O teatro de bonecos Mane Beiçudo é uma metodologia que encerra inúmeras apresentações em um só contexto. São realizadas:
1. apresentações de bonecos de luva, abrigados dentro de uma empanada. Essas apresentações – quando das caminhadas de mobilização (os Espetáculos-mestes) – ocorrem em diversos pontos do trajeto, razão porque a empanada vai sendo deslocada de um lugar para outro, conforme a programação previamente elaborada. São os Espetáculos-satélites.
2. apresentação dos bonecos gigantes no grande teatro de rua que ocorre acompanhando a caminhada de mobilização. É o conceito do Espetáculo-mestre.
a. A empanada
A cabana que abrigará os atores-manipuladores pode ser erguida sustentada por uma estrutura de bambu, madeira, alumínio ou metalon. Esta estrutura é envolta por pano opaco que não permitem que a platéia perceba o que se passa em seu interior – as empanadas. O fundamental é que seja assegurada privacidade aos atores, que – em hipótese alguma – poderão ser vistos enquanto manipulam, brincam com os bonecos. Isto quebraria a magia do espetáculo.
Importa também construir a estrutura com o material mais leve, facilitando o manuseio e transporte. O ideal é que as peças da estrutura apresentem nas extremidades um sistema de pontos de encaixe, contribuindo para que o processo de montagem e desmontagem se dê com simplicidade e a necessária rapidez.
b. Os integrantes do teatro de luva do Mane Beiçudo
Dentro da empanada atuarão o manipulador principal, o mestre e dois ou três auxiliares - conforme seja o número de bonecos exigido na peça. Os auxiliares recebem a denominação de contramestres.
Do lado de fora da empanada atuam
• o conjunto de músicos, geralmente um percursionista e um violeiro ou sanfoneiro;
• o palhaço Serelepe, personagem que faz a ponte entre a platéia e os atores, passa dicas e informações cifradas para os manipuladores, responde e provoca tanto os bonecos como o público e faz a praça, recebendo a contribuição financeira da platéia. No Teatro Mamulengo recebe a denominação de Mateus, e no Teatro João Redondo, de Arrelinquim.
c. O teatro de rua
Na sistemática de produção do Teatro Mané Beiçudo, em diversos momentos ocorre a necessidade de promover mobilizações político-culturais. Essas mobilizações podem assumir a forma de caminhadas, passeatas, reuniões públicas numa praça ou logradouro ou ainda, podem assumir a forma de mega apresentações teatrais, realizadas em grandes eventos como na abertura de shows musicais ou de importantes partidas do campeonato de futebol.
Nestas oportunidades é que serão realizadas as apresentações de teatro de rua, com a utilização dos bonecos gigantes. É a categoria que aqui denominamos Espetáculo-mestre.
Como o teatro de rua acontece num grande espaço, ao ar livre, tudo deve ser exagerado. A performance, os movimentos e os gestos dos atores devem ser largos, grandiosos; a voz deve apresentar volume e impostação adequados; os adereços e objetos cênicos bastante expressivos e visíveis; os bonecos, de dimensões agigantadas, a maquilagem exagerada e a indumentária multicolorida.
Antônio Carlos dos Santos, criador da metodologia de Planejamento Estratégico Quasar K+ e da tecnologia de produção do teatro popular de bonecos Mané Beiçudo.
segunda-feira, 24 de novembro de 2014
terça-feira, 18 de novembro de 2014
Todo mundo de volta ao teatro
O
microteatro, formato inovador criado na Espanha em 2009, chega ao Rio para
impactar
Por Camila Moraes, no El País
Como trazer de volta ao teatro o público que o
cinema comercial, a televisão e outros tipo de entretenimento tecnológicos e
massivos desviaram das artes cênicas nos últimos tempos? A resposta, ao
contrário do que se pensa, pode ser simplificar o espetáculo, em lugar de
complicá-lo com pirotecnias.
Essa foi a experiência que viveu a
espanhola Yolanda Barrasa e outros criadores do microteatro, um formato
teatral inovador que nasceu em 2009 em Madri, dentro dos pequenos quartos de um
prostíbulo abandonado. A proposta, como já foi dito, é simples: reduzir a
duração da obra, a quantidade de atores em cena e de espectadores na plateia e
o espaço disponível para a encenação. Assim, com três atores, 15 espectadores,
15 metros quadrados e 15 minutos de peça no máximo, nasceu uma experiência
teatral que pode ser comparada ao conto na literatura e ao curta-metragem no
cinema. Uma história com um punch, feita para impactar.
A novidade acaba de aterrissar no Rio
de Janeiro, trazendo da Espanha e dos vários microteatros que se espalharam
pelo mundo (mais de 100) a exigência de que cada encenação se repita várias
vezes numa mesma noite, para que o público escolha ao que assistir. O lugar
escolhido foi o Castelinho do Flamengo, onde o microteatro carioca,
com várias peças curtas apresentadas ao mesmo tempo, ficará instalado por
quatro semanas (de 14 de novembro a 6 de dezembro). A entrada às sessões que
acontecerão sempre às sextas e sábados é gratuita.
“Foi a forma que encontramos de
reconquistar o espectador e de atrair um público distinto ao que frequenta hoje
em dia o teatro tradicional. Em Madri, onde fundamos um microteatro permanente,
chegamos a encenar a mesma peça 20 vezes numa noite, com um público que
misturava adolescentes e idosos, entre outras pessoas”, conta Yolanda sobre o Microteatro Por Dinero –
referência mundial desse tipo de “teatro íntimo, que valoriza os detalhes e os
sussurros”, como explica a própria diretora, responsável por uma montagem
brasileira da micropeça A solas (a sós), de Lorenzo Silva, sobre um
interrogatório entre um homem e uma mulher.
Não só Yolanda e seus companheiros
reconheceram essa democratização do público, como que tinham revitalizado o
formato teatral. Isso se deve, principalmente, à experiência de um teatro
simultâneo, que implica que o espectador escolha livremente suas obras preferidas.
“O teatro curto existe desde Cervantes, mas essa proposta dinâmica e
democrática foi para nós o surgimento de algo insólito. É uma grande emoção ver
que o formato foi amplamente adotado”, diz.
A ideia de um microteatro carioca surgiu casualmente,
quando Yolanda veio ao Brasil para dar um dos workshops extramuros da Escuela de Cine y Televisión de SanAntonio de los Baños, de Cuba. Depois da estreia no Rio, é possível
que se abra uma temporada em São Paulo e em Curitiba, mas por hora nada está
confirmado. Só que o show vai durar 15 minutos, com três atores, 15 pessoas na
plateia... E que pretende emocionar.
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