"O irlandês" estreia no
Festival de Nova York, mas exibição terá circuito restrito nos EUA até chegar à
Netflix em novembro. Novo filme de diretor premiado se torna evento midiático,
também graças ao elenco.
Al Pacino e Robert De Niro em "O irlandês": dupla dos sonhos do cinema americano |
Mais hype impossível. Apesar
de outros grandes nomes como Steven Spielberg, Francis Ford Coppola ou Quentin
Tarantino, Martin Scorsese é visto por muitos especialistas como o melhor
diretor americano em atividade.
E claro que isso permanece uma
questão de gosto e uma avaliação subjetiva. Mas considerar Scorsese o mais
importante cineasta americano na recente história do cinema do país
encontraria, provavelmente, pouca resistência.
Um filme de Scorsese é sempre um
evento. Desde que o diretor deixou sua marca na história do cinema com filmes
como Taxi driver, Touro indomável e Gangues de Nova York,
o público e os críticos passaram a adorá-lo. E, diferentemente de seus colegas
cineastas do cinema da Nova Hollywood dos anos 1960 a 1980, Scorsese,
nascido em Nova York em 1942, continua ativo como diretor.
E é também na metrópole
americana que seu novo filme – O irlandês – produzido pela Netflix
celebra, nesta sexta-feira (27/09), sua estreia mundial no Festival de Cinema
de Nova York.
Jodie Foster e Robert De Niro em "Taxi driver", sucesso de Scorsese de 1976 |
No final da década de 1960 e na
década seguinte, Arthur Penn, Mike Nichols, Robert Altman e outros tiraram o
cinema americano do atoleiro, com novos temas e uma nova estética. Filmes como A
primeira noite de um homem, Bonnie e Clyde e Easy rider foram
só um começo.
Nos anos seguintes, Scorsese
tornou-se um dos diretores mais importantes dessa reinvenção cinematográfica. E
o americano com raízes italianas permaneceu fiel à sua origem artística até
hoje. Sucessos de bilheteria e filmes de super-heróis nunca o interessaram.
Sua especialidade, no entanto, foram
filmes da máfia. Nova York permaneceu sua locação predileta. Obras como Os
bons companheiros, Cassino ou Os infiltrados redefiniram
completamente o gênero de filmes policiais. Com O irlandês, o diretor
continua essa tradição. É provável que o elenco de seu novo filme tenha
contribuído para o hype em torno do "novo Scorsese" mesmo
antes da estreia.
Dupla dos sonhos em "O irlandês"
O diretor já rodou oito filmes com
Robert De Niro, que é considerado seu ator predileto. E também aqui, nos
últimos anos, os especialistas gostam de recorrer a superlativos: De Niro tem
sido descrito muitas vezes como "o melhor ator de sua geração".
Scorsese/De Niro são considerados uma
dupla dos sonhos do novo cinema americano, mas não trabalham juntos há mais de
20 anos. Além de Robert De Niro, o fato de Al Pacino assumir um papel
importante no filme confere ao elenco de O irlandês um peso adicional de
estrelas. Também Joe Pesci, ator costumado a trabalhar com Scorsese, retorna às
telas após quase 20 anos de abstinência cinematográfica.
No filme, Scorsese conta a história
de Frank "o irlandês" Sheeran, assassino de aluguel lendário por
várias décadas na história criminal dos Estados Unidos. O diretor se baseou
numa biografia publicada em 2004 pelo autor americano Charles Brandt. Sheeran,
interpretado por De Niro, serviu como soldado na Europa durante a Segunda
Guerra Mundial.
No início, ainda eram aliados: Hoffa (Al Pacino) e Sheeran (De Niro) |
Carreira de um assassino de aluguel
Após a guerra, ele exerceu diferentes
profissões até entrar em contato com círculos da máfia. Ali, ele se tornou um
assassino implacável da Cosa Nostra. Consta que Sheeran esteve envolvido, entre
outros, no assassinato do poderoso chefe sindical americano Jimmy Hoffa (no
filme: Al Pacino), em 1975.
Várias fontes o apontam como
principal culpado. O assassinato de Hoffa, até hoje não esclarecido
completamente, é considerado nos EUA como um dos crimes mais discutidos da
história criminal. Especialmente porque o corpo de Hoffa nunca foi encontrado.
Somente sete anos após o desaparecimento do poderoso sindicalista, que tinha
numerosos contatos com a máfia, ele foi declarado oficialmente morto.
Esse crime é o foco do filme.
Scorsese mostra em longos flashbacks – as memórias de Frank Sheeran – a vida de
um assassino contratado pela máfia. Aparentemente, isso também devorou grande
parte dos custos de produção: todos os atores tiveram que passar por um enorme
processo de rejuvenescimento, um desafio para o departamento de efeitos
especiais, que foi dirigido, entre outros, pela Industrial Light & Magic (Guerra
nas estrelas).
Custos altos
O irlandês se tornou o filme mais caro de Scorsese. Como
resultado, o produtor e o estúdio realizador (Paramount) abandonaram o projeto,
e o serviço de streaming Netflix assumiu a produção. Isso levou, por sua
vez, a especulações sobre a estreia da nova obra de Scorsese, que se tornou um
assunto muito discutido no setor.
Um filme muito caro (fala-se em cerca
de 200 milhões de dólares em custos de produção e de 100 milhões em direitos de
venda para a Netflix) desse diretor e amante incondicional do cinema, para ser
visto apenas numa tela pequena para uso doméstico?
O novo filme de um homem que se
engaja há anos pelo cinema em grandes telas e financia com muito dinheiro o
restauro de tesouros da história cinematográfica num provedor de streaming?
Para muitos fãs de Scorsese e amantes de cinema, na verdade, é um absurdo.
Cenário também devorou boa parte do orçamento de "O irlandês" |
Depois de "Roma", golpe de
mestre com "O irlandês"
Recentemente, a Netflix conseguiu dar
um golpe de mestre ao produzir o filme Roma, essa também uma realização cinematográfica
que só mudou para o streaming durante o processo de produção.
No entanto, como apenas filmes que
foram anteriormente exibidos pelo menos uma semana nos cinemas em Los Angeles
têm chance no Oscar, Roma apareceu brevemente no cinema. O filme do
diretor mexicano Alfonso Cuarón acabou sendo uma ótima propaganda para a
Netflix. Ele foi convidado para o Festival de Veneza, onde ganhou o Leão de
Ouro – e depois vários Oscars.
O mesmo jogo pode se repetir agora no
caso de O irlandês. Após a estreia mundial no Festival de Cinema de Nova
York, ele será exibido em mostras nos EUA, Europa e Ásia.
Nos cinemas americanos, o trabalho
mais recente de Scorsese vai estar em circuito restrito em 1° de novembro –
também no Reino Unido, ele poderá ser visto somente em alguns cinemas a partir
de 8 de novembro. Assim, as chances de Oscar estão garantidas. O lançamento na
Netflix está programado para 27 de novembro.
Do Deutsche Welle