Recuperado das
dores que o impediram de continuar colaborando com o presidente Michel Temer,
leve e solto, o senador José Serra deu para fazer graça. Jantando com
correligionários, diagnosticou: o PSDB necessita de tratamento psicológico.
Faltou fornecer o perfil do profissional: especialista em suicidas e obcecados
pelo poder. Pois é disto que se trata.
Serra, Aécio e
outros tantos tucanos vêm fazendo das tripas o coração para destruir o partido.
Só pensam em si e teimam em não aceitar o óbvio. A hora de pendurar as
respectivas chuteiras já passou. Serra recobrou suas energias e ambições. Os
convivas reunidos na cantina foram informados que a Lava-Jato "perdeu
ritmo". Tradução: o senador já conta com a garantia de que sairá ileso das
graves acusações - a de ter organizado um cartel entre as empreiteiras e a de
manter contas na Suíça - que pesam sobre suas vértebras combalidas.
Com certeza, a
manifestação recente da Procuradora-Geral da República alimentou a segurança do
senador. Raquel Dodge afirmou que o Repasse de R$ 500 mil da Odebrecht ao
ministro Aloysio Nunes, citado com Serra nesta investigação, é incontroverso.
Esclareceu, contudo, que restam dúvidas sobre a 'origem e finalidade' da
transferência. Generosa e apaziguadora, a procuradora acrescentou que os dois
não têm com o que temer, pois a combinação entre a data do ocorrido e a idade
de ambos garante a prescrição da pena. São, digamos assim, delitos provectos.
PSDB flerta seriamente com o suicídio eleitoral
Há uma razão
adicional para a tranquilidade dos tucanos. O relator do inquérito no Supremo
Tribunal Federal não é outro senão o ubíquo ministro Gilmar Mendes. Sempre que
tem gente do PSDB envolvida, misteriosa e aleatoriamente, a escolha recai sobre
Gilmar. Clarividente e imparcial, o ministro presidente não viu razões para se
declarar impedido. O fato de Gilmar ter aberto as portas de sua casa para
comemorar os 75 anos de Serra, está claro, não demonstra proximidade entre os
dois.
A Lava-Jato, de
fato, perdeu seu ímpeto. O governo está cuidando disto. Eliseu Padilha, cansado
de esperar que o ministro Torquato Jardim encontrasse o momento oportuno para
fazer a intervenção que lhe rendeu o cargo, chamou a si a tarefa e promoveu a
troca da chefia da Política Federal. O nome do indicado surpreendeu a todos,
mas basta olhar os citados como possíveis responsáveis pela indicação - Augusto
Nardes, José Sarney e Gilmar Mendes para saber que apito vai tocar.
Curitiba não se
manifestou sobre a troca. A ficha dos integrantes da força-tarefa já deve ter
caído. Sequer cogitaram recorrer à bravata usual, a renúncia. O pedido seria
aceito prontamente. Faz tempo que Moro e colegas perderam a capacidade de usar
o apoio popular à operação. Moro, o estrategista da turma, talvez já se tenha
dado conta que em lugar de usar, foi usado pela 'opinião pública esclarecida'.
As investigações já não contam com o apoio generalizado com que contavam tempos
atrás.
Basta ler os
editoriais de "O Estado de S. Paulo" para ter claro que a cruzada
moralizante chegou ao fim. Nesta semana, por exemplo, o jornal comemorou o
arquivamento de processos contra governadores. Significativamente,
desqualificou os depoimentos do ex-diretor da PETROBRAS Paulo Roberto Costa,
sem os quais, como sabem todos que conhecem a história da Lava Jato, a operação
não teria saído do papel. Agora, com Temer no poder, delações apenas
"colaboram para a disseminação da ideia de que o país está engolfado pela
Corrupção, que é o que pretendem justamente os justiceiros que as
produzem". A conclusão é um primor: "Seu [delação] único efeito
concreto é a desmoralização da luta contra os verdadeiros corruptos".
Por isso mesmo,
porque pode dar como certo que não está entre os 'verdadeiros corruptos', Serra
arregaçou as mangas e anunciou que vai à luta. Declarou que se sente renovado,
com disposição para enfrentar as eleições do ano que vem. Não tem claro,
contudo, qual cargo disputará, pois ainda "não possui elementos para poder
decidir".
Aécio Neves, não
sem antes fazer questão de estender o sacrossanto direito de se agarrar a
cargos à ministra Luislinda Valois, com quem fez questão de ser fotografado, se
apressou em fornecer um dos 'elementos' de que Serra carecia: o controle sobre
o partido.
A destituição de
Tasso Jereissati vai muito além do desembarque do governo. O que está em jogo é
a candidatura do partido à Presidência em 2018. O presidente interino do
partido influencia o sucessor de Aécio e este, por seu turno, caberá montar a
convenção do partido que escolhe o candidato à Presidência.
O interventor
nomeado por Aécio é ninguém menos que Alberto Goldman, que por acaso é próximo
do senador José Serra e do ministro Aloysio Nunes. Entrevistado, o ministro
declarou que a manobra de Aécio foi "legítima estatuariamente e correta do
ponto de vista político". Disse ainda que a intervenção é a melhor forma
de impedir que Lula vença a eleição de 2018.
Tasso já declarou
publicamente que seu candidato à Presidência da República é o governador de São
Paulo, Geraldo Alckmin. Não por acaso, Alckmin, acusou o golpe: "Eu não
fui consultado. E, se fosse, teria sido contra, porque não contribui para a
união do partido".
Já João Doria,
sempre pronto a mostrar sua lealdade e firmeza de princípios, viu 'justiça' na
ação de Aécio. Sequer enrubesceu ao apoiar o velho comunista que ontem queria
ver vestido com o pijama listrado dos aposentados. O novo e o velho PSDB se
confraternizaram.
Serra está certo.
Isto é coisa de louco. Só um terapeuta dos bons para entender a 'tucanada'. O
problema, contudo, não é a proverbial incapacidade do partido em tomar
decisões. Ao contrário. Desde que optou por trafegar pela ponte armada por
Temer e companhia, o PSDB tomou e vem tomando decisões. As erradas. As piores.
Flerta seriamente com o suicídio eleitoral.
Por Fernando Limongi, no Valor Econômico
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