quarta-feira, 20 de setembro de 2017

Dia do Teatro Acessível é celebrado pela 1ª vez no país


Visitas guiadas ao cenário, intérpretes de Libras, fones para audiodescrição e legendas eletrônicas - tudo junto e misturado - deixaram de ser apenas um sonho para virar lei após a atuação pioneira e sistemática da jornalista Claudia Werneck.
Mas a conquista do teatro acessível, que teve seu dia nacional comemorado (pela primeira vez no Brasil) na terça-feira (19), não encerrou a batalha. A ativista diz que agora luta para ver o conceito se expandir para além da legislação e conseguir vencer resistências culturais, inclusive das pessoas com deficiência.
Para ela, a ideia é que os espaços culturais possam ser ocupados e aproveitados plenamente por todas as pessoas. 'É um grande dia. São anos e anos de trabalho. É o pleno êxito de uma jornada de quase 15 anos. É uma construção cotidiana de trazer empresas para apoiar a criação do teatro acessível, que nem a gente sabia como fazia, articular governo, Ministério Público...'
O ativismo começou por meio da Escola de Gente - Comunicação em Inclusão, que realiza gratuitamente oficinas e espetáculos com todos os recursos de acessibilidade a pessoas com e sem deficiência. A iniciativa ganhou mais força depois que a filha de Claudia, a atriz Tata Werneck, mobilizou colegas do curso de artes cênicas e criou o grupo 'Os Inclusos e os Sisos - Teatro de Mobilização pela Diversidade'.
As esquetes, que já foram apresentadas a mais de cem mil pessoas no Brasil e no exterior, fizeram sucesso. As apresentações são sempre gratuitas.
Para celebrar a data e estender o debate sobre o tema, haverá uma apresentação do grupo 'Os Inclusos e os Sisos' no Rio de Janeiro, às 15h desta terça, e um ato público no Tribunal de Contas da União, em Brasília, às 19h desta quarta .
Claudia era chefe de reportagem da revista 'Pais e filhos' quando visitou o irmão recémnascido de um colega de escola do filo mais velho e se viu, pela primeira vez, de fato em contato com a Síndrome de Down. A mãe do bebê queria saber como seria o futuro da criança e, frente à própria ignorância no assunto, a jornalista decidiu pesquisar sobre o quadro.
As informações levantadas acabaram resultando em uma reportagem - que ganhou menção honrosa no I Prêmio Associação Médica Brasileira de Jornalismo sobre Saúde - e no livro 'Muito Prazer, Eu Existo'. Depois, ela recebeu mais de 3 mil cartas e centenas de telefonas.
'Já tinha feito várias matérias sobre deficiência, mas nunca nada tinha me tocado tanto quanto aquela reportagem sobre síndrome de Down. Meu despertar foi com a deficiência intelectual, que é a que as pessoas têm mais resistência a aceitar', declara. 'Foi um livro muito arrojado para a época.'
A jornalista afirma que, apesar do orgulho de ter dado luz a um tema ainda pouco explorado na época, não vende mais o livro. Segundo ela, a publicação trabalha com o conceito de integração. Atualmente, ela defende a ideia de inclusão.
'Na integração, é como se a pessoa tivesse que correr para ficar o mais 'normal' possível. Um bom exemplo disso é a noção de superação. É como se as pessoas só tivessem valor se conseguissem à superação. É como se a criança nascesse surda, mas precisasse aprender a se adequar ao 'normal'.'
'Isso é muito comum em classe média. Você toma todas as providências para aprender a falar, coloca implante etc. mas você não quer que aprenda Libras, por achar que aprender Libras, que é uma língua oficial no Brasil, é algo que deve ser evitado, até por vergonha', completa.
Já a ideia de inclusão, afirma, é a de que todo o sistema está inadequado e por isso é preciso 'reorganizá-lo' para que ele consiga se tornar útil a todas as pessoas, atendendo as suas necessidades.
O grupo foi criado em 2003. Na época, afirma Claudia, não havia recursos para o projeto. 'Essas pessoas que criaram o grupo de teatro são pessoas muito perseverantes e que estão com uma carreira muito bonita. Perseveraram sem recurso nenhum por muitos anos.'
Desde o início, as apresentações sempre contaram com um intérprete de Libras. Em 2006, o grupo conseguiu o primeiro patrocínio por meio da Lei Rouanet. Em 2007, ocorreu o primeiro espetáculo para adultos considerável totalmente acessível no país. Para crianças, o primeiro foi em 2011.
'Eu falei que nós tínhamos que ter crianças com mentalidade inclusiva. Elas têm que crescer com essa ideia, porque, quando elas forem a um que não for acessível elas, vão achar estranho.'
Claudia conta que o grupo sempre busca incluir profissionais locais - como intérpretes de Libras, por exemplo - nas apresentações que faz pelo país. O objetivo é, além de estender a temática da deficiência e oferecer cultura a quem normalmente não teria, aquecer a economia local.
'Um dos desdobramentos da nossa passagem pelas cidades do interior do Brasil é que a gente aumenta a geração de emprego e renda para os profissionais que já têm como atividade uma cultura de acessibilidade, mas que não são percebidos como profissionais contratáveis, ninguém sabe que existem, ninguém sabe para o que servem', diz.
Segundo ela, outra realidade é que sempre tem uma pessoa com deficiência na plateia que nunca teve acesso a um espetáculo cultural anteriormente.
'Quando ao pessoa daquela cidade vê que chegou um teatro - hoje em dia também, um teatro criado pela Tata Werneck - preocupado em oferecer acessibilidade, a cidade começa a olhar pelas pessoas com deficiência de outro modo. Eles pensam: 'se essa pessoas, esse grupo teatral, está aqui oferecendo tudo isso, valorizando essas pessoas como sujeitos de direito, então eu vou passar a olhar de outro modo também'.'
'Depois que a gente sai das cidades, as pessoas com deficiência percebem que a vida delas começa a mudar também. Elas também se empoderam. Depois, a pessoa sente um sentimento de pertencimento social pleno, é uma injeção de animo e cidadania. Ela fica mais forte para perceber e lutar pelo que ela quer.'
Uma exigência do grupo é que as apresentações só ocorram em locais de total acessibilidade. Os 'Inclusos' já chegaram a alugar um banheiro químico porque o banheiro acessível do teatro em que se apresentariam estava quebrado.
A jornalista afirma que uma das ideias que 'prejudica' o teatro acessível é a de que os custos afastariam patrocinadores. Claudia diz nunca ter esbarrado em problemas do tipo nem nunca ter sido questionada pelas empresas parcerias sobre a necessidade de oferecer os diversos recurso de inclusão.
Para ela, a questão é compreender que a cultura é um direito inquestionável e que todas as pessoas merecem acesso. 'O nosso custo é o custo de uma cultura que discrimina pessoas com deficiência.'
'Temos que cercar por todos os lados. Há também a resistência de achar que um intérprete no palco atrapalha, que um filme com três acessibilidades não é bacana, não é necessário. É preciso mudar esse pensamento secular de todas as pessoas, não só de quem faz cultura', explica. 'A gente faz acessibilidade em grandes teatros, em população ribeirinha, em cidades da Amazônia, em todas regiões do Brasil, em quadras de esporte. A gente mostra que é possível fazer acessibilidade em qualquer lugar.'
Claudia conta que foi discriminada ao tentar adentrar no universo da deficiência. Não ser deficiente nem ter um filho nessas condições a transformavam em objeto de crítica para muitas pessoas. 'Quando comecei a me especializar em síndrome de Down, depois deficiência, os próprios jornalistas, pessoas amigas, diziam 'que pena que você deixou de ser jornalista'. Quer dizer que pode ser jornalista especializada em comida doce, salgada, estragada, mas não sou jornalista se sou especializada em deficiência?', questiona.
Claudia afirma acreditar que justamente a experiência é que deu sentido à profissão. 'Eu respondia que era agora que eu estava entendendo o que era ser jornalista. Sempre achei que o jornalista tinha que ser um agente da história. O jornalista não é aquele que simplesmente documenta e conta para fazer história, ele é um agente da história. Eu estou testando os limites da minha profissão. 'Agora eu estou entendendo minha função social enquanto jornalista', eu falava.'
O preconceito, diz, também é percebido nos momentos em que tenta se inscrever para editais na área de cultura. As exigências são de que o projeto seja feito por uma pessoa deficiente ou especificamente para pessoas deficientes - o que foge à proposta dela, de reunir todos em um mesmo espaço.
Claudia diz constantemente ser abordada por mães que contam que criaram os filhos deficientes com base nos livros que ela escreveu. De acordo com ela, a "Escola de Gente" já atingiu 400 mil pessoas em cerca de 20 países da América, Europa, Oceania e África.
'Eu acho que meu grande mérito, que eu sinto, é pegar o tema deficiência e oferecer para os grandes debates nacionais. Depois, discuti-lo junto às outras questões, como inclusão e meios de comunicação, inclusão e juventude, inclusão e democracia. Fui oferecendo tudo o que eu sabia, sobre deficiência, para expandir a consciência dos outros temas.'
A organização já recebeu mais de 50 prêmios nacionais e internacionais. Já Claudia recebeu 28 comendas nacionais e internacionais - entre elas uma condecoração da Organização das Nações Unidas.

O Globo

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