'Não seremos silenciadas': A carta assinada por mais de 7 mil mulheres que escancara o assédio sexual nas artes |
"Nós
não estamos surpresas. Nós somos artistas, administradoras, assistentes,
curadoras, diretoras, editoras, educadoras, estudantes, escritoras e mais --
que trabalham no mundo das artes -- e nós somos assediadas, infantilizadas,
depreciadas, ameaçadas e intimidadas por aqueles em posição de poder."
Assim começa uma carta aberta assinada por cerca de 7 mil mulheres de todo o lugar do mundo. O documento é
um manifesto que escancara o assédio sexual e abuso de poder que
recorrentemente acontecem no meio artístico, na esteira de uma série de
acusações de abusos sexuais contra diretores, produtores e atores.
O produtor Harvey Weinstein recebeu
mais de 50 denúncias de mulheres, que relatam assédios e abusos cometidos em
décadas. Terry Richardson, o fotógrafo de renomadas revistas americanas, também
sofreu boicotes após ser acusado por uma série deassédios sexuais.
"Nós não estamos surpresas
quando curadores oferecem exibições ou aporte financeiro em troca de favores
sexuais. Nós não estamos surpresas quando galeristas romantizam, minimizam ou
escondem comportamentos abusivos dos artistas que os representam. Nós não
estamos surpresas quando uma reunião com um colecionador ou um potencial patrão
se torna uma proposta sexual. Abuso de poder não é uma surpresa",
continuou a carta, que conta com nomes renomadas de todo o mundo, como a
fotógrafa e diretora Cindy Sherman, a artista contemporânea e ganhadora do
Prêmio Turner, Helen Marten, a compositora e cantora Laurie Anderson e a
artista contemporânea Jenny Holzer.
A carta também é assinada por mais de
30 brasileiras, como a produtora de exibições do Instituto Moreira Salles,
Marina Marchesan, a professora e curadora do Museu de Arte Contemporânea da
Universidade de São Paulo, Ana Magalhães, e a curadora da Pinacoteca de São
Paulo, Fernanda Pitta.
Nós somos silenciadas, hostilizadas,
demitidas por "exagerar" reações e ameaçadas quando tentamos expor um
comportamento sexual e emocionalmente abusivo. Não seremos mais silenciadas.
A iniciativa começou com uma
discussão entre mulheres em um grupo de WhatsApp. Ao The Guardian, Sarah
McCrory, diretora do Centro de Arte Contemporânea em Goldsmiths, na
Universidade de Londres, disse que a carta nasceu depois que mulheres do setor
começaram a conversar sobre assédio sexual em no WhatsApp.
"Foram três dias muito intensos,
mas também um exercício muito encorajador. Começou de discussões em uma rede
social entre colegas de profissão sobre como reagir ao caso de Artforum",
disse Sarah, se referindo a Knight Landesman, diretor da revista de arte
ArtForum, uma das mais influentes no mundo da arte.
O diretor é acusado de assédio sexual
em uma ação apresentada em Nova York por uma ex-funcionária da revista, Amanda
Schmitt. Segundo ela, o diretor teria abusado de mais oito pessoas.
Além de jogar luz sobre o tema, o
movimento contra o abuso sexual no meio artístico quer expor casos e incentivar
outras mulheres a denunciar esses abusos.
Essa carta é o primeiro passo. Nós
vamos continuar expondo e agindo contra esses problemas como parte de um grande
processo, construindo os próximos passos conforme o recebimento de feedbacks.
HuffPost News
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