quinta-feira, 31 de outubro de 2019

A cigarra e as formiguinhas



O livro 
Preocupadas com a chegada do inverno quando se verificará uma grave e prolongada escassez de comida e alimentos, as formiguinhas dobram a jornada de trabalho planejando economizar e estocar suprimentos que lhes assegurem atravessar a difícil estação incólumes. 

E se preocupam ao verificar que as cigarras, ao contrário, parecem não ligar para os tempos difíceis que se aproximam. Não trabalham, não economizam e sequer se preocupam em guardar algum excedente para atravessarem o inverno. Ao invés disso, se limitam a passar dia sim e o outro também dançando, cantando e se divertindo. 

O que ocorrerá quando chegar o inverno? Como agirão as formigas ao receber o pedido de socorro das cigarras? Darão guarida? Exigirão que as cigarras paguem o preço da irresponsabilidade e da displicência? 

Surpreenda-se com esta trama baseada em uma das mais profundas fábulas de Esopo. 

A Coleção Infantil 
São 10 peças teatrais completas, direcionadas ao público infanto-juvenil: 

• Livro 1 – A onça e a capivara ou Não é melhor saber dividir? 
• Livro 2 – Eu compro, tu compras, ele compra 
• Livro 3 – A cigarra e as formiguinhas 
• Livro 4 – A lebre e a tartaruga 
• Livro 5 – O galo e a raposa 
• Livro 6 – Todas as cores são legais 
• Livro 7 – Verde que te quero verde 
• Livro 8 – Como é bom ser diferente 
• Livro 9 – O bruxo Esculfield do Castelo de Chamberleim 
• Livro 10 – Quem vai querer a nova escola. 

O teatro e a dramaturgia - ao contrário das demais ramificações da literatura – transcendem o mero prazer, regalo e deleite da leitura bem como os aspectos educativos e pedagógicos intrínsecos às letras. 

É isto que o leitor perceberá tão logo adentre as páginas dos livros que compõem a 

Coleção Infantil. 
A leitura dos livros e a reflexão sobre os seus conteúdos poderão remeter o leitor a um universo só possibilitado pelo teatro. 

Não por acaso, esta arte milenar tem sido cultuada por todos os povos, do ocidente e do oriente, desde muitos séculos antes de Cristo. De tão importante, os antigos egípcios e gregos chegaram a vincular o teatro aos rituais destinados a homenagear suas divindades e entes sagrados. 

A dramaturgia e o teatro continuam mantendo as características que os tornaram imprescindíveis na antiguidade clássica: o auxilio para vencer a timidez e desenvolver a autoestima; o aprimoramento da oratória e da dicção; a aprendizagem quanto à impostação de voz, a postura, a presença cênica; os predicados da argumentação lógica e da reflexão crítica; insumos que, sem dúvidas, qualificam a participação, o que – convenhamos – não é pouca coisa num ambiente social obliterado pela mediocridade. 

Preferencialmente destinada às crianças e à juventude, os livros atendem a todas as faixas etárias, dos pequenos que ainda engatinham na pré-escola e no ensino fundamental, aos jovens de ideias e propósitos que já romperam a terceira idade.




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quarta-feira, 30 de outubro de 2019

Sobre a definição de teatro




Etimologicamente a palavra “teatro” provém do grego theatron e significa “lugar onde se vai para ver”.

Numa interpretação acadêmica é a edificação onde se representam obras dramáticas. Avançando na definição poderíamos adotar uma leitura mais abrangente: teatro é todo o processo que engloba a arte de representar. Naquela, o teatro é apenas a edificação, o espaço físico. Nesta, além da edificação, engloba também todas as etapas de elaboração (formação do Grupo ou elenco, definição do texto, concepção e montagem, e apresentação).

A partir desta premissa são muitos os adjetivos que acrescidos à palavra teatro definem seus diferentes sentidos.

Bertolt Brecht - dramaturgo alemão de imensurável contribuição para o teatro contemporâneo, prevendo os perigos das definições que redundassem no academicismo hermético, em discussões estéreis, foi bastante enfático ao afirmar que, se necessário, melhor seria chamar teatro de taetro, a perder tempo com proselitismo que desemboca em lugar algum.

Das diferentes formas de manifestação do teatro, em todas verificamos a presença de dois elementos imprescindíveis: o ator e o espectador.

A ausência de um desses elementos inviabiliza a atividade teatral, impedindo que o ciclo de produção se complete. Há quem argumente que o teatro de bonecos e de sombras coloca por terra a assertiva. Infantilidade. O fato de permanecer invisível para a platéia não torna o ator inexistente. Fosse assim, o que seria do ator de rádio?

O que de fato importa é a existência consciente dos dois elementos – ator e espectador - condição necessária para a existência do jogo teatral.

Alguns outros tergiversam, se valendo de experiências que procuram transformar o espectador em ator involuntário.

Um exemplo é o Teatro Invisível de Augusto Boal. Neste caso, convém destacar que a assistência participa de forma inconsciente. Enfatizando: mesmo este teatro não descarta a figura do espectador. Muitos são os que, no Teatro Invisível, se recusam a “participar” como “ator”. Aqui, tudo é muito relativo, tanto que no meio do caminho, as referências chegam a se diluir.

O importante é não perder o marco: o ator é parte de um processo de construção consciente. Também assim deve ser visto o espectador. Ambos devem se envolver no jogo dramático de maneira consciente.

Na tecnologia Mané Beiçudo atores e espectadores compõem um todo, um maciço monolítico, fundamental para que o processo de criatividade e de intervenção na realidade sejam coroados de êxito.

Antônio Carlos dos Santos, criador da metodologia de Planejamento Estratégico Quasar K+ e da tecnologia de produção de teatro popular de bonecos Mané Beiçudo.



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terça-feira, 29 de outubro de 2019

O Teatro de Sombras e o Teatro Popular de Bonecos Mané Beiçudo




Dentre os diversos formatos e tipos de teatro de bonecos temos o teatro de sombras.

O teatro de sombras utiliza bonecos confeccionados com pedaços de papelão, couro ou algum outro material consistente, capaz de conformar uma figura plana.

Apesar do títere no formato de modelo plano constituir maioria, com certa freqüência os grupos que praticam este tipo de teatro utilizam figuras tridimensionais.

A forma mais comum de manipulação é a que utiliza varetas fixadas em cada membro do boneco. Uma fonte de luz irradiada do fundo projeta as sombras dos bonecos protagonistas das tramas que seduzem e encantam a platéia.


Muito comum, sobretudo na Ásia, as origens deste tipo de teatro também remontam à Grécia antiga.

No teatro de sombras chinês, ocorre a utilização de uma tecnologia diferente para a geração dos movimentos, baseada em cordões dispostos na parte posterior dos bonecos.

Esta tecnologia dificilmente é apropriada pelo teatro de bonecos Mané Beiçudo, que prioriza o formato mais ágil e dinâmico possibilitado pelo boneco de luva.

No Mané Beiçudo é necessário agilidade para que o espetáculo possa se deslocar com rapidez. No teatro de rua, por exemplo, modalidade utilizada pelo Mané Beiçudo, diversos pequenos espetáculos são apresentados ao longo da marcha carnavalesca.


Neste contexto, utilizar o teatro de sombras seria impraticável. Daí o formato de bonecos de luva e vara serem os mais apropriados.


... e vamo que vamo qui o espetáculo num pode pará, ah podi pará não sinhô... (fala de Mané Beiçudo enquanto o espetáculo se desloca na marcha carnavalesca)


Antônio Carlos dos Santos - criador da metodologia de Planejamento Estratégico Quasar K+ e da tecnologia de produção de Teatro Popular de Bonecos Mané Beiçudo.



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sábado, 26 de outubro de 2019

O Teatro Mané Beiçudo e o caminho: a Fábrica Ex-Cursus


A Fábrica Ex-Cursus

Vejamos um caso em que a opção do Grupo de Teatro foi por encerrar todo o processo Mane Beiçudo num espetáculo tradicional.

Se o espetáculo teatral está marcado para iniciar às 20:00h, exatamente nesta hora a platéia é conduzida ao saguão principal do teatro. No saguão está preparada uma exposição com fotos, cartazes, gráficos, gravuras, pinturas, esculturas, objetos que tenham relação com o assunto focado na peça. A exposição funciona como um aquecimento para que a platéia mergulhe de fato no contexto real-teatral.

Só após vinte minutos, a platéia é conduzida às cadeiras para que a peça teatral se inicie.

Quando o espetáculo teatral ocorrer em um local que não seja o teatro convencional, como em uma escola, fábrica ou instituição pública, a exposição será montada em alguma sala ao lado ou no hall frontal à porta que dá acesso ao local da apresentação.

No teatro convencional – seja ele de bonecos ou não – a platéia exerce uma ação submissa, minúscula, acessória. Sua manifestação se limita a sorrir ou chorar e a aplaudir ou vaiar quando cai o pano, dando fim à apresentação. Então as luzes se apagam, o teatro cerra suas portas, os atores se dispersam e as pessoas retornam ao conforto de seus lares. E tudo se acaba.

Antonin Artaud

No TBMB é bastante diferente. Em sua concepção a platéia participa o tempo todo, e da forma mais intensa. Ocorre uma interação avassaladora entre os atores e a comunidade.

Apesar do espetáculo teatral continuar existindo entre quatro paredes, a ação dramática rompe este espaço físico e nosso universo, nossa sala de espetáculos se estende por todo o espaço-objeto, por todo o espaço geográfico envolto pelo quadrilátero previamente definido. A platéia do TBMB também rompe os limites da apresentação teatral e passa a se constituir em toda a comunidade. Porque mesmo as pessoas que não assistiram a apresentação propriamente dita, participaram de forma efetiva dos demais momentos da produção teatral, os momentos da Fábrica Ex-Ante e Ex-Post.

Mesmo o momento da apresentação teatral é diferente.

Como uma característica estruturante do Mané beiçudo é a improvisação, os atores estarão estimulando a platéia a participar o tempo todo, do início ao final da apresentação. Não se trata apenas de se emocionar com a trama, de aplaudir ou vaiar. Trata-se de intervir na trama, de completar frases deixadas pelos atores, de exigir a saída de cena de uma personagem, de mudar o destino de outra, de corroborar ou alterar o final proposto pelo enredo. No TBMB o espetáculo é aberto. É evidente que para que isso ocorra os atores dispõe de técnicas para quebrar o gelo, para desobstruir os canais, para quebrar a inibição e a inércia. Estarão perguntando, instigando, provocando, relatando fatos do conhecimento de todos num novo formado e versão, e principalmente “rasgando a chita”, abrindo o jogo, conclamando a platéia a participar, protestando – às vezes – se irritando, denunciando que tudo está muito apático e frio, sem energia, “parecendo que ninguém come feijão há pelo menos uma semana”. A participação da platéia é que dá vida, curso e substância ao TBMB.

Portanto, a interação dos atores com a platéia e a comunidade é a mais intensa possível.

Tão logo termina a performance dos atores, eles deixam a empanada, sentam-se defronte à platéia e propõem o início de um debate, quando discutirão a trama teatral à luz da realidade concreta. Um integrante do grupo faz as vezes do secretário que anota os pontos mais relevantes, destacando:

· as manifestações objetivando promover melhorias plásticas e de conteúdo na peça teatral;
· as manifestações objetivando promover intervenções na realidade com vistas a transforma-la.

As sugestões, anotadas e sistematizadas, transformam-se num singelo relatório consolidado. Será um dos insumos do instante subseqüente da linha de produção, a Fábrica Ex-Post.

Antônio Carlos dos Santos, criador da metodologia Quasar K+ de Planejamento Estratégico e da tecnologia de produção de teatro popular de bonecos Mané Beiçudo.




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sexta-feira, 25 de outubro de 2019

Teatro Mané Beiçudo e o princípio: a Fábrica Ex-Ante



O Mané Beiçudo é estruturado em uma linha de produção artística em que o primeiro momento, a Fábrica Ex-Ante significa o estágio inicial, a etapa em que as bases serão construídas.

Naturalmente, a solidez do alicerce é que determina a durabilidade e sustentabilidade de qualquer processo construtivo. Aqui não é diferente. Nesta etapa, os pilares serão fincados num terreno previamente preparado.

Definido o local onde se desencadeará o processo, o grupo identifica e define as fases a serem observadas:


o espaço-objeto.

Espaço-objeto é o lugar, o espaço geográfico que receberá a intervenção do Teatro Mané Beiçudo. Não se confunde com o palco, o teatro, a sala de aula, o hall da instituição onde ocorrerá a apresentação do espetáculo. O Espaço-objeto pode ser um quarteirão, um bairro, uma zona da cidade. Pode ser o raio de influência e ação de uma fábrica. Pode ser todo um município. É o universo onde se desenvolverá o jogo teatral.



Nesta primeira fase o Grupo de Teatro ou o agente cultural deverá delimitar a região geográfica que será alvo da intervenção cultural.

Geralmente um grande problema ou um grande conflito social é que determinará a escolha do espaço-objeto. Uma grande experiência do Mané Beiçudo ocorreu em Goiânia, quando do acidente radioativo com o Césio 157. Este grande problema de dimensões planetárias motivou a escolha da Grande Goiânia como um espaço-objeto.

O cumprimento de uma liminar de reintegração de posse, em Brasília, com violência policial, mortes e desaparecidos, também levou o Grupo de Teatro a tomar todo o Distrito Federal como espaço-objeto.

Mas ocorrem situações em que o espaço-objeto quase que se confunde com o local da apresentação. Em Mato Grosso do Sul, um grupo local utilizou a tecnologia do TBMB e delimitou como espaço-objeto uma escola. O projeto discutiu o processo de escolha da nova direção da unidade de ensino.

Destarte, dependendo do ponto que pretendemos focar e evidenciar, nosso espaço-objeto pode sofrer variações em suas delimitações.

Definido o espaço-objeto em função do problema que iremos abordar, adentramos a fase seguinte que consiste em montar uma equipe de voluntários que more, trabalhe ou estude em um lugar localizado no interior do quadrilátero geográfico estabelecido.

Esta equipe se constituirá no Núcleo Gestor do Projeto - NG.

O Núcleo Gestor compõe-se de atores, artistas que atuam na localidade, e voluntários interessados em participar e contribuir, sendo – preferencialmente - coordenado pelo Diretor Artístico do espetáculo teatral. É o órgão executivo, aquele responsável por planejar e executar as ações necessárias para o pleno êxito do processo. Será a instância com a responsabilidade de apreender e disponibilizar a metodologia TBMB, bem como prover as condições para a sustentabilidade do processo. É este Núcleo que garantirá as condições de infra-estrutura, de suporte logístico e operacional para que o Projeto tenha perenidade.

Ou seja, exaurida a primeira questão com a solução plenamente viabilizada, uma outra questão é identificada dando origem à 2ª Edição do Projeto; depois a 3ª e assim sucessivamente. É o princípio do “Espetáculo permanente”.

Antônio Carlos dos Santos - criador da metodologia Quasar K+ de Planejamento Estratégico.


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quarta-feira, 23 de outubro de 2019

O que é o teatro de bonecos?



O que é teatro?

Teatro é a manifestação artística em que se registra a presença de um ator e de um espectador. No teatro ocorre o desenvolvimento de uma estória em que um determinado conflito é explorado, dando contornos à trama.

O que é teatro de bonecos?

O nome já é bastante explicativo, esclarecendo sua definição.

Teatro de bonecos é o tipo de manifestação teatral em que ocorre a presença de bonecos; bonecos de variadas espécies e formatos, manipulados por atores que se exercitam para praticar esta atividade. Uma outra palavra utilizada para designar boneco é o vocábulo títere.

O que é o teatro de bonecos Mané Beiçudo?

É uma modalidade de teatro de bonecos que agregou as características do espetáculo onírico, da improvisação e do humor cáustico - heranças da commedia dell’arte de origem italiana - e que mergulha no universo das comunidades, resgatando seus valores e tradições culturais, mobilizando suas populações para que consigam identificar seus problemas estruturais, de modo que, compreendendo-os, possam solucioná-los de uma forma solidária e participativa.

O TBMB possibilita que a arte se incorpore ao cotidiano das pessoas; e os problemas concretos, os vivenciados no dia a dia sejam processados através de um tipo de reflexão “crítico-lúdica” que só o teatro consegue disponibilizar.

A reflexão crítica é um componente inerente a qualquer processo sustentável de transformação social. Sua estruturação científica muitas vezes a reveste de um formalismo hermético de difícil apropriação por parte das camadas populares. Esta é a razão da criação desta nova categoria, a reflexão “crítico-lúdica”, modalidade de retorno do pensamento sobre si mesmo, com vista a examinar mais profundamente o problema, abordando-o sempre sob o viés da cultura e das manifestações artísticas locais. No que se constitui em estratégia para que a comunidade exerça a reflexão e o raciocínio lógico sem abrir mão do prazer, alquebrando a sisudez dos procedimentos acadêmicos.

Por suas características intrínsecas, o Teatro de Bonecos Mané Beiçudo pode mesmo – no limite - se apresentar sem os bonecos porque a substância é a participação popular através do teatro, e pode ser que a comunidade estabeleça a opção de empregar a tecnologia prescindindo dos títeres, enfatizando a performance corporal dos atores ou, quem sabe, destacando a linguagem circense ou outras facetas do universo cênico.

Mas, em sua manifestação mais completa, para que o TBMB se apresente em seu inteiro teor, com toda a dimensão e expressividade que dele emana, há que se efetuar uma completa interação entre o teatro de atores expostos e o teatro de bonecos, entre os Espetáculos Satélites e o Espetáculo Mestre, entre os bonecos gigantes e os diminutos bonecos de luva, entre o teatro de rua e o teatro conformado na empanada, entre o resgate das manifestações artístico-culturais locais e a identificação e o processamento dos problemas objetivos da comunidade.

Desde a idade média, diversos estudiosos e encenadores têm realizado experiências e elaborado princípios que procuram conduzir a um teatro mais abrangente, que enseje maior aproximação entre os atores e a platéia. Alguns sugeriram mesmo a supressão da platéia partindo do pressuposto de que todos seriam transformados em atores. Outros com Meyerhold buscaram elementos na rua e no circo para aprofundar a interação. O fato é que um teatro que resgate as origens dionisíacas, as grandes festas carnavalescas em que o povo exercia intensa participação - ao invés de simplesmente assistir - é um objetivo que vem de muito. Um objetivo também perseguido pelo Teatro de bonecos Mané Beiçudo.

Antônio Carlos dos Santos - criador da metodologia de Planejamento Estratégico Quasar K+ e da tecnologia de produção do Teatro Popular de Bonecos Mané Beiçudo.


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A irreverência do Teatro de Bonecos Mané Beiçudo


Na idade média, um tipo de teatro diferente ganhou os paises do oriente e do continente europeu.

Originalmente era um teatro que se circunscrevia aos limites impostos pelas autoridades religiosas. As peças retratavam motivos bíblicos e objetivavam a catequese e o reforço dos valores da moral vigente.

À medida que os artistas foram rompendo os laços com as elites dominantes, se distanciando dos temas da ortodoxia religiosa e incorporando nas peças a crítica ao sistema estabelecido, passaram a ser sistematicamente perseguidos e censurados.

Se antes o mecenato possibilitava uma vida tranqüila para os artistas, com o novo cenário tiveram que encontrar outras alternativas para a sobrevivência. E encontraram no seio do povo. Recorreram então às apresentações em feiras e praças públicas, sobrevivendo à custa das contribuições da população.

Este foi um movimento que percorreu praticamente todos os países. Diversas características comuns situavam essas manifestações teatrais nacionais numa mesma escola, encerrando uma mesma categoria. Assim, quase que simultaneamente, em diversos países do mundo, um gênero de teatro de bonecos se consolidou:



• era um teatro eminentemente popular;
• contrapunha a escassez de recursos técnicos com a expressividade encantadora dos bonecos;
• para contrabalançar as pesadas críticas às autoridades constituídas e ao sistema – sempre mordazes, ferinas e contundentes – lançavam mão de fortes doses de humor e irreverência;
• a espontaneidade e a improvisação foram definidos como marcos estruturais dos enredos.


Na Itália tivemos o Polichinelo e seu antecessor, o Maceus; na Alemanha, o Kasper; na Inglaterra, o Punch; na França, o Guinhol; na Espanha, o Cristóvam; na Grécia, o Atalanas; na Turquia, o Karagóz; na Rússia, o Pretuska; em Jawa, o Wayang; nos estados do nordeste brasileiro o João Redondo, o Babau, o Mamulengo (dentre outros), e em Goiás, no Tocantins e na região central do país, temos o Mané Beiçudo.


Naturalmente que as diferentes culturas e nacionalidades emprestaram características próprias a esse teatro, mas a irreverência, a crítica mordaz, a improvisação e o humor agressivo compõem quase que invariavelmente a coluna vertebral do gênero.

Se os componentes presentes na arte medieval italiana aproximam os teatros populares brasileiros, um componente diferencia o Mané Beiçudo dos demais: a utilização do planejamento como ferramenta para a produção artística, mas também como instrumento para que a comunidade intervenha em sua realidade objetiva, modificando-a para melhor.

Antônio Carlos dos Santos - criador da metodologia de produção do Teatro Popular de Bonecos Mané Beiçudo e da tecnologia de Planejamento Estratégico Quasar K+.

terça-feira, 22 de outubro de 2019

O teatro de bonecos no Brasil




É impossível precisar quando ocorreram as primeiras manifestações de teatro de bonecos entre nós. Como - quando do descobrimento do Brasil - a Europa já experimentava o teatro de bonecos, supõe-se que tenha sido trazido pelo colonizador português.

No ano de 1932 o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro publicou o trabalho “O Rio de Janeiro no tempo dos vice-reis”, de Luiz Edmundo. Nesta obra o autor assinala o século XVIII como uma época de nossa história em que o Teatro de Bonecos atuava como elemento de substituição para a deficiência de palcos e casas de espetáculos no Brasil, caracterizando-se, em suas palavras, como “uma ingênua diversão do povo”.

Atualmente, as informações disponíveis remontam – em sua maioria – aos idos do século XIX, fato que por si só demonstra o quanto de informações o tempo consumiu. Um rico passado de manifestações culturais populares que talvez tenham se diluído e que jamais teremos condições de acessar.

Como que montando um quebra cabeças, pinçando fatos aqui e acolá, lidando com reminiscências esparsas, colhendo fragmentos dispersos, vamos alinhavando o panorama do movimento dos titeriteiros no país.

Manuel Quirino dá notícia do Mané-gostoso, terminologia como ficou conhecido o fantoche popular no Estado da Bahia.

Olga Obry em seu livro “Teatro na Escola” refere-se a um velho exemplar do Estado de Minas, publicado em Ouro Preto no ano de 1896. Ali se encontra uma crônica - assinada sob o pseudônimo de Gil Cássio (Afonso Arinos) – enfocando um titeriteiro mineiro, José Ferreira, que fala do teatro de bonecos, do teatro João-minhoca.

O João-minhoca e o Mané-gostoso são variações do teatro popular de bonecos europeu. Esse gênero teatral baseado na improvisação e no humor cáustico recebe no Estado da Bahia a denominação de Mané-gostoso. Em Minas, São Paulo, Rio e Espírito Santo é denominado João-minhoca ou Briguela. No Rio Grande do Norte ficou conhecido como João-redondo; no Piauí e algumas regiões do Ceará, Cassimiro-coco; em algumas zonas da Paraíba e Pernambuco, Babau. E o mais conhecido de todos, o Mamulengo pernambucano.

Existem diversas teorias procurando identificar e justificar o modo como o teatro de bonecos irrompeu em Pindorama. A com maior aceitação defende sua inserção no Brasil e no continente no formato de presépio que, na Europa da idade média, havia sido o espetáculo de marionetes de que a igreja se valera para a difusão do cristianismo.

Presépio
“um lugar onde se recolhe o gado; curral, estábulo”


Presépio está vinculado às representações natalinas, ao nascimento do Menino Jesus num estábulo. As celebrações relativas ao nascimento do menino Jesus remontam ao século III. Todavia a tradição do presépio, na forma como a conhecemos nos dias de hoje, só veio aparecer no século XVI.
Em 1223, São Francisco passou a estimular a criação de figuras em barro, personagens para o cenário do nascimento de Jesus. A tradição ganhou o mundo e no século XVIII já era bastante popular em Nápoles e na Península Ibérica.

Reza a lenda dos presépios que, no ano de 1223, São Francisco de Assis promoveu a representação, ao vivo, do nascimento do Divino Redentor, como parte dos festejos natalinos.

O historiador, folclorista e escritor Pereira da Costa, na obra “Folclore pernambucano”, de 1909, assegura que o presépio teria sido introduzido em Pernambuco provavelmente no século XVI, com representação no convento dos franciscanos, em Olinda, por Frei Gaspar de Santo Antônio.

Presumidamente, a partir da estrutura dos presépios, o teatro de bonecos foi evoluindo, se desenvolvendo, ora agregando e incorporando, ora descartando e se livrando de componentes da cultura popular, de modo que rompe os dias de hoje num formato pujante, de plena energia e vigor.

O teatro de Bonecos Mané Beiçudo carrega esta herança histórica, mas apresenta um diferencial que o torna único e exclusivo. Agrega à engenharia da construção do teatro popular os elementos do planejamento. É esta ferramenta - o planejamento – que possibilita que o Mané Beiçudo seja apropriado por todos como instrumento de entretenimento, diversão, mas também como instrumento para as transformações que a comunidade requer.


Antônio Carlos dos Santos - criador de metodologia de Planejamento Estratégico Quasar K+ e da tecnologia de produção de Teatro Popular de Bonecos Mané Beiçudo. acs@ueg.br

segunda-feira, 21 de outubro de 2019

O que é o Teatro Popular de Bonecos Mané Beiçudo?



É uma modalidade de teatro de bonecos que agregou as características do espetáculo onírico, da improvisação e do humor cáustico - heranças da commedia dell’arte de origem italiana - e que mergulha no universo das comunidades, resgatando seus valores e tradições culturais, mobilizando suas populações para que consigam identificar seus problemas estruturais, de modo que, compreendendo-os, possam solucioná-los de uma forma solidária e participativa.

O Teatro Popular de Bonecos Mané Beiçudo – TBMB - possibilita que a arte se incorpore ao cotidiano das pessoas; e os problemas concretos, os vivenciados no dia a dia sejam processados através de um tipo de reflexão “crítico-lúdica” que só o teatro consegue disponibilizar.

A reflexão crítica é um componente inerente a qualquer processo sustentável de transformação social. Sua estruturação científica, muitas vezes, a reveste de um formalismo hermético de difícil apropriação por parte das camadas populares. Esta é a razão da criação desta nova categoria, a reflexão “crítico-lúdica”, modalidade de retorno do pensamento sobre si mesmo, com vista a examinar mais profundamente o problema, abordando-o sempre sob o viés da cultura e das manifestações artísticas locais. No que se constitui em estratégia para que a comunidade exerça a reflexão e o raciocínio lógico sem abrir mão do prazer, alquebrando a sisudez dos procedimentos acadêmicos.

Por suas características intrínsecas, o Teatro de Bonecos Mané Beiçudo pode mesmo – no limite - se apresentar sem os bonecos porque a substância é a participação popular através do teatro, e pode ser que a comunidade estabeleça a opção de empregar a tecnologia prescindindo dos títeres, enfatizando a performance corporal dos atores ou, quem sabe, destacando a linguagem circense ou outras facetas do universo cênico.

Todavia, em sua manifestação mais completa, para que o TBMB se manifeste em inteiro teor, com toda a dimensão e expressividade que dele emana, há que se efetuar uma completa interação entre o teatro de atores expostos e o teatro de bonecos, entre os Espetáculos Satélites e o Espetáculo Mestre (novas categorias aqui preconizadas), entre os bonecos gigantes e os diminutos bonecos de luva, entre o teatro de rua e o teatro conformado na empanada, entre o resgate das manifestações artístico-culturais locais e a identificação e o processamento dos problemas objetivos da comunidade.

Desde a idade média, diversos estudiosos e encenadores têm realizado experiências e elaborado princípios que procuram conduzir a um teatro mais abrangente, que enseje maior aproximação entre os atores e a platéia. Alguns sugeriram mesmo a supressão da platéia partindo do pressuposto de que todos seriam transformados em atores. Outros, como Meyerhold, buscaram elementos na rua e no circo para aprofundar a interação. O fato é que um teatro que resgate as origens dionisíacas , as grandes festas carnavalescas em que o povo exerça intensa participação - ao invés de se comportar como espectador passivo - é um objetivo que vem de muito. Um objetivo também perseguido pelo TBMB.

Adotando um desenho estrutural que remonta a Plauto, Terêncio e à Commedia dell’arte, o Mané Beiçudo incorporou outras características e princípios, como seu arranjo produtivo exclusivo que radicaliza, ao limite, no ponto de distensão:

· a interação entre atores e espectadores, estimulando a platéia a intervir – de forma criativa e planejada – no universo cênico, como estratégia para qualificar seus processos de intervenção na realidade concreta. Desta forma os conteúdos são direcionados a promover uma participação-cidadã, destacando valores e princípios como a radicalização da democracia, a justiça econômica e social e a capacidade de promover intervenções individuais e coletivas na realidade local;

· a estética, direcionada à tradução das expressões culturais oriundas do imaginário popular, das tradições e dos valores locais;

· a instituição dos momentos de produção Ex-Ante, Ex-Cursus e Ex-Post - no que se denomina Fábrica Mané Beiçudo - estabelecendo uma ação continuada numa concepção do Espetáculo Permanente, sempre aberto, suscetível e ávido por inovações;

· a tecnologia de produção de bonecos, direcionada a valorizar a matéria prima disponível e abundante no local;

· a tecnologia de produção da dramaturgia, disponível para que a comunidade exercite a criação e a produção coletiva. Originando-se de uma questão problematizada, de uma situação-problema que impacta negativamente a comunidade, o texto dramático é estruturado.

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sábado, 19 de outubro de 2019

As “passagens” do teatro popular de bonecos Mané Beiçudo


A metodologia de produção do teatro popular de bonecos Mané Beiçudo não se limita aos instantes da apresentação dramática propriamente dita.

Na semana anterior à apresentação do espetáculo, é elaborado um diagnóstico sobre a realidade da comunidade, quando se obtém informações importantes que comporão o núcleo, o esqueleto do texto dramático. Neste primeiro momento, denominado Fábrica Ex-Ante, subsídios são colhidos, pesquisas realizadas, questionários aplicados, dados recolhidos, tabulados e tratados transformando-os em informações que serão utilizadas para compor o texto improvisado.

Nesta oportunidade, os valores, manifestações e tradições culturais locais são resgatados e os artistas locais identificados e convidados a participar do projeto. No caso dos artistas locais, contando causos, relatando a história da comunidade, reproduzindo seu fazer artístico.

Este trabalho estrutura então a coluna dorsal do espetáculo, enfatizando a realidade específica da comunidade, seus problemas, sua cultura e sua história. Portanto, a identificação da platéia com o espetáculo ocorre de forma intensa e integral.

Toda a estrutura do Mané Beiçudo gira em torno da improvisação, com os bonecos provocando a platéia de modo a radicalizar o processo de participação. Entre as passagens, pequeninos atos que dividem o espetáculo, são então incorporadas inserções específicas que retratam o modo de ser, agir e pensar dos integrantes da comunidade abordada.

As passagens do espetáculo

É da essência do Teatro Mané Beiçudo transmitir uma massa de dados e informações estratégicas para que platéia e a comunidade consigam processar tanto o espetáculo como a realidade na qual se inserem.

Para que o espetáculo teatral não deixe de expressar seu fundamental componente plástico, lúdico e onírico, é utilizado um conjunto de mecanismos, cujo objetivo é diluir uma eventual rigidez das mensagens, torná-las fluídas, leves, retirando delas tudo que lembre formalidade burocrática. Daí a importância de radicalizar elementos cênicos como a iluminação, a sonoplastia, a cenografia, a maquiagem, a expressão corporal,...

Para quebrar a rigidez das mensagens, utilizamos entre uma e outra, pequenas cenas, passagens geralmente caracterizadas pelo humor e pela leveza. Por isto se recorre aos habitantes mais antigos, aos artistas populares mais experientes da localidade para recolher, da própria comunidade, estórias, causos, narrativas, piadas que – reelaboradas e contextualizadas, se transformarão nas passagens hilárias do espetáculo.

sexta-feira, 18 de outubro de 2019

A questão central do teatro popular de bonecos Mané Beiçudo





Para a elaboração do texto teatral há que se debruçar sobre uma questão primeira: qual será nossa idéia central, o temário que impulsionará nossa narrativa dramática?
A “questão central” será nosso objeto de estudo, o assunto que será eixo, estrutura, o tema central de nossa peça teatral. Como a proposta do teatro popular de bonecos Mané Beiçudo busca a interação entre o universo artístico e o que encerra as demandas da comunidade, a questão central será também o mote de nossa intervenção cidadã.

Por isto, devemos compatibilizar a questão central com as efetivas demandas da comunidade.

Discutir o sexo dos anjos cabe muito bem no teatro convencional. Diverte, entretém e isto é muito salutar para o espírito. Mas o teatro popular de bonecos Mané Beiçudo vai além. Está umbilicalmente vinculado à diversão e ao entretenimento, mas dá um passo à frente na medida em que busca estabelecer uma sinergia com a comunidade. Está na essência da tecnologia buscar algum tipo de transformação, alguma intervenção no tecido social que leve à participação cidadã, aquela que consegue identificar os problemas, hierarquizá-los, estabelecer relações de causa e efeito e promover mobilizações para superá-los.


Não é objetivo da educação fazer com que as pessoas, de posse do conhecimento, o processem para promover alterações que elevem a qualidade de vida? O teatro Mané Beiçudo atua exatamente neste contexto, criando um caldo cultural onde se sobressaem a arte popular, a educação e o planejamento.

Para a elaboração do texto teatral dentro desta dinâmica, deveremos primeiramente definir nosso foco. A estratégia inicial é selecionar cerca de dez lideranças locais, as mais expressivas e atuantes, abrindo o leque de modo que representem o maior universo possível: uma para representar os comerciantes, uma para os professores, uma para as mulheres, uma para os trabalhadores, uma para a juventude, outra para a terceira idade, e assim por diante.

O os artistas, estudantes, professores, cada integrante do grupo receberá a incumbência de entrevistar uma liderança comunitária. E nada de complicações, será mais uma enquete, tudo bem simples:

1. Cite os cinco principais problemas de nossa comunidade.
2. Dentre eles, qual é o mais grave?
3. Em sua opinião, qual o principal responsável pela existência deste problema?
4. Qual a pessoa, autoridade ou instituição que você considera o principal responsável pela solução do problema?
5. Como resolvê-lo?
De posse das respostas – e conduzida por elas – serão promovidas discussões internas quando então é dada a formatação final ao questionário que será submetido à comunidade.

Vejamos o exemplo aplicado na periferia da cidade de Marília, em São Paulo:
Dentre os problemas apresentados abaixo, assinale cinco que, em sua opinião, seriam os mais graves:

1. ( ) Transporte coletivo inoperante
2. ( ) Posto de saúde inexistente
3. ( ) Ruas sem asfalto
4. ( ) Bairro sem arborização
5. ( ) Inexistência de iluminação pública
6. ( ) Falta de empregos
7. ( ) Bairro inseguro
8. ( ) Escola necessitando de reforma
9. ( ) Ensino sem qualidade
10. ( ) inexistência de equipamentos comunitários de lazer e cultura.

Quando tabulamos os dados chegamos ao verdadeiro sentimento da comunidade, aos verdadeiros problemas que – na visão dela – interferem negativamente na qualidade de vida das pessoas que habitam no bairro, na região e na cidade.
Via de regra, trabalharemos com uma mostra de 10% da população total de nosso espaço-objeto. Definido o estrato, o questionário é reproduzido na quantidade necessária e aplicado.

Naturalmente, a questão central a ser trabalhada será a que receber a maioria simples dos votos da comunidade.

Definido foco, a questão central, o Grupo parte para a coleta de dados e informações complementares, objetivando enriquecer e alargar a visão sobre o assunto, procurando entender todas as suas nuances e facetas.

Nesta etapa do processo identificamos, no plano da realidade:

• o conflito principal e os secundários
• o personagem principal e os secundários
• a trama principal e as tramas secundárias
• as relações de causa e efeito
• as responsabilidades
• as possíveis soluções
• a estratégia da mobilização comunitária.
Neste ponto já estaremos habilitados para estruturar a coluna vertebral do espetáculo. É aqui que rebatemos o plano real no plano da ficção, utilizando do imaginário popular para reforçar a compreensão coletiva sobre a realidade que nos cerca.

Da realidade objetiva criamos então a ficção teatral que nada mais é que a realidade problematizada; que a realidade desvelada; que a discussão estratégica sobre como intervir e modificar a realidade objetiva; tudo isso sem perder de vista o onírico, o lúdico, o substrato do entretenimento, da diversão e do lazer.

Devemos manter longa distância da linguagem e abordagem fácil, simplista e efêmera do panfletário. O teatro popular de bonecos Mané Beiçudo é um teatro pujante, vigoroso, plástico, lúdico, vinculado às raízes culturais da comunidade, que adentra profundo no imaginário comunitário para dele extrair seus principais problemas, expectativas e ansiedades. É um teatro renovador, transformador, mas jamais panfletário porque quando enfoca determinada questão:

• o faz à luz da reflexão crítica;
• não impõe problemas (de forma autoritária) e sim os extrai da comunidade;
• trata o processo de forma aberta;
• não impõe caminhos e soluções e sim trata de radicalizar as discussões e a participação cidadã para que a própria comunidade defina seus caminhos e escolha suas soluções.

Desta interação dos planos Concreto X Imaginário, da Realidade X Ficção emerge a coluna central de nossa peça de teatro:

• Tramas definidos
• Conflito central consolidado
• Perfis psicológicos das personagens central e secundárias traçados
• Cenários desenhados
• Cenas e passagens alinhavadas
• Adereços definidos

Agora, basta dar a versão escrita ao enredo criando o texto dramático – sua coluna central. Na seqüência, cuidar da reprodução e providenciar a distribuição para que os atores.

Nesta etapa nosso processo deverá assumir duas vertentes. Na primeira é estruturado o Espetáculo-mestre, uma grande marcha carnavalesca, uma grande passeata épica, com a presença de bonecos gigantes, de enormes adereços – o teatro de rua. Na segunda vertente, ocorrem as apresentações de inúmeros espetáculos de bonecos de luva, os Espetáculos-satélites. No decorrer da marcha épico-carnavalesca do teatro de rua, alguns momentos e locais chaves são pré-definidos, quando então se desenvolvem os espetáculos pontuais, os Espetáculos-satélites.


Um movimento cultural resultante da intensa participação da comunidade, em todos os momentos do processo.

Antônio Carlos dos Santos - criador da metodologia de Planejamento Estratégico Quasar K+ e da tecnologia de produção de Teatro Popular de Bonecos Mané Beiçudo. acs@ueg.br

quinta-feira, 17 de outubro de 2019

Como fazer bonecos de papier-mâché?

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(...)
Humilhas, avanças, provocas, agrides, espancas, torturas, aprisionas indefesos – e quem bate e violenta é a tropa de choque?
Te tornaste carne, sexo e prostituta de incubo de Saturno –
e ensandecidamente acusas o outro de estupro? (...)

Leia o poema Uma oração para canalhas clicando aqui.
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Como fazer bonecos de papier-mâché?

Esta técnica surgiu na França, no final do século XIX.

Naquela época, a técnica consistia em criar uma massa de modelar utilizando uma mistura de papelão pisado, cola ou farinha de trigo e alume. A massa originada do processo logo se mostrou excelente matéria prima para a criação de peças em relevo.

Hoje o processo que utiliza massa de papel para a fabricação de bonecos é bastante comum, e ganhou a preferência dos bonequeiros em virtude principalmente do custo e da facilidade.

Veja como é simples.

Pique o papel em pequenos pedaços, misture com uma xícara de água e leve ao liquidificador.

Quando a mistura se apresentar uma massa homogênea, retire do liquidificador e pressione com vigor para retirar o excesso de água.

Quando desejamos confeccionar o boneco com a massa branca, basta levar ao liquidificador somente papel branco.

Mas se desejamos a massa na cor que ficará o boneco, então picamos papel da cor correspondente: marrom, preto, azul,...

Para que a massa adquira cores mais vivas e fortes, no momento em que acionamos o liquidificador, acrescentamos anilina ou algumas gotas de corante de pintura de parede.

Caso prefira o boneco com uma textura bem rústica, enquanto estiver batendo a mistura no liquidificador, acrescente pequenos gravetos e folhas secas. O efeito será surpreendente.


Esfarinhamos a massa de papel umedecida, misturamos cola branca ou farinha de trigo, um pitadinha de fungicida e está pronta a matéria prima que utilizaremos para modelar a cabeça de nosso boneco.

A partir deste momento vale a sua criatividade. Aproveite o material e crie muitas peças.

Concluída a escultura da cabeça, pintamos com tinta de cor branca. Tão logo seca, aplicamos os cabelos e passamos a camada de tintura definitiva.

A fabricação de bonecos utilizando a técnica do papel maché ocorre muito frequentemente no teatro popular de bonecos Mané Beiçudo. Não tanto quanto as técnicas construtivas que trabalham com materiais mais leves, como o isopor e a cabaça.

Antônio Carlos dos Santos - criador da metodologia de Planejamento Estratégico Quasar K+ e da tecnologia de produção de Teatro Popular de Bonecos Mané Beiçudo. acs@ueg.br

quarta-feira, 16 de outubro de 2019

O fantoche no Brasil e o Teatro Popular de Bonecos Mané Beiçudo



É impossível precisar quando ocorreram as primeiras manifestações de teatro de bonecos entre nós. Como - quando do descobrimento do Brasil - a Europa já experimentava o teatro de bonecos, supõe-se que tenha sido trazido pelo colonizador português.

No ano de 1932, o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro publicou o trabalho “O Rio de Janeiro no tempo dos vice-reis”, de Luiz Edmundo. Nesta obra o autor assinala o século XVIII como uma época de nossa história em que o Teatro de Bonecos atuava como elemento de substituição para a deficiência de palcos e casas de espetáculos no Brasil, caracterizando-se, em suas palavras, como “uma ingênua diversão do povo”.

Atualmente, as informações disponíveis remontam – em sua maioria – aos idos do século XIX, fato que por si só demonstra o quanto de informações o tempo consumiu. Um rico passado de manifestações culturais populares que talvez tenham se diluído e que jamais teremos condições de acessar.

Como que montando um quebra cabeças, pinçando fatos aqui e acolá, lidando com reminiscências esparsas, colhendo fragmentos dispersos, vamos alinhavando o panorama do movimento dos titeriteiros no país.

Manuel Quirino dá notícia do Mané-gostoso, terminologia como ficou conhecido o fantoche popular no Estado da Bahia.

Olga Obry em seu livro “Teatro na Escola” refere-se a um velho exemplar do Estado de Minas, publicado em Ouro Preto no ano de 1896. Ali se encontra uma crônica - assinada sob o pseudônimo de Gil Cássio (Afonso Arinos) – enfocando um titeriteiro mineiro, José Ferreira, que fala do teatro de bonecos, do teatro João-minhoca.

O João-minhoca e o Mané-gostoso são variações do teatro popular de bonecos europeu. Esse gênero teatral baseado na improvisação e no humor cáustico recebe no Estado da Bahia a denominação de Mané-gostoso. Em Minas, São Paulo, Rio e Espírito Santo é denominado João-minhoca ou Briguela. No Rio Grande do Norte ficou conhecido como João-redondo; no Piauí e algumas regiões do Ceará, Cassimiro-coco; em algumas zonas da Paraíba e Pernambuco, Babau. E o mais conhecido de todos, o Mamulengo pernambucano.

Existem diversas teorias procurando identificar e justificar o modo como o teatro de bonecos irrompeu em Pindorama. A com maior aceitação defende sua inserção no Brasil e no continente no formato de presépio que, na Europa da idade média, havia sido o espetáculo de marionetes de que a igreja se valera para a difusão do cristianismo.

Presépio está vinculado às representações natalinas, ao nascimento do Menino Jesus num estábulo. As celebrações relativas ao nascimento do menino Jesus remontam ao século III. Todavia a tradição do presépio, na forma como a conhecemos nos dias de hoje, só veio aparecer no século XVI.

Em 1223, São Francisco passou a estimular a criação de figuras em barro, personagens para o cenário do nascimento de Jesus. A tradição ganhou o mundo e no século XVIII já era bastante popular em Nápoles e na Península Ibérica.

Reza a lenda dos presépios que, no ano de 1223, São Francisco de Assis promoveu a representação, ao vivo, do nascimento do Divino Redentor, como parte dos festejos natalinos.

O historiador, folclorista e escritor Pereira da Costa, na obra “Folclore pernambucano”, de 1909, assegura que o presépio teria sido introduzido em Pernambuco provavelmente no século XVI, com representação no convento dos franciscanos, em Olinda, por Frei Gaspar de Santo Antônio.

Presumidamente, a partir da estrutura dos presépios, o teatro de bonecos foi evoluindo, se desenvolvendo, ora agregando e incorporando, ora descartando e se livrando de componentes da cultura popular, de modo que rompe os dias de hoje num formato pujante, de plena energia e vigor.

Todavia, a inexistência de políticas públicas conseqüentes, sobretudo vinculadas ao apoio às manifestações culturais, tem fragilizado a arte de raízes populares, a ponto de comprometer não mais a sustentabilidade, mas a própria existência. No caso do teatro popular de bonecos, ao que tudo indica, a pá de cal já foi lançada. Vai longe o tempo em que pelo sertão adentro, multiplicavam-se as despertas figuras dos mestres e contramestres do Mamulengo, do João-minhoca, do Mané-gostoso, do Briguela, do Babau e do Cassimiro-coco.

Ou a sociedade se mobiliza para preservar seus valores fundamentais, como a própria identidade, ou estará sacramenta entre nós a pátria e a cultura do Counter Strike.

Na categoria do teatro de bonecos, a escola do Mané Beiçudo aponta para o resgate das manifestações de raízes populares, aquelas manifestações que espelham os sentimentos mais profundos e o interior da alma dos brasileiros.

Antônio Carlos dos Santos, criador da metodologia de planejamento estratégico Quasar K+ e da tecnologia de produção do teatro popular de bonecos Mané Beiçudo.




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terça-feira, 15 de outubro de 2019

Mané Beiçudo - um teatro que educa e constrói


Ao longo dos anos a “forma” tem sido uma das maiores preocupações dos que lidam, no dia a dia, com a produção artística. Quando não um pesadelo, se torna ao menos uma questão perturbadora. Para os teatrólogos-educadores assume um contorno um tanto diferenciado, dado às peculiaridades desta arte - o teatro - onde a vida é na realidade, recriada e revivida sobre um simples estrado; quando o homem alça vôo rumo a outros horizontes, outros mundos, novos universos.

Nas diferentes épocas também o teatro foi acompanhando, com desenvoltura, as novas exigências que a sociedade estabelecia. Os espetáculos em seu aspecto formal acompanharam as evoluções do tempo e dos costumes, se mostrando ora rebuscados, espalhafatosos e medíocres, ora oníricos, sublimes e contundentes.

Contemporaneamente, com o advento da era moderna, do micro-chips, da generalização da informática, da internet, da massificação da televisão, a cultura popular parece perder espaço.

Através da televisão – o grande instrumento de comunicação de massa - é incorporada ao cotidiano dos indivíduos uma estética cada vez mais agradável aos sentidos, mais perfeita na forma, mas em contrapartida, mais vazia de conteúdo.

Milhões de pessoas em todo o mundo, famintas e desesperadas, desempregadas e desoladas, se vêem inseridas no luxo da grã-finagem das novelas e dos enlatados, “vivenciando” inacreditáveis contos de fada que expressam realidades intangíveis, fora de alcance dos mortais comuns.

Ainda que inconscientemente - o que torna o quadro mais grave e seu enfrentamento mais difícil - essa “cultura” alienante é incorporada às manifestações artísticas locais, despersonificando cada vez em maior grau, a cultura, os valores e as tradições genuinamente populares.

É bom salientar que o processo educativo-cultural deve ser infinitamente mais amplo que a megalomania colonizadora e oficialesca de incentivar tão somente os festejos populares, os folguedos e o folclore. Quando ocorre a promoção intensiva do folclore – ignorando as demais formas de manifestações culturais e artísticas - estamos tão somente replicando o modelo colonizador, insistindo à exaustão na repetição pela repetição, na inércia, sem abrir espaços para o que é novo e renovador, impedindo a ação do movimento. Quando valorizamos apenas e tão somente o artesanal, o que se repete sem modificações, estamos estimulando o não transforma, o não questiona, o não critica, o não incomoda.

O folclore e as tradições populares são importantes e fundamentais porque compõem o substrato de nossa identidade cultural, de nossa formação enquanto um povo, uma nação. É necessário estudá-los, compreendê-los, divulgá-los, mas sem que isso limite nossa capacidade de continuar criando, inovando, refletindo sobre nossa produção. Assim como devemos manter as portas escancaradas para o folclore, devemos mantê-las também para a arte que conduz à crítica, que leva à reflexão, que enseja a transformação, a arte que se nutre nas ruas, nas fábricas, nas escolas...

Os grupos teatrais inseridos neste processo também são vítimas dele. A falta de acesso à capacitação - resultante em grande parte da adoção de políticas públicas equivocadas, faz com que, não raro, nos deparemos com grupos imitando cantores da moda, shows televisivos, os últimos “sucessos” da ocasião, levando o coração à boca para assegurar a aquisição do “estroboscópio” - impacto da novela das oito; relegando a realidade objetiva à um enésimo plano. Então ignoram o dia a dia das comunidades, ignoram o processo de busca por uma estética popular, passam a desdenhar a imperiosa necessidade de interagir com os que estão bem ao lado.

Como conseqüência imediata, os grupos tendem a ignorar os diversos elementos cênicos que, conjugados, possibilitam à platéia uma imersão mais profunda no contexto abordado e na realidade local. Há até mesmo os que se deixam engabelar por uma compreensão errônea do Teatro Pobre de Jerzy Grotowski.

O diretor polonês desenvolveu uma série de técnicas, baseadas em sua realidade européia, cujo objetivo era acentuar o processo de identificação ator/espectador. Nesta metodologia os elementos cênicos são desprezados em função da interação pretendida.

Não devemos perder de vista que a realidade brasileira é bem diferente, bastante distinta da européia.

As diferenças são gritantes e falam por si. Aqui somos o melhor da Bélgica com o que de pior existe na Biafra. Algumas poucas ilhas de excelência envoltas em um mar de fome e miséria. Este é o Brasil das inacreditáveis contradições, da descomunal concentração da renda, da perversa injustiça social, o lugar e o espaço onde o século XXI carrega as heranças malditas do XV.

O povo tem direito à arte em sua forma mais aperfeiçoada e lúdica, em seu conteúdo mais transformador. Pois não é do povo que a arte emana?

Deve resultar daí um novo contexto, uma nova realidade em que o povo deixa de ser objeto e passa a atuar como sujeito da ação.

O fundamental é aprofundar os processos de identificação com o povo, com as comunidades locais, revigorando o teatro, embebendo-o dos costumes, crendices e manifestações que só a comunidade, em séculos de elaboração, foi capaz de manejar.

Todo o esforço será pouco no sentido de retornar ao povo uma arte esteticamente bela, lúdica, estruturalmente embebida de conflitos sociais, comprometida com a comunidade, libertária em sua essência. Todos os recursos cênicos deverão ser disponibilizados na busca desta linguagem popular.

Maquilagem, iluminação, cenários e adereços são meios que devemos dispor para alcançar este desafio. Ignorá-los, como fez Grotowski, não será boa medida. O desafio será aperfeiçoá-los, adequando-os à nossa realidade, utilizando o material disponível na praça, adotando uma postura adequada, uma postura que educa e constrói.

Mais grave que a falta de condições materiais para o desenvolvimento da arte, é a falta de condições para que o artista possa, com desenvoltura, efetuar a análise crítica de sua produção e da própria sociedade. Esta última condição é pedra de sustentação da cultura popular, pedra angular do teatro de bonecos Mané Beiçudo, um teatro concebido para a educação.

Este contexto – onde a leitura crítica da realidade é enviesada - gera uma situação em que os grupos, por força das circunstâncias, passam a - sem fontes de financiamento - imitar e repetir o que a televisão produz com fartos e ilimitados recursos. O resultado não poderia ser outro senão o supra-sumo do ridículo, do fracasso, do medíocre. Automaticamente o público relaciona o que vê no palco com o que assiste na TV e... desaparece dos teatros.

O resgate das autenticas manifestações culturais populares é o primeiro passo para se consolidar, nos planos teórico e prático, um teatro verdadeiramente popular. O modo de viver, andar, falar, vestir, pensar, as ansiedades e aspirações da comunidade, tudo são variantes que devem ser conhecidas em profundidade.

Um outro passo é incorporar a consciência de que a falta de recursos financeiros não está, necessariamentevinculado ao espetáculo insosso, de mau gosto, desagradável e mal elaborado. A carência financeira deve ser compensada por altas e concentradas doses de criatividade, qualidade farta e que lateja em nossa gente. Criatividade que de tão intensa transborda em nossos festejos e manifestações populares.

A mobilização da sociedade por mais investimentos em cultura e educação, deve caminhar lado a lado com a incansável luta por um processo de capacitação que priorize a técnica e a estética alternativa.

É necessário conquistar efetivamente uma estética popular, transformando o pouco que temos em um espetáculo encantador, mágico, crítico, renovador, características fundamentais no teatro que procuramos.

Ninguém melhor que Brecht para dirimir esta questão: “temos na verdade, necessidade de um teatro ingênuo, mas não primitivo; poético e não romântico; próximo da realidade, mas não imbuído de politicalha”.


Estes componentes figuram de forma explícita no Teatro Popular de Bonecos Mané Beiçudo. Um teatro fruto da atuação conjunta de artistas, educadores e comunidade. Da dramaturgia à concepção do espetáculo, tudo é elaborado de forma coletiva, numa perspectiva de, compreendendo a realidade, desnudando suas variadas facetas, cuidar de sua transformação – zelando pelos processos lúdico, crítico e planejado. Este é o objetivo do Teatro Popular de Mané Beiçudo. Um teatro concebido e estruturado para responder às demandas do ensino e da educação.

Artigo de Antônio Carlos dos Santos publicado no portal de Associação dos Professores de São Paulo - Aproesp.