A sátira política; a crítica social; o cotidiano e o dia a dia; a ironia e o sarcasmo; o decoro, a decência e a obscenidade; as intrigas sentimentais; as reflexões filosóficas e morais; as personagens inspiradas na gente simples do povo e em seus algozes; o humor irreverente levado às últimas consequências... Misture tudo às mazelas que caracterizam os países em desenvolvimento - estejam na África, estejam na América Latina - e estará criado o denso caldo de onde Antônio Carlos dos Santos extraiu o surpreendente enredo “A comédia do homem perfeito”.
Uma pequena cidade do interior de um país qualquer é tomada por uma rede de corrupção que corrói as instituições e as organizações da sociedade civil, tornando a população refém de um sistema cruel e desumano, uma complexa estrutura que reduz os moradores à condição de rebanho, manada a ter a carne retalhada no abatedouro, mera provisora de sangue para os vampiros e parasitas de plantão.
Através de quadros hilários que exploram a alegria farta e generosa, a jocosidade crítica e prazerosa, o texto convida o leitor a, navegando dentre as cenas, refletir sobre a absurdidade do mundo político.
O prefeito e os políticos que deveriam zelar pela gestão eficaz, pelo atendimento à legítimas demandas populares; as lideranças religiosas que deveriam servir aos enfermos espirituais, conduzir pelos caminhos do desconhecido; os movimentos sociais que deveriam ecoar o clamor popular por justiça e sustentabilidade, representar, defender o bem comum; toda a superestrutura econômica, cultural e ideológica organiza-se em quadrilhas para aparelhar o estado, consolidando a maior rede planetária de corrupção.
Para atingir os seus infames objetivos, as personagens centrais da trama teatral aliciam, subornam seduzem, degradam, emboscam, sequestram, extorquem, assassinam, utilizando o povo tão somente como escada, massa de manobra, bucha de canhão, instrumento para o deleite e a plena satisfação dos grupos de interesses.
Navegar por temas tão densos e complexos, e, ainda, de forma divertida, levar os leitores a refletir sobre a condição humana e os processos de desumanização, fez o autor mergulhar na comédia, o gênero mais aberto e democrático do mundo teatral, corroborando, assim, a máxima de que “ridendo castigat mores’ – sorrindo corriges os costumes.
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