Brasileiros se mobilizam nas redes sociais para que museu na Alemanha devolva fóssil do dinossauro Ubirajara jubatus
Indícios apontam que fóssil foi tirado do Brasil de forma irregular
Alemanha alega que fóssil entrou no país de forma regular e não pretende
devolver artefato
No Museu de História Natural de Karlsruhe, na Alemanha, está exposto o
fóssil do Ubirajara jubatus, primeiro dinossauro não aviário encontrado com
penas preservadas na América Latina. Originário do Brasil, ele não voltará ao
país, apesar dos esforços dos brasileiros.
Há evidências de que o fóssil foi levado para a Alemanha de forma
irregular. Um movimento nas redes sociais, protagonizado por cientistas
brasileiros, usa o termo #UbirajaraBelongstoBR (Ubirajara pertence ao Brasil)
para pedir que o artefato fique no país de origem.
Nas redes sociais, especialmente em publicações do museu, brasileiros têm
utilizado a hashtag. Ainda assim, em nota publicada no Instagram na última
sexta-feira (10), os alemães garantiram: o fóssil do Ubirajara jubatus ficará
na Alemanha.
Brasileiros se mobilizam nas redes sociais para que museu na Alemanha
devolva fóssil do dinossauro Ubirajara jubatus
“Nas últimas horas, nós recebemos muitos comentários sobre o fóssil do
dinossauro brasileiro Ubirajara. Nós gostaríamos de esclarecer quem é o dono
por direito. O fóssil do dinossauro brasileiro Ubirajara é propriedade do
estado da Alemanha. Ele foi adquirido antes da Convenção da Unesco de Meios de
Proibir e Prevenir a Importação, Exportação e Transferência Ilícita de
Propriedade de Bens Culturais e foi importado em conformidade com todas as
regulamentações alfandegárias e de entrada”, afirma o museu alemão.
“Ele está preservado para a posterioridade no Museu da História Natural de
Karlsruhe e está disponível para a comunidade científica internacional para
fins de pesquisa. Por favor, entendam que vamos deletar comentário sobre o
Ubirajara nos nossos outros posts que não tem relação com esse assunto.”
Segundo informações da Folha de S. Paulo, a convenção da Unesco, citada
pelo museu, é da década de 1970, mas a Alemanha estabeleceu em 2016 uma lei que
legaliza todo material levado para o país antes de 26 de abril de 2007.
Mesmo após a explicação, brasileiros seguem mobilizados para mudar a
decisão e demandam ações da embaixada brasileira na Alemanha para que o fóssil
do Ubirajara seja repatriado. Pessoas também se organizaram para rebaixar a
nota do museu no Google.
A descoberta da espécie aconteceu em dezembro de 2020, quando o Ubirajara
jubatus foi publicado na revista especializada Cretaceous Research. Desde
então, cientistas têm se organizado para reaver o fóssil. Segundo informações
da Folha de S. Paulo, quando apareceram evidências de que o artefato fora
levado do Brasil de forma irregular, a revista tirou o artigo do site.
À Folha, o presidente da Sociedade Brasileira de Paleontologia, Renato
Ghilardi, criticou a decisão. Houve contato da instituição com o museu e, inicialmente,
os alemães haviam dito que concordavam em devolver o fóssil ao Brasil. Meses
depois, sem qualquer posicionamento, sinalizaram que mudaram de ideia.
Ao jornal, os autores que descreveram a espécie revelaram que o fóssil foi
retirado do Brasil em 1995, com autorização do Departamento Nacional de
Produção Mineral, órgão que não existe mais e era responsável pelos fósseis.
O documento que autorizou que o fóssil fosse retirado era genérico e foi
assinado por um funcionário condenado por fraudas laudos para extração de
esmeraldas. A Sociedade Brasileira de Paleontologia questiona a validade do
documento.
Quando o artigo sobre o Ubirajara foi descrito, o paleontólogo britânico
David Martill, um dos autores do estudo, enviou um e-mail irônico à Folha de S.
Paulo, dizendo que se o fóssil estivesse no Brasil, poderia ter sido perdido no
incêndio do Museu Nacional.
“Eu ficaria muito feliz de ver todos os fósseis brasileiros ao redor do
mundo devolvidos ao país, como eu já disse muitas vezes. Felizmente, isso não
aconteceu dois anos atrás, pois agora todos eles estariam reduzidos a cinzas
após o trágico fogo que destruiu o maravilhoso Museu Nacional do Rio”,
escreveu.
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