A morte de dez camponeses, dia 24 de
maio deste ano, em uma operação policial em Pau D´Arco, no Pará, não pode cair
no esquecimento nem ficar impune. O pedido foi feito por lideranças sociais que
acompanham o caso e parentes das vítimas, durante ato público na noite desta
quarta-feira (5), na sede regional da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), no
Rio de Janeiro.
“A experiência histórica do Brasil é
que de todos os homicídios de mortes no campo, nos últimos dez anos, só três
pessoas foram julgadas e condenadas. O histórico de nossa realidade é sempre
negar, não se investiga a participação do Estado nem do latifundiário. No
máximo, se pune o pistoleiro”, disse o advogado da Liga dos Camponeses Pobres
do Pará, Felipe Nicolau.
Nicolau disse que a questão agrária
no estado é muito grave, com superposição de títulos de terras, muitos com
indícios de serem falsificados, usados por fazendeiros para garantir a posse
das áreas, o que gera insegurança e violência.
“A questão agrária se agudiza no Pará. Com toda a certeza, o que houve
ali foi uma chacina. Muitas vítimas foram torturadas. A ação da polícia foi de
matar. Falam na região em uma aliança de latifundiários para intimidar a ocupação
de terras”, disse Nicolau. Policiais alegaram que foram recebidos a tiros pelos
camponeses, mas a perícia não constatou tiros em nenhum dos militares nem nas
viaturas.
Família quase destroçada
Uma das dez vítimas mortas pela polícia foi Ronaldo Pereira de Souza,
marido de Sterfa da Silva Gonçalves, que ficou viúva com um bebê que tinha 29
dias na época. Ela também luta para que o caso não caia no esquecimento.
“A gente pede por justiça. É o que eu quero e estamos lutando. A minha
vida está bagunçada, pois o meu apoio era ele. Agora estou na misericórdia de
Deus, mas a gente não vai desistir da área. Eu não vou desistir. Minha família
foi quase destroçada, uma tragédia muito grande”, lamentou Sterfa, de 25 anos,
que admite viver com medo, pois não confia na polícia para lhe garantir
proteção.
Durante o ato, foi apresentado o documentário Terra e Sangue –
Bastidores do Massacre de Pau D'Arco, dirigido por Patrick Granja, que
esteve no local, colhendo imagens e depoimentos quatro dias após a chacina.
Por Vladimir Platonow, da
Agência Brasil
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