Os fantoches são conhecidos também como bonecos de mão ou bonecos de luva. É que neste caso não existem cruzetas e fios. O boneco é vestido nas mãos como se fosse uma luva. O dedo indicador faz às vezes do pescoço – dando suporte à cabeça; e os dedos polegar e anular fazem às vezes dos braços.
Existem outras possibilidades de “vestir” o boneco, mas a forma acima descrita é a melhor, a mais adequada por possibilitar uma performance arrojada em cenas em que seja necessário segurar objetos, ferramentas e instrumentos cênicos. Uma vela num cortejo fúnebre, uma flor para a mulher amada, uma peixeira ou um porrete numa briga com o guarda, são cenas hilariantes, possibilitadas - em grande parte - graças à capacidade do boneco de segurar com destreza e firmeza objetos e instrumentos.
Movimentando-se atrás de uma empanada, o ator - à medida que mexe o braço, pulso, mão e dedos - anima o boneco, impregnando-o de energia e vida. Como o boneco é vestido na mão, seu corpo é de tecido. Na maioria das vezes a parte visível do boneco é da cintura para cima, razão porque são raros os bonecos com pernas.
Enquanto as mãos são confeccionadas de madeira, feltro, borracha ou plástico; a cabeça pode ser fabricada utilizando como material o papier-maché, a madeira, o isopor, a cabaça, sucata e tudo o mais que a criatividade do titeriteiro ousar permitir.
Geralmente os bonequeiros que utilizam bonecos de luva encenam suas peças abrigados dentro de uma pequena barraca, uma cabine em forma de quadrado, que os escondem por inteiro.
Desta forma, para tornar os bonecos visíveis para a platéia, o ator é obrigado a estender os braços – quando está manipulando dois bonecos simultaneamente. Esta posição – em que os braços são mantidos esticados, acima da cabeça - exige redobrado esforço físico, razão porque exercícios com os braços, pulsos, mãos e dedos são fundamentais para a prática desta atividade.
Esta estrutura cênica – a pequena barraca - é bastante apropriada. Prática, possibilita que o titeriteiro arme, desarme e transporte-a com relativa simplicidade e rapidez, demandando pouco tempo e esforço físico.
Por outro lado, em virtude de manter o titeriteiro longe da vista da platéia, possibilita que um único ator manipule e interprete diferentes bonecos, diferentes personagens, ocorrendo casos em que uma peça inteira, com dez, quinze personagens, é apresentada por um único artista.
Esta plasticidade possibilita que as peças sejam apresentadas em qualquer espaço. Seja em um teatro convencional, com o palco à italiana, em um pátio de escola, um solário de um presídio, um refeitório de uma unidade fabril, uma praça ou logradouro público, qualquer lugar é espaço adequado, um “teatro” onde a peça pode ser apresentada.
Com este mesmo arranjo estrutural se apresenta o teatro de bonecos de vara. Como se fosse uma coluna dorsal, uma vara atravessa todo o corpo, dando sustentação ao boneco. Para dar movimentos às mãos e eventualmente às pernas, são utilizadas varas mais finas e flexíveis. O manipulador levanta os bonecos por sobre a empanada, dando curso à sua apresentação.
Quando promovemos a interação dessas duas técnicas construtivas –luva e vara – obtemos um boneco cuja expressividade dramática é de alto impacto. Neste tipo de boneco, o corpo – confeccionado de tecido - é vestido pelo braço do ator; a mão do manipulador segura a haste fixada à cabeça; e os braços do boneco adquirem movimento através de varas delgadas. Esta técnica permite um extraordinário recurso: dobrar o corpo do boneco, expressando reverência, prazer, dor ... Como a cintura do boneco se encaixa exatamente no punho do ator, com o simples movimento de dobrá-lo, o manipulador consegue fazer o boneco se curvar.
Esta tecnologia construtiva é a tida como prioritária pelo teatro popular de bonecos Mané Beiçudo. Não descarta as demais, mas ao dar preferência aos bonecos e luva e vara, captura a plasticidade, a flexibilidade e a trivialidade do formato.
Antônio Carlos dos Santos criou a metodologia Quasar K+ de Planejamento Estratégico e a tecnologia de produção de teatro popular Mané Beiçudo.
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