros “'24/7 - Capitalismo Tardio e os Fins do Sono” do
crítico americano Jonathan Crary, e “Sociedade do Cansaço”, do filósofo
sul-coreano Byung-Chul Han.
D o primeiro, comenta o dramaturgo, pinçaram o conceito de que dormir significaria profanar a liturgia do capitalismo. "Se você dorme, não consome, não produz."
É uma sociedade em que sente-se angústia por não produzir, continua Kiko Marques, diretor da montagem.
“A gente se sente obrigado a criar e a se divertir sempre.
Vivemos numa ditadura da felicidade, e criamos representações falsas de felicidade.”
Os insones do espetáculo forçam a todo momento alguma forma de diversão. Dançam, ainda que de modo mecânico e visivelmente desconfortável, brindam sem saber com quem ou por que.
Uma delas, um tanto paranoica, irrita-se com as sombras sobre o chão e a cada instante resolve aumentara luz.
Outro sente uma dor de cabeça constante e, apesar do desconforto, fala de suas noites em claro não como uma insônia comum, mas como algo potente, que o agiganta.
Uma dupla tenta discorrer sobre as coisas que “nos preenchem”, porém lhes faltam palavras. Não conseguem definir o que seriam elas e terminam em frases incompletas.
Estão juntos, mas desconectados um do outro. “É um simulacro de relações. Eles se relacionam para o que é absolutamente individual e quase utilitário”, diz Marques.
Em contraponto a isso, o cenário é bastante realista: um grande sofá, que pressupõe a comunhão entre pessoas. Mas as quatro figuras parecem ter uma cisão entre sua presença física e suas falas. “Eles estão aqui, mas seus corpos estão degringolados”, afirma Névoa.
Até quando uma personagem recebe um abraço, reage de forma apática. “Eu quase senti coisas lindas” diz ela.
Parecem se relacionar apenas em momentos violentos, como quando comentam vídeos de agressões policiais ou quando sentem um prazer estranho em bater no outro.
“Nessa tentativa de se desconectar desse mundo” afirma Névoa, “criamos nódulos e as violências vá o escapando”.
Insones
D o primeiro, comenta o dramaturgo, pinçaram o conceito de que dormir significaria profanar a liturgia do capitalismo. "Se você dorme, não consome, não produz."
É uma sociedade em que sente-se angústia por não produzir, continua Kiko Marques, diretor da montagem.
“A gente se sente obrigado a criar e a se divertir sempre.
Vivemos numa ditadura da felicidade, e criamos representações falsas de felicidade.”
Os insones do espetáculo forçam a todo momento alguma forma de diversão. Dançam, ainda que de modo mecânico e visivelmente desconfortável, brindam sem saber com quem ou por que.
Uma delas, um tanto paranoica, irrita-se com as sombras sobre o chão e a cada instante resolve aumentara luz.
Outro sente uma dor de cabeça constante e, apesar do desconforto, fala de suas noites em claro não como uma insônia comum, mas como algo potente, que o agiganta.
Uma dupla tenta discorrer sobre as coisas que “nos preenchem”, porém lhes faltam palavras. Não conseguem definir o que seriam elas e terminam em frases incompletas.
Estão juntos, mas desconectados um do outro. “É um simulacro de relações. Eles se relacionam para o que é absolutamente individual e quase utilitário”, diz Marques.
Em contraponto a isso, o cenário é bastante realista: um grande sofá, que pressupõe a comunhão entre pessoas. Mas as quatro figuras parecem ter uma cisão entre sua presença física e suas falas. “Eles estão aqui, mas seus corpos estão degringolados”, afirma Névoa.
Até quando uma personagem recebe um abraço, reage de forma apática. “Eu quase senti coisas lindas” diz ela.
Parecem se relacionar apenas em momentos violentos, como quando comentam vídeos de agressões policiais ou quando sentem um prazer estranho em bater no outro.
“Nessa tentativa de se desconectar desse mundo” afirma Névoa, “criamos nódulos e as violências vá o escapando”.
Insones
Folha de S. Paulo