A metodologia de produção do teatro popular de bonecos Mané
Beiçudo não se limita aos instantes da apresentação dramática propriamente
dita.
Na semana anterior à apresentação do
espetáculo, é elaborado um diagnóstico sobre a realidade da comunidade, quando
se obtém informações importantes que comporão o núcleo, o esqueleto do texto
dramático. Neste primeiro momento, denominado Fábrica Ex-Ante, subsídios são
colhidos, pesquisas realizadas, questionários aplicados, dados recolhidos,
tabulados e tratados transformando-os em informações que serão utilizadas para
compor o texto improvisado.
Nesta oportunidade, os valores,
manifestações e tradições culturais locais são resgatados e os artistas locais
identificados e convidados a participar do projeto. No caso dos artistas
locais, contando causos, relatando a história da comunidade, reproduzindo seu
fazer artístico.
Este trabalho estrutura então a coluna
dorsal do espetáculo, enfatizando a realidade específica da comunidade, seus
problemas, sua cultura e sua história. Portanto, a identificação da platéia com
o espetáculo ocorre de forma intensa e integral.
Toda a estrutura do Mané Beiçudo gira em torno
da improvisação, com os bonecos provocando a platéia de modo a radicalizar o
processo de participação. Entre as passagens, pequeninos atos que dividem o
espetáculo, são então incorporadas inserções específicas que retratam o modo de
ser, agir e pensar dos integrantes da comunidade abordada.
As passagens do espetáculo
É da essência do Teatro Mané Beiçudo
transmitir uma massa de dados e informações estratégicas para que platéia e a
comunidade consigam processar tanto o espetáculo como a realidade na qual se
inserem.
Para que o espetáculo teatral não deixe de
expressar seu fundamental componente plástico, lúdico e onírico, é utilizado um
conjunto de mecanismos, cujo objetivo é diluir uma eventual rigidez das
mensagens, torná-las fluídas, leves, retirando delas tudo que lembre
formalidade burocrática. Daí a importância de radicalizar elementos cênicos
como a iluminação, a sonoplastia, a cenografia, a maquiagem, a expressão
corporal,...
Para quebrar a rigidez das mensagens,
utilizamos entre uma e outra, pequenas cenas, passagens geralmente
caracterizadas pelo humor e pela leveza. Por isto se recorre aos habitantes
mais antigos, aos artistas populares mais experientes da localidade para
recolher, da própria comunidade, estórias, causos, narrativas, piadas que –
reelaboradas e contextualizadas, se transformarão nas passagens hilárias do
espetáculo.