Aluna faz colagem com fotos de Fidel Castro, em escola de Havana |
Eles são estudantes, funcionários
públicos, trabalhadores do setor informal ou blogueiros, e fazem parte de uma
juventude disposta a encarar o futuro em Cuba, embora a era pós-Castro, que se
aproxima, alimente preocupações.
Alguns se preocuparam pelo o que
aconteceria depois da morte de Fidel Castro, mas sua morte há um ano não trouxe
grandes mudanças para o país. Os irmãos Castro tomaram providências para
garantir uma transição ordenada.
Fidel, doente, cedeu o poder a
seu irmão em 2006. Dentro de três meses será o turno de Raúl, de 86 anos, de
passar o bastião a uma nova geração pela primeira vez em quase seis décadas.
Uma perspectiva que traz muitas incertezas inclusive entre os militantes
comunistas.
Toda noite, a juventude
"habanera" ao Malecón, onde bebem rum, cantam e conversam até o
amanhecer. Mas sobretudo eles navegam na internet graças às zonas wifi
instaladas em 2015.
Residente em cardiologia no
hospital Calixto García, Ernesto Jiménez, de 29 anos, se diz otimista sobre
futuras transformações, mas teme que isso tome "muito tempo".
"As poucas mudanças nesses tempos desde que nasci, nesses 29 anos, foram com
muito trabalho", recorda.
"O econômico é o que mais
atinge a população cubana e acho que melhorando isso, melhoraríamos
muito", explica este jovem, com um salário de 1.300 pesos ao mês (52
dólares).
Laisi Chi, estudante de 22 anos
caminha em frente à Universidade de Havana, reduto de militantes do Partido
Comunista de Cuba (PCC). O jovem proclama sua "confiança no socialismo
cubano, na revolução, que continue, que se mantenha".
Laura León, de 18 anos, está na
mesma órbita. "Temos grandes ideais e os temos bem arraigados, estamos bem
definidos no que queremos (...) e a nova geração saberá cumprir com o
legado", assegura a estudante.
No entanto, os dois admitem que
serão necessárias reformas para modernizar o país e sobretudo o atual modelo
econômico soviético já obsoleto, apesar da tímida abertura iniciada por Raúl
Castro.
"A ilha vai sofrer
transformações porque os momentos atuais exigem isso (...) tudo o que ocorre no
mundo implica em que haja uma transformação no país", reconhece León,
enquanto que Chi considera que a revolução deve se abrir "um pouco mais ao
mundo".
- "Transição ou ilusão" -
Engenheiro em uma empresa
estatal, Mario (nome modificado a seu pedido) é um desses cubanos que recorrem
ao setor informal da economia para fechar o mês.
Aos 36 anos, faz parte da vasta
rede de vendedores do "pacote", uma compilação de conteúdos
áudio-visuais estrangeiros e filmes americanos em memórias USB, que circula
semanalmente de forma tolerada.
Ao contrário de muitos jovens,
Mario diz à AFP que quer permanecer em Cuba, embora ache que a "ilha vai
continuar igual". "Acho que vai continuar sendo da mesma linha, não
acredito que haverá muitas mudanças", com os novos dirigentes, afirma.
Não importa a ele uma mudança de
governo. Simplesmente sonha com "um melhor poder aquisitivo e mais
oportunidades de trabalho privado", que emprega 20% da população ativa.
Yunior García (35), diretor de
uma companhia de teatro em Holguín (nordeste) é outro dos poucos que não vê seu
futuro fora da ilha, embora, diga que "em Cuba todo mundo sabe que as
coisas não vão bem".
"Não podemos sentar e
esperar passivamente que seja essa mudança feita pelos outros. Se não gosto de
algo, acho que cabe a mim mudar", acrescenta o artista, criticado por sua
sinceridade.
Abraham Jiménez, de 28 anos,
lamenta que os jovens cubanos estejam hoje "mais empenhados em resolver
seus problemas particulares do que nos problemas nacionais". "Só
querem melhorar, ter um prato de comida, ter um par de Nike e viajar".
Este blogueiro, que dirige o site
de informação independente "El Estornudo", não vê salvação nem na
dissidência envelhecida que não é ouvida nem na juventude indiferente.
"Os únicos que se preocupam
com isso (com a política) estão nos extremos: os que têm interesses mais
pessoais do que políticos e os que são como clones dos que estão dirigindo o
país", lamenta.
Finalmente, adverte, a transição
de fevereiro do ano que vem não será realmente uma mudança, "porque no fim
quem governa em Cuba é o chefe do PCC", já que Raúl Castro deve se manter
até o próximo congresso do Partido em 2021.
AFP
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