Visitas guiadas ao
cenário, intérpretes de Libras, fones para audiodescrição e legendas
eletrônicas - tudo junto e misturado - deixaram de ser apenas um sonho para
virar lei após a atuação pioneira e sistemática da jornalista Claudia Werneck.
Mas a conquista do
teatro acessível, que teve seu dia nacional comemorado (pela primeira vez no
Brasil) na terça-feira (19), não encerrou a batalha. A ativista diz que agora
luta para ver o conceito se expandir para além da legislação e conseguir vencer
resistências culturais, inclusive das pessoas com deficiência.
Para ela, a ideia é
que os espaços culturais possam ser ocupados e aproveitados plenamente por
todas as pessoas. 'É um grande dia. São anos e anos de trabalho. É o pleno
êxito de uma jornada de quase 15 anos. É uma construção cotidiana de trazer
empresas para apoiar a criação do teatro acessível, que nem a gente sabia como
fazia, articular governo, Ministério Público...'
O ativismo começou
por meio da Escola de Gente - Comunicação em Inclusão, que realiza
gratuitamente oficinas e espetáculos com todos os recursos de acessibilidade a
pessoas com e sem deficiência. A iniciativa ganhou mais força depois que a
filha de Claudia, a atriz Tata Werneck, mobilizou colegas do curso de artes
cênicas e criou o grupo 'Os Inclusos e os Sisos - Teatro de Mobilização pela
Diversidade'.
As esquetes, que já
foram apresentadas a mais de cem mil pessoas no Brasil e no exterior, fizeram
sucesso. As apresentações são sempre gratuitas.
Para celebrar a
data e estender o debate sobre o tema, haverá uma apresentação do grupo 'Os
Inclusos e os Sisos' no Rio de Janeiro, às 15h desta terça, e um ato público no
Tribunal de Contas da União, em Brasília, às 19h desta quarta .
Claudia era chefe
de reportagem da revista 'Pais e filhos' quando visitou o irmão recémnascido de
um colega de escola do filo mais velho e se viu, pela primeira vez, de fato em
contato com a Síndrome de Down. A mãe do bebê queria saber como seria o futuro
da criança e, frente à própria ignorância no assunto, a jornalista decidiu
pesquisar sobre o quadro.
As informações
levantadas acabaram resultando em uma reportagem - que ganhou menção honrosa no
I Prêmio Associação Médica Brasileira de Jornalismo sobre Saúde - e no livro
'Muito Prazer, Eu Existo'. Depois, ela recebeu mais de 3 mil cartas e centenas
de telefonas.
'Já tinha feito
várias matérias sobre deficiência, mas nunca nada tinha me tocado tanto quanto
aquela reportagem sobre síndrome de Down. Meu despertar foi com a deficiência
intelectual, que é a que as pessoas têm mais resistência a aceitar', declara.
'Foi um livro muito arrojado para a época.'
A jornalista afirma
que, apesar do orgulho de ter dado luz a um tema ainda pouco explorado na
época, não vende mais o livro. Segundo ela, a publicação trabalha com o
conceito de integração. Atualmente, ela defende a ideia de inclusão.
'Na integração, é
como se a pessoa tivesse que correr para ficar o mais 'normal' possível. Um bom
exemplo disso é a noção de superação. É como se as pessoas só tivessem valor se
conseguissem à superação. É como se a criança nascesse surda, mas precisasse
aprender a se adequar ao 'normal'.'
'Isso é muito comum
em classe média. Você toma todas as providências para aprender a falar, coloca
implante etc. mas você não quer que aprenda Libras, por achar que aprender
Libras, que é uma língua oficial no Brasil, é algo que deve ser evitado, até
por vergonha', completa.
Já a ideia de
inclusão, afirma, é a de que todo o sistema está inadequado e por isso é
preciso 'reorganizá-lo' para que ele consiga se tornar útil a todas as pessoas,
atendendo as suas necessidades.
O grupo foi criado
em 2003. Na época, afirma Claudia, não havia recursos para o projeto. 'Essas
pessoas que criaram o grupo de teatro são pessoas muito perseverantes e que
estão com uma carreira muito bonita. Perseveraram sem recurso nenhum por muitos
anos.'
Desde o início, as
apresentações sempre contaram com um intérprete de Libras. Em 2006, o grupo
conseguiu o primeiro patrocínio por meio da Lei Rouanet. Em 2007, ocorreu o
primeiro espetáculo para adultos considerável totalmente acessível no país.
Para crianças, o primeiro foi em 2011.
'Eu falei que nós
tínhamos que ter crianças com mentalidade inclusiva. Elas têm que crescer com
essa ideia, porque, quando elas forem a um que não for acessível elas, vão
achar estranho.'
Claudia conta que o
grupo sempre busca incluir profissionais locais - como intérpretes de Libras,
por exemplo - nas apresentações que faz pelo país. O objetivo é, além de
estender a temática da deficiência e oferecer cultura a quem normalmente não
teria, aquecer a economia local.
'Um dos desdobramentos
da nossa passagem pelas cidades do interior do Brasil é que a gente aumenta a
geração de emprego e renda para os profissionais que já têm como atividade uma
cultura de acessibilidade, mas que não são percebidos como profissionais
contratáveis, ninguém sabe que existem, ninguém sabe para o que servem', diz.
Segundo ela, outra
realidade é que sempre tem uma pessoa com deficiência na plateia que nunca teve
acesso a um espetáculo cultural anteriormente.
'Quando ao pessoa
daquela cidade vê que chegou um teatro - hoje em dia também, um teatro criado
pela Tata Werneck - preocupado em oferecer acessibilidade, a cidade começa a
olhar pelas pessoas com deficiência de outro modo. Eles pensam: 'se essa
pessoas, esse grupo teatral, está aqui oferecendo tudo isso, valorizando essas
pessoas como sujeitos de direito, então eu vou passar a olhar de outro modo
também'.'
'Depois que a gente
sai das cidades, as pessoas com deficiência percebem que a vida delas começa a
mudar também. Elas também se empoderam. Depois, a pessoa sente um sentimento de
pertencimento social pleno, é uma injeção de animo e cidadania. Ela fica mais
forte para perceber e lutar pelo que ela quer.'
Uma exigência do
grupo é que as apresentações só ocorram em locais de total acessibilidade. Os 'Inclusos'
já chegaram a alugar um banheiro químico porque o banheiro acessível do teatro
em que se apresentariam estava quebrado.
A jornalista afirma
que uma das ideias que 'prejudica' o teatro acessível é a de que os custos
afastariam patrocinadores. Claudia diz nunca ter esbarrado em problemas do tipo
nem nunca ter sido questionada pelas empresas parcerias sobre a necessidade de
oferecer os diversos recurso de inclusão.
Para ela, a questão
é compreender que a cultura é um direito inquestionável e que todas as pessoas
merecem acesso. 'O nosso custo é o custo de uma cultura que discrimina pessoas
com deficiência.'
'Temos que cercar
por todos os lados. Há também a resistência de achar que um intérprete no palco
atrapalha, que um filme com três acessibilidades não é bacana, não é
necessário. É preciso mudar esse pensamento secular de todas as pessoas, não só
de quem faz cultura', explica. 'A gente faz acessibilidade em grandes teatros,
em população ribeirinha, em cidades da Amazônia, em todas regiões do Brasil, em
quadras de esporte. A gente mostra que é possível fazer acessibilidade em
qualquer lugar.'
Claudia conta que
foi discriminada ao tentar adentrar no universo da deficiência. Não ser
deficiente nem ter um filho nessas condições a transformavam em objeto de
crítica para muitas pessoas. 'Quando comecei a me especializar em síndrome de
Down, depois deficiência, os próprios jornalistas, pessoas amigas, diziam 'que
pena que você deixou de ser jornalista'. Quer dizer que pode ser jornalista
especializada em comida doce, salgada, estragada, mas não sou jornalista se sou
especializada em deficiência?', questiona.
Claudia afirma
acreditar que justamente a experiência é que deu sentido à profissão. 'Eu
respondia que era agora que eu estava entendendo o que era ser jornalista.
Sempre achei que o jornalista tinha que ser um agente da história. O jornalista
não é aquele que simplesmente documenta e conta para fazer história, ele é um
agente da história. Eu estou testando os limites da minha profissão. 'Agora eu
estou entendendo minha função social enquanto jornalista', eu falava.'
O preconceito, diz,
também é percebido nos momentos em que tenta se inscrever para editais na área
de cultura. As exigências são de que o projeto seja feito por uma pessoa
deficiente ou especificamente para pessoas deficientes - o que foge à proposta
dela, de reunir todos em um mesmo espaço.
Claudia diz
constantemente ser abordada por mães que contam que criaram os filhos
deficientes com base nos livros que ela escreveu. De acordo com ela, a
"Escola de Gente" já atingiu 400 mil pessoas em cerca de 20 países da
América, Europa, Oceania e África.
'Eu acho que meu
grande mérito, que eu sinto, é pegar o tema deficiência e oferecer para os
grandes debates nacionais. Depois, discuti-lo junto às outras questões, como
inclusão e meios de comunicação, inclusão e juventude, inclusão e democracia.
Fui oferecendo tudo o que eu sabia, sobre deficiência, para expandir a
consciência dos outros temas.'
A organização já
recebeu mais de 50 prêmios nacionais e internacionais. Já Claudia recebeu 28
comendas nacionais e internacionais - entre elas uma condecoração da
Organização das Nações Unidas.
O Globo
Educação, teatro e folclore
A maior coleção interagindo educação, teatro e folclore já lançada no país. São dez volumes abordando 19 lendas do folclore brasileiro.
Veja os livros que compõem a Coleção:
•Vol. 1 – O coronel e o juízo final
•Vol. 2 - A noite do terror
•Vol. 3 - Lobisomem – O lobo que era homem
•Vol. 4 - Cobra Honorato
•Vol. 5 - A Mula sem cabeça
•Vol. 6 - Iara, a mãe d’água
•Vol. 7 - Caipora
•Vol. 8 - O Negrinho Pastoreiro
•Vol. 9 - Romãozinho, o fogo fátuo
•Vol. 10 - Saci Pererê
São dez comédias para o público infanto-juvenil, onde a cultura popular do país é retratada através de uma dramaturgia densa mas, ao mesmo tempo, hilariante, alegre e divertida.
Veja os livros que compõem a Coleção:
•Vol. 1 – O coronel e o juízo final
•Vol. 2 - A noite do terror
•Vol. 3 - Lobisomem – O lobo que era homem
•Vol. 4 - Cobra Honorato
•Vol. 5 - A Mula sem cabeça
•Vol. 6 - Iara, a mãe d’água
•Vol. 7 - Caipora
•Vol. 8 - O Negrinho Pastoreiro
•Vol. 9 - Romãozinho, o fogo fátuo
•Vol. 10 - Saci Pererê
São dez comédias para o público infanto-juvenil, onde a cultura popular do país é retratada através de uma dramaturgia densa mas, ao mesmo tempo, hilariante, alegre e divertida.
Para saber mais, clique aqui.