sexta-feira, 24 de novembro de 2017

Antiga tradição, ópera chinesa torna-se raridade no Sudeste Asiático

Foto de 3 de novembro da ópera Lhong 1919, representada em Bangcoc. EFE/ Treethep Srisanga

A ópera chinesa transformou-se em uma raridade no Sudeste Asiático, apesar de boa parte da população da região ser procedente da China, onde chegou no passar dos séculos em sucessivas ondas migratórias.
Os conflitos armados e as motivações políticas levaram à suspensão das representações em Laos, Vietnã, Camboja e Indonésia, e os únicos países do subcontinente em que a ancestral arte cênica ainda sobrevive são Tailândia, Malásia e Cingapura.
Os primeiros espetáculos remontam à China do século X como uma forma de entreter o imperador e que adquiriu caráter religioso quando chegou aos templos de tradição taoísta, como exigência dos crentes e tributo aos antepassados.
Após um longo período de transmissão oral, as partituras e roteiros só começaram a ser transcritos na dinastia Ming (séculos XIV-XVII), da qual datam clássicos como Mu dan Ting ('O pavilhão da Peônia'), composto pelo poeta Tang Xianzu.
"Essa peça é de 1598, mas ainda é representada atualmente", disse à Agência Efe o musicólogo Ampan Charoensuklarp, lembrando que constam dessa época as primeiras encenações na Tailândia, durante o reino de Ayutthaya, ao norte de Bangcoc.
"No começo, o público era composto pela diáspora chinesa, mas depois espectadores locais se incorporaram", disse o especialista, de 74 anos, que após se formar na China dedicou sua vida a garantir a sobrevivência desse tipo de ópera no país.
De origem chinesa, Ampan ressaltou que os espetáculos abordam, como na ópera europeia, a paleta completa de paixões humanas.
"Também o propósito de ilustrar o povo e as mensagens moralizantes, em grande medida em defesa do poder", apontou.
Em contraste com a ópera ocidental, a chinesa recorre a disciplinas como artes marciais e acrobacias, assim como à utilização de máscaras e ao uso simbólico das cores - cada uma tem um significado diferente.
Ampan, que reconhece o declínio dos espetáculos na Tailândia - onde têm quatro séculos de antiguidade, mas agora não são realizados mais de três ou quatro por ano -, adaptou e traduziu para o tailandês várias obras para que não desapareçam as funções locais.
Uma delas foi encenada neste mês em um enclave da comunidade chinesa que foi reabilitado no centro de Bangcoc.
"Bao Zheng" narra a história de um lendário juiz que viveu na China durante a dinastia Song (séculos IX-XIII) e que teve que encarar o doloroso dilema de escolher entre a justiça e a família quando se viu obrigado a julgar um sobrinho por corrupção.
Apesar das contínuas súplicas e prantos de sua irmã, mãe do acusado, o juiz finalmente condenou seu sobrinho à morte.
O papel de Bao Zheng é interpretado na capital tailandesa pelo ator local conhecido como Somboon, também de ascendência chinesa e que lamenta o fato de a opera estar "se perdendo" na Tailândia.

EFE

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