Uma réplica em tamanho natural de um
barracão de prisioneiros judeus, objetos e peças de vestuários, posters da
propaganda nazista. Logo na entrada, a famosa frase do portão do campo de Auschwitz Arbeit
Macht Frei (O trabalho liberta em tradução livre), seguida
pela foto de Anne Frank, a garota alemã cujo diário se transformou em uma das
mais conhecidas obras do período do Holocausto. Uma exposição inaugurada ontem (9) em São Paulo vai levar o visitante de volta ao passado para um período
importante, embora trágico, da história mundial.
Considerado um dos episódios mais
cruéis da humanidade, o Holocausto vitimou durante a Segunda Guerra Mundial
mais de 6 milhões de judeus, entre eles 1,5 milhão de crianças, mas ainda é
pouco conhecido entre os brasileiros, especialmente os mais jovens. Para
preencher essa lacuna, oMemorial da Imigração Judaica inaugurou a exposição
permanente sobre o tema e passa a se chamar, a partir de hoje, Memorial da Imigração
Judaica e do Holocausto.
“Essa preservação da memória é
fundamental e é feita no mundo inteiro, há museus do holocausto nas maiores
capitais do mundo, então uma capital como São Paulo não podia deixar de ter seu
Memorial do Holocausto”, diz o professor de história judaica Reuven Faingold,
diretor de projetos educacionais do Memorial.
Desde sua concepção até sua
inauguração, a mostra consumiu seis meses de preparação, com um eixo central:
além de ser uma exibição de objetos, fotos ou vídeos históricos, é um local que
produz um efeito sensorial no visitante. “Tentamos fazer um museu vivo, no
sentido de que o visitante sinta na pele um pouquinho do que aqueles
prisioneiros sentiram”, diz Faingold.
“O visitante vai encontrar uma vitrine
subterrânea com o prisioneiro e sua ração de comida, que era um pouco de
batata; ele vai ver a construção de um comércio judaico em Berlim e efeitos
sonoros como a quebra dos vidros dessas lojas durante a Noite dos Cristais, no
dia 9 novembro de 1938. Vai ver reproduções de obras de arte que foram
confiscadas de lares judaicos. Há ainda o famoso pijama listrado, tanto de
adulto quanto de criança, usados pelos presos. O ponto mais alto é a barraca de
prisioneiros, onde as pessoas poderão sentir o cheiro da palha que fazia às
vezes de colchão, e a própria tigela que era o travesseiro do prisioneiro”, diz
o diretor.
A exposição do Memorial também
proporciona contato com objetos autênticos pertencentes às vítimas do
Holocausto e doados por seus familiares que hoje residem no Brasil. Outra seção
comovente é a que exibe desenhos feitos por crianças prisioneiras dos campos de
concentração, que retratam cenas observadas durante a terrível estadia naqueles
locais.
A exposição ainda exibe vídeos em uma
sala especial que narram episódios da época, como a Noite dos Cristais, quando
nazistas lançaram uma onda de ataques a judeus em várias regiões da Alemanha e
da Áustria em 1938, ou filmes de propaganda feitos para exaltar o governo
nazista de Adolf Hitler.
Radicado no Brasil há 27 anos, Faingold,
de 60 anos, é descendente de judeus. Seu avô materno se refugiou na Argentina,
onde ele nasceu. Para o professor, a preservação dos objetos é essencial para a
história. “No futuro não haverá mais sobreviventes, porque esses que chegaram
[no Brasil] já são pessoas com mais de 80 anos. O que vai sobrar são justamente
os museus e os memoriais que temos”, observou.
Para que jamais volte a acontecer
Faingold falou também sobre a
importância de divulgar a exposição entre alunos e ensinar algumas definições
pouco conhecidas pelos jovens brasileiros.
“É preciso falar o que é um
genocídio, dar exemplos, e contar o que foi o Holocausto: foi apenas um em toda
a história da humanidade, pela brutalidade, pelas etapas e a abrangência do
fenômeno, pelo uso e abuso de tecnologias na indústria da morte, por todos
esses motivos o Holocausto é diferente de outro tipo de genocídio”, explica.
"Nós vamos tratar, dentro do possível, para que escolas estaduais com
menos recursos possam vir aqui e visitar nosso memorial”, disse ele
Localizado na primeira sinagoga do
Estado de São Paulo, o Memorial da Imigração Judaica e do
Holocausto foi fundada em 1912 e guarda um
amplo e valioso acervo documental para valorizar a contribuição dos judeus ao
desenvolvimento do Brasil.
Serviço
Memorial da Imigração Judaica e do
Holocausto
Rua da Graça, 160, Bom Retiro, São Paulo (Estação Luz)
Domingo: apenas para grupos com agendamento
Segunda à quinta: 9h - 17h
Sexta: 9h - 15h
Entrada gratuita
Rua da Graça, 160, Bom Retiro, São Paulo (Estação Luz)
Domingo: apenas para grupos com agendamento
Segunda à quinta: 9h - 17h
Sexta: 9h - 15h
Entrada gratuita
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