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terça-feira, 3 de novembro de 2015
Jerzy Grotowski - teatro pobre ou rico?
“O ator deve decifrar todos os problemas de seu próprio organismo que lhe sejam acessíveis. Deve saber qual o meio de dirigir o ar, conduzindo o som para determinada parte de seu corpo, produzindo sonoridades que parecerão ter sido ampliadas por diferentes tipos de ressoadores.”
Polônia foi o país em que Jerzy Grotowski nasceu. Estudou na escola dramática estatal de Cracóvia e no Instituto de Artes Dramáticas Lunacharsky, em Moscou. Em 1959 passou a compor o Teatro Laboratório, fundado nesse mesmo ano, em Opole. Criou uma nova metodologia teatral por ele denominado de Teatro Pobre, defendendo uma maior participação do público no espetáculo. Em 1965 fundou em Varsóvia o Teatro Laboratório Polonês. Foi professor da Escola Superior de Arte Dramática de Marseille e fundou a American Institution for Research and Studies into the Oeuvre of Jerzy Grotowski, para popularizar sua escola teatral nos Estados Unidos. No ano de 1982 mudou-se para os Estados Unidos lecionando na Universidade de Columbia e depois na universidade da Califórnia. No ano de 1985 transfere-se para a Itália, país aonde veio a falecer em 1999.
Muitos querem acreditar que Grotowski, Artaud e o Living Theatre integram uma só escola. Ledo engano.
Artaud e o Living Theatre consagram a anarquia e a intensidade, a explosão total. Já na obra de Grotowski o que vemos é a experimentação do trabalho meticuloso, o artesanato, o completo domínio sobre todas as etapas da produção dramática.
Os primeiros encenadores – Antonin e J. Malina - incidem diretamente sobre a platéia, provocando-a, instigando-a. Já Grotowski utiliza de artifícios sutis, importunando-a de forma indireta, através da inquietude do espetáculo.
Grotowski só conheceu Artaud e sua mais completa obra - O Teatro e seu Duplo - quando já tinha desenvolvido as premissas do Teatro Pobre. Apesar das diferenças entre as metodologias de um e de outro, impressiona o número de pontos de convergência. É como se o diretor polonês tivesse se encarregado de dar materialidade aos sonhos do encenador francês.
Em ambos percebe-se uma obstinada busca pela superação do texto enquanto trampolim, priorizando sua utilização “como material para a construção do som”. Marca também a obra de ambos a investigação sobre uma linguagem corporal que conduza ao transe; o inconformismo com o palco tradicional; a procura por alternativas que alterem a relação palco-platéia e o resgate do aspecto sagrado da representação teatral.
Mas o encenador polonês empresta a estes componentes comuns características que tornam seu movimento único, singular, sem paralelo, diferenciando-se tanto do Teatro da crueldade como do Happening.
Do ator exige entrega total em sua busca pela expressividade corporal: “o ator ao desempenhar deve fazer uma doação total de si mesmo”, afirma Grotowski (“Em busca de um teatro pobre”).
Os antigos mitos – “arquétipos” para Grotowski – são ressuscitados de forma exasperada, num embate brutal a afligir nossas superstições, numa batalha sem tréguas contra nossas referências existenciais, nossos tabus e paradigmas.
Uma diferença marcante do Teatro Pobre é a limitação da ação: preferência pelos pequenos públicos, pelas platéias diminutas, procurando assim estabelecer uma interação mais profunda entre os atores e a assistência.
A idéia básica é envolver o espectador num clímax perturbador que o levaria a se conhecer melhor. Decorre daí a preocupação com um espetáculo que se caracterize pela intensidade e perfeição.
Os componentes estruturados para enriquecer o jogo teatral - como a iluminação, a cenografia, a música e a maquilagem - são descartadas para, na visão de Grotowski, fazer emergir e dar lugar à verdadeira teatralidade. Dessa forma, ao contrário de criar e estruturar uma personagem, o ator passa a se incumbir de descobrir-se através dele. O ator é o centro de tudo. E tudo passa pelo físico, pelo corpo submetido a rigoroso treinamento, pela expressão corporal. Para um corpo plástico e multi-presente, qual a razão de adereços e acessórios como jogos de luz, maquilagem e música? Para chegar a este ator, Grotowski submete seu grupo a seções diárias de hata-ioga e a psicanálise.
Neste ponto as diferenças com Artaud chegam ao extremo, porque o criador do Teatro da Crueldade preconizava o “espetáculo integral”, com todos os seus elementos.
O encenador polonês descartou os componentes do teatro e mais tarde, já no final de sua existência, chegou a descartar o próprio espectador – agora denominado testemunha – a ponto de alguns questionarem se o que Grotowski exercitava ao final da vida seria mesmo manifestação teatral.
De qualquer forma, a denominação encontrada pelo encenador polonês para batizar sua escola teatral não passa de tosca ironia. Mais apropriado seria renomeá-lo como O Teatro Rico de Jerzy Grotowski.
Antônio Carlos dos Santos é o criador da metodologia de produção do teatro popular de bonecos Mané Beiçudo e da tecnologia de planejamento estratégico Quasar K+
Polônia foi o país em que Jerzy Grotowski nasceu. Estudou na escola dramática estatal de Cracóvia e no Instituto de Artes Dramáticas Lunacharsky, em Moscou. Em 1959 passou a compor o Teatro Laboratório, fundado nesse mesmo ano, em Opole. Criou uma nova metodologia teatral por ele denominado de Teatro Pobre, defendendo uma maior participação do público no espetáculo. Em 1965 fundou em Varsóvia o Teatro Laboratório Polonês. Foi professor da Escola Superior de Arte Dramática de Marseille e fundou a American Institution for Research and Studies into the Oeuvre of Jerzy Grotowski, para popularizar sua escola teatral nos Estados Unidos. No ano de 1982 mudou-se para os Estados Unidos lecionando na Universidade de Columbia e depois na universidade da Califórnia. No ano de 1985 transfere-se para a Itália, país aonde veio a falecer em 1999.
Muitos querem acreditar que Grotowski, Artaud e o Living Theatre integram uma só escola. Ledo engano.
Artaud e o Living Theatre consagram a anarquia e a intensidade, a explosão total. Já na obra de Grotowski o que vemos é a experimentação do trabalho meticuloso, o artesanato, o completo domínio sobre todas as etapas da produção dramática.
Os primeiros encenadores – Antonin e J. Malina - incidem diretamente sobre a platéia, provocando-a, instigando-a. Já Grotowski utiliza de artifícios sutis, importunando-a de forma indireta, através da inquietude do espetáculo.
Grotowski só conheceu Artaud e sua mais completa obra - O Teatro e seu Duplo - quando já tinha desenvolvido as premissas do Teatro Pobre. Apesar das diferenças entre as metodologias de um e de outro, impressiona o número de pontos de convergência. É como se o diretor polonês tivesse se encarregado de dar materialidade aos sonhos do encenador francês.
Em ambos percebe-se uma obstinada busca pela superação do texto enquanto trampolim, priorizando sua utilização “como material para a construção do som”. Marca também a obra de ambos a investigação sobre uma linguagem corporal que conduza ao transe; o inconformismo com o palco tradicional; a procura por alternativas que alterem a relação palco-platéia e o resgate do aspecto sagrado da representação teatral.
Mas o encenador polonês empresta a estes componentes comuns características que tornam seu movimento único, singular, sem paralelo, diferenciando-se tanto do Teatro da crueldade como do Happening.
Do ator exige entrega total em sua busca pela expressividade corporal: “o ator ao desempenhar deve fazer uma doação total de si mesmo”, afirma Grotowski (“Em busca de um teatro pobre”).
Os antigos mitos – “arquétipos” para Grotowski – são ressuscitados de forma exasperada, num embate brutal a afligir nossas superstições, numa batalha sem tréguas contra nossas referências existenciais, nossos tabus e paradigmas.
Uma diferença marcante do Teatro Pobre é a limitação da ação: preferência pelos pequenos públicos, pelas platéias diminutas, procurando assim estabelecer uma interação mais profunda entre os atores e a assistência.
A idéia básica é envolver o espectador num clímax perturbador que o levaria a se conhecer melhor. Decorre daí a preocupação com um espetáculo que se caracterize pela intensidade e perfeição.
Os componentes estruturados para enriquecer o jogo teatral - como a iluminação, a cenografia, a música e a maquilagem - são descartadas para, na visão de Grotowski, fazer emergir e dar lugar à verdadeira teatralidade. Dessa forma, ao contrário de criar e estruturar uma personagem, o ator passa a se incumbir de descobrir-se através dele. O ator é o centro de tudo. E tudo passa pelo físico, pelo corpo submetido a rigoroso treinamento, pela expressão corporal. Para um corpo plástico e multi-presente, qual a razão de adereços e acessórios como jogos de luz, maquilagem e música? Para chegar a este ator, Grotowski submete seu grupo a seções diárias de hata-ioga e a psicanálise.
Neste ponto as diferenças com Artaud chegam ao extremo, porque o criador do Teatro da Crueldade preconizava o “espetáculo integral”, com todos os seus elementos.
O encenador polonês descartou os componentes do teatro e mais tarde, já no final de sua existência, chegou a descartar o próprio espectador – agora denominado testemunha – a ponto de alguns questionarem se o que Grotowski exercitava ao final da vida seria mesmo manifestação teatral.
De qualquer forma, a denominação encontrada pelo encenador polonês para batizar sua escola teatral não passa de tosca ironia. Mais apropriado seria renomeá-lo como O Teatro Rico de Jerzy Grotowski.
Antônio Carlos dos Santos é o criador da metodologia de produção do teatro popular de bonecos Mané Beiçudo e da tecnologia de planejamento estratégico Quasar K+
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