quinta-feira, 30 de novembro de 2017

Maiakovski - um dos maiores poetas do século XX


A peça teatral enfoca duas das mais importantes personalidades do movimento artístico mundial, o poeta e dramaturgo Maiakovski e o diretor teatral Meyerhold, ambos russos.
Entusiastas de primeira hora da revolução de 1917 pouco tempo depois se tornariam grandes vítimas dela, devorados que foram pela burocracia e pela repressão soviética.
Maiakovski passou para a história como o ‘poeta da revolução’; Meyerhold como o encenador criador do grotesco cênico e da Biomecânica, escola teatral que sorveu as ideias produtivistas de Taylor, a teoria de reflexos condicionados de Pavlov e os estudos das relações corpo-emoções de Willian James.
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Filiados ao Partido Bolchevique, Maiakovski e Meyerhold montam, em 1918, em comemoração ao primeiro ano da revolução soviética, a peça teatral “Mistério Bufo”.
A partir daí mergulham no materialismo dialético e no realismo socialista promovendo um teatro maniqueísta de propaganda política: o bem numa extremidade, o mal na outra; os revolucionários de um lado e os exploradores do outro, bem ao sabor da nova ordem burocrática.
Mas quando abrem mão do teatro panfletário, simplista e maniqueísta, passam a ser acusados pelo establishment comunista de produzir uma arte “incompreensível para as massas”, e de cultuar em suas montagens “aspectos místicos, eróticos e de espírito associal”.
A partir daí os problemas com o partido da classe operária foram se acumulando, intensificando, até que a apresentação de “O percevejo” - texto de Maiakovski e direção de Meyerhold – representou a ruptura definitiva.
O diretor teatral Meyerhold foi preso em 1939 e assassinado a tiros na prisão em 1940.
O poeta e dramaturgo Maiakovski, segundo a versão oficial, teria se suicidado em 14 de abril de 1930, aos 36 anos de idade. No velório, 150 mil pessoas passaram na frente de seu caixão nos 3 dias em que ficou exposto.

Neste período da história soviética, mais de 1500 artistas foram submetidos ao mesmo brutal ritual estalinista de seleção cultural. 
É este o contexto histórico que embala a peça teatral “Estrela vermelha: à sombra de Maiakovski”.
Na peça, Antônio Carlos desenvolve a trama lançando mão de personalidades históricas, obras artísticas e fatos reais que permearam as vidas de Maiakovski e Meyerhold. Passeia pela diferentes fases de suas vidas, pela ebulição revolucionária da época, pela repressão promovida pelo estado, para culminar numa densa discussão sobre a morte do poeta da revolução, o conflito dramático: de um lado, os protagonistas argumentando que o poeta foi barbaramente assassinado, que o suicídio teria sido forjado, armado; enquanto, do outro lado, os antagonistas repercutem a versão oficial desuicídio’.

Em uma das cenas os agentes soviéticos interrogando uma personagem da peça, explicam a farsa montada para embasar a versão oficial sobre o ‘suicídio’ de Maiakovski: “Os fatos não precisam ser verdadeiros, Dimitri. Basta que tenham a aparência da verdade. E todos se dão por satisfeitos”.
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A arte de escrever bem


Escrever é uma necessidade vital, um fundamento sem o qual a comunicação perde em substância.
Os desafios do dia a dia exigem intensa troca de mensagens, seja nas redes sociais, seja nas corporativas: relacionamentos pessoais, correio eletrônico, elaboração de projetos e relatórios, participação em concursos e processos seletivos, negociações empresariais, tratados corporativos, convenções políticas, projetos literários... Tarefas que se tornam triviais, textos que se tornam mais adequados e elegantes quando as técnicas para a elaboração da redação criativa se encontram sob inteiro domínio. E não é só. Escrever está umbilicalmente vinculado à qualidade de vida, à saúde, ao bem-estar.
É o que comprova estudo realizado pela Universidade de Auckland, na Nova Zelândia. Os pesquisadores chegaram à conclusão que a prática da escrita atua na redução dos hormônios vinculados ao estresse, melhora o sistema imunológico, auxilia na recuperação do equilíbrio físico e emocional.  
Este livro disponibiliza uma exclusiva metodologia para a elaboração do texto criativo. Destina-se aos que tenham interesse em aprimorar a expressão através da escrita: trabalhadores e servidores públicos, gestores que atuam nos setores privado e estatal, empresários e empreendedores, lideranças políticas e sociais, professores e estudantes, sem perder de vista as pessoas comuns, o público em geral, porque qualificar as formas de interagir com o outro deve ser um objetivo estratégico acolhido por todos.     
A utilização da técnica ‘Moving Letters’ possibilita que a atividade ‘escrever bem’ se coloque ao alcance de qualquer um. O método, ancorado nos princípios do planejamento estratégico – de maneira gradual e progressiva – conduz o leitor pelos universos que podem levá-lo à carreira de escritor.  Caso a opção seja escrever um livro, por exemplo, a metodologia auxilia na definição dos temas, na estruturação das tramas, na caracterização das personagens, na coesão do enredo, na consistência dos conflitos, na lapidação do texto, desenvolvendo as habilidades necessárias para a elaboração da adequada escritura.
Fluência à escrita e qualidade à redação são as molas propulsoras que impulsionam o livro, são os objetivos possibilitados pela aplicação da metodologia. Como fundamento, um tripé harmoniosamente organizado: a linguística, a estruturação e análise do discurso e as técnicas de elaboração de textos criativos. 
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quarta-feira, 29 de novembro de 2017

Jovens cubanos: expectativas e angústias na era pós-Castro

Aluna faz colagem com fotos de Fidel Castro, em escola de Havana

Eles são estudantes, funcionários públicos, trabalhadores do setor informal ou blogueiros, e fazem parte de uma juventude disposta a encarar o futuro em Cuba, embora a era pós-Castro, que se aproxima, alimente preocupações.
Alguns se preocuparam pelo o que aconteceria depois da morte de Fidel Castro, mas sua morte há um ano não trouxe grandes mudanças para o país. Os irmãos Castro tomaram providências para garantir uma transição ordenada.
Fidel, doente, cedeu o poder a seu irmão em 2006. Dentro de três meses será o turno de Raúl, de 86 anos, de passar o bastião a uma nova geração pela primeira vez em quase seis décadas. Uma perspectiva que traz muitas incertezas inclusive entre os militantes comunistas.
Toda noite, a juventude "habanera" ao Malecón, onde bebem rum, cantam e conversam até o amanhecer. Mas sobretudo eles navegam na internet graças às zonas wifi instaladas em 2015.
Residente em cardiologia no hospital Calixto García, Ernesto Jiménez, de 29 anos, se diz otimista sobre futuras transformações, mas teme que isso tome "muito tempo". "As poucas mudanças nesses tempos desde que nasci, nesses 29 anos, foram com muito trabalho", recorda.
"O econômico é o que mais atinge a população cubana e acho que melhorando isso, melhoraríamos muito", explica este jovem, com um salário de 1.300 pesos ao mês (52 dólares).
Laisi Chi, estudante de 22 anos caminha em frente à Universidade de Havana, reduto de militantes do Partido Comunista de Cuba (PCC). O jovem proclama sua "confiança no socialismo cubano, na revolução, que continue, que se mantenha".
Laura León, de 18 anos, está na mesma órbita. "Temos grandes ideais e os temos bem arraigados, estamos bem definidos no que queremos (...) e a nova geração saberá cumprir com o legado", assegura a estudante.
No entanto, os dois admitem que serão necessárias reformas para modernizar o país e sobretudo o atual modelo econômico soviético já obsoleto, apesar da tímida abertura iniciada por Raúl Castro.
"A ilha vai sofrer transformações porque os momentos atuais exigem isso (...) tudo o que ocorre no mundo implica em que haja uma transformação no país", reconhece León, enquanto que Chi considera que a revolução deve se abrir "um pouco mais ao mundo".
- "Transição ou ilusão" -
Engenheiro em uma empresa estatal, Mario (nome modificado a seu pedido) é um desses cubanos que recorrem ao setor informal da economia para fechar o mês.
Aos 36 anos, faz parte da vasta rede de vendedores do "pacote", uma compilação de conteúdos áudio-visuais estrangeiros e filmes americanos em memórias USB, que circula semanalmente de forma tolerada.
Ao contrário de muitos jovens, Mario diz à AFP que quer permanecer em Cuba, embora ache que a "ilha vai continuar igual". "Acho que vai continuar sendo da mesma linha, não acredito que haverá muitas mudanças", com os novos dirigentes, afirma.
Não importa a ele uma mudança de governo. Simplesmente sonha com "um melhor poder aquisitivo e mais oportunidades de trabalho privado", que emprega 20% da população ativa.
Yunior García (35), diretor de uma companhia de teatro em Holguín (nordeste) é outro dos poucos que não vê seu futuro fora da ilha, embora, diga que "em Cuba todo mundo sabe que as coisas não vão bem".
"Não podemos sentar e esperar passivamente que seja essa mudança feita pelos outros. Se não gosto de algo, acho que cabe a mim mudar", acrescenta o artista, criticado por sua sinceridade.
Abraham Jiménez, de 28 anos, lamenta que os jovens cubanos estejam hoje "mais empenhados em resolver seus problemas particulares do que nos problemas nacionais". "Só querem melhorar, ter um prato de comida, ter um par de Nike e viajar".
Este blogueiro, que dirige o site de informação independente "El Estornudo", não vê salvação nem na dissidência envelhecida que não é ouvida nem na juventude indiferente.
"Os únicos que se preocupam com isso (com a política) estão nos extremos: os que têm interesses mais pessoais do que políticos e os que são como clones dos que estão dirigindo o país", lamenta.
Finalmente, adverte, a transição de fevereiro do ano que vem não será realmente uma mudança, "porque no fim quem governa em Cuba é o chefe do PCC", já que Raúl Castro deve se manter até o próximo congresso do Partido em 2021.
AFP


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A arte de escrever bem


Escrever é uma necessidade vital, um fundamento sem o qual a comunicação perde em substância.
Os desafios do dia a dia exigem intensa troca de mensagens, seja nas redes sociais, seja nas corporativas: relacionamentos pessoais, correio eletrônico, elaboração de projetos e relatórios, participação em concursos e processos seletivos, negociações empresariais, tratados corporativos, convenções políticas, projetos literários... Tarefas que se tornam triviais, textos que se tornam mais adequados e elegantes quando as técnicas para a elaboração da redação criativa se encontram sob inteiro domínio. E não é só. Escrever está umbilicalmente vinculado à qualidade de vida, à saúde, ao bem-estar.
É o que comprova estudo realizado pela Universidade de Auckland, na Nova Zelândia. Os pesquisadores chegaram à conclusão que a prática da escrita atua na redução dos hormônios vinculados ao estresse, melhora o sistema imunológico, auxilia na recuperação do equilíbrio físico e emocional.  
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terça-feira, 28 de novembro de 2017

Por que o teatro liberta?


“Não há artista que não saiba que os temas são por si próprios, numa certa medida, algo ingênuos, despidos de atributos, vazios e auto suficientes. Só o gesto social, a crítica, a astúcia, a ironia... lhes inculcam um caráter humano”.
                                                                       Bertolt Brecht
A elaboração do texto é uma das etapas mais delicadas do teatro. A tarefa de desenhar e compor a peça teatral é um dos mais desafiadores encargos.
A necessidade de escrever a trama não está associada à inexistência de autores teatrais. Absolutamente. Diria, sem receio de cometer equívocos, que em nossas comunidades latejam artistas e escritores. Não só o numero de escritores ou potenciais escritores é expressivo, como é elevada a qualidade dos trabalhos. O problema se materializa quando se trata de disponibilizar essa produção. Infelizmente o acesso aos textos dramáticos não tem sido satisfatório.
É neste contexto que este livro se insere.
A importância do próprio grupo teatral estruturar seus textos - ou pelo menos alguns deles – aponta na direção do aprofundamento da interação com a comunidade, com a plateia, com o público alvo. Não é tão simples encontrarmos textos elaborados, perfeitamente ajustados às nossas necessidades, expressando a real situação que queremos abordar, criticar e reconstruir.
Acorre à lembrança um grupo de teatro amador do Estado do Paraná. O grupo andava em busca de um texto que se aproximasse - ainda que tangencialmente, da realidade local.
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Procuraram por um longo tempo, numa busca exaustiva, estafante. Recorreram às bibliotecas, aos professores, estudiosos e amigos. Uma teia informal de pesquisadores foi formada para - após certo tempo, dar a busca por encerrada, sem que fosse o texto encontrado.
A procura por um texto singular, que evidenciasse os problemas emergentes da região, dificultava a tarefa. Buscavam um escrito em fina sintonia com a realidade conflituosa vivenciada pela comunidade. Foi quando se depararam com o inevitável: teriam - eles próprios - de assumir a tarefa, criar a obra. Mas como fazer? Que metodologia adotar? Que estratégia seguir? Aí é que tudo se embaralhou. Sobretudo, porque não havia no grupo quem fosse afeiçoado à escrita.
Resolveram então, seguindo os procedimentos da metodologia ThM-Theater Movement, aqui disposta, redigir o texto teatral. O objetivo foi conquistado, com êxito, após uma semana de intensos trabalhos.
Mas há uma outra vertente que também carece desse tipo de intervenção. Em nossas escolas, do ensino fundamental ao superior - passando pelo médio e profissionalizante, abriram-se verdadeiros abismos, precipícios, buracos negros, em que a cidadania, de forma geral, é mantida à margem de tudo que faça referência ao teatro e à dramaturgia.
Trata-se então de estabelecer uma ponte, abrir um canal através do qual a comunidade possa acessar as técnicas necessárias à elaboração do texto criativo, da obra literária, e, sobretudo, ao exercício da dramaturgia.
Uma outra questão, não menos importante, convém salientar: a reação, o medo de escrever. Não poucas vezes nos sentimos prostrados, perplexos diante do “branco”, do vazio, da completa ausência de ideias que enfoquem temas sobre os quais deveríamos debruçar e redigir.
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Essa situação não soa atípica, extraordinária ou incomum; costuma acontecer com certa frequência e não deveria causar vergonha, espanto ou temor. Sobre o assunto atente ao que escreveu Carlos Drummond de Andrade:
“Gastei uma hora pensando um verso
que a pena não quer escrever.
No entanto ele está cá dentro
Inquieto, vivo.
Ele está cá dentro
E não quer sair”.

Para superar a falta de ideias, ajuda agregar aos procedimentos a etapa do aquecimento. Antes de uma acorrida ou da prática de alguma atividade esportiva, o correto é iniciar com o aquecimento físico sob pena de incorrer em lesão muscular. Assim como o corpo, também a mente necessita de aquecimento para se movimentar e alçar voo.

Portanto, antes de colocar a mão na massa, antes de dar início à tarefa, antes de iniciar a redação, é necessário conversar consigo mesmo, trocar ideias e impressões com essa mítica personagem que habita o nosso interior e que, muitas vezes, desconhecemos por completo. Não hesite em questionar seu imaginário, fazer comparações, estabelecer conexões, alinhavar relações de causa e efeito. Nessa etapa vale tudo: acionar a memória, abusar da imaginação, dar guarida à inteligência e à criatividade.
E manter-se a quilômetros de distância da preguiça mental.
O teatro é o espaço onde todas as manifestações artísticas se encontram: as artes plásticas e a arquitetura, a música, a dança, o canto e a oratória, a literatura...
A literatura chega ao teatro através da dramaturgia. No teatro utilizamos a língua falada que surgiu muito antes da língua escrita.
Apesar de todo o aperfeiçoamento verificado ao longo da história da humanidade, a língua escrita jamais conseguirá se apropriar de todas as variações da entonação, por exemplo. Ou das alterações que um esgar, um trejeito, um gesto ensaiado pode emprestar a uma palavra. Um olhar mais intenso, um gesto compassado das mãos, a linguagem corporal de um ator experiente, tudo isso pode expressar significados que a língua escrita jamais alcançará. Por isso, traduzir todo esse universo confinando-o num texto é um desafio que exige habilidade e um conjunto de técnicas apropriadas. Um bom texto sempre possibilitará que o ator se expresse com maior intensidade. Tem que ser assim porque o ator é, na realidade, o emissor primordial, o agente que tratará de impregnar as palavras de movimento. Ao dramaturgo cabe estabelecer códigos que possibilitem à mensagem chegar cristalina, explícita e compreensível à plateia, ao receptor. Por isto, muitas vezes o dramaturgo fará a opção por ignorar as normas gramaticais, passando ao largo da linguagem culta. Optará por uma outra modalidade linguística: a linguagem coloquial. Mas para adotar este procedimento deve estudar profundamente a linguagem culta, deve dominar os modelos e normas da gramática tradicional.
Para saber mais sobre o livro, clique aqui.

As palavras de Clarice Lispector elucidam esta questão:
“Mas eu queria dizer a você e a todos os que estão começando a escrever que, para não respeitar as regras gramaticais, é essencial conhecê-las – senão é simples erro e ignorância.”  Clarice Lispector. Correspondência, JB, 29/06/68 
O texto teatral é uma peça viva, encorpada, por isso deve ter alma e forma.
Quanto à alma, à expressividade, Franz Kafka - um dos ícones da literatura moderna, afirmava que “a pena é o estilete sismográfico do coração”. Neste sentido, o texto deve expressar o que provém dos quadrantes mais recônditos de nosso coração, dos escaninhos mais secretos de nosso interior. As palavras são porta-vozes de nossos sentimentos mais febris, impetuosos e secretos.
E neste contexto, a forma exerce importância vital. Às vezes temos que percorrer uma jornada exaustiva até encontrar a forma adequada, a mais ajustada aos nossos objetivos e propósitos. Em uma de suas cartas, Antonin Artaud - o dramaturgo francês que concebeu o Teatro da Crueldade - dialoga com um amigo a respeito de um artigo em elaboração: “(...) estou em vias de fazê-lo, mas eu o reescrevo sem cessar, como tudo que faço. Preciso de tempo e de inúmeras tentativas e revisões minuciosas antes de encontrar a minha forma”.
No processo de elaboração do texto teatral o ideal é que conteúdo e forma caminhem juntos, no mesmo compasso, como se verso e reverso de uma mesma moeda.
No passado recente muitos encenadores colocaram-se contra a palavra no palco acreditando que sua onipresença limitava a manifestação essencialmente teatral, impedindo-a de se libertar. Alegavam, como Edward Gordon Graig que “(...) a arte do teatro nasceu do gesto, do movimento, da dança (...)” e por isso relegavam o verbo a um plano inferior. Em suas incursões contra o teatro ocidental, Artaud o condenava por “viver sob a ditadura excessiva da palavra”.
Tairov inconformava-se com a submissão do teatro ao texto escrito e afirmava categórico: “o teatro novo não deve ser um comentário do texto, mas criar sua nova obra de arte própria e autônoma”.
O dramaturgo deve estar atento a esta dinâmica específica da atividade teatral. O texto não deve existir de per si; deve ser compreendido como parte de um contexto maior; deve existir de forma integrada à plástica dos cenários e adereços – a arquitetura; deve interagir com a linguagem gestual, com a dança, com a música, com uma plateia cada vez mais ávida por participar, interagir, contribuir.
Ao escrever, portanto, o autor deve conduzir seu espírito e sua mente em direção a esta ambientação onde a relação espaço-tempo apresenta-se de múltiplas formas, com múltiplos significados.
Destarte, habitue-se a escrever imaginado a palavra se libertando do texto inerte, adquirindo o audaz movimento propiciado pela expansão do som no ar. Acostume-se a redigir imaginando as cenas transcorrendo no palco, nas ruas, na vida. Imagine, ao criar o texto, o ator inspirando, expirando, ofegando, latejando, procurando a pausa e a entonação que darão ao verbo o sentido mais exato e legítimo. Reflita sobre o choque e o entrechoque das palavras, a reverberação, o eco, a repercussão, a resposta refletida no contato com as superfícies...      
Adolphe Appia, sabiamente, costumava afirmar: “(...) quem diz dramaturgo diz também encenador; seria um sacrilégio especializar as duas funções. Podemos então estabelecer que se o autor não acumula ambas, não será capaz de uma, nem de outra, pois é na penetração recíproca que deve nascer a arte viva”.
Este é o universo de onde emerge esta A arte da dramaturgia, 555 exercícios, jogos e laboratórios para aprimorar a redação da peça teatral.        
São mais de 500 exercícios contextualizados na metodologia QuasarK+, sistemática de planejamento criada por este autor em que a relação pesquisa/ação/reflexão/avaliação/retroalimentação se processa de forma continuada e indissolúvel. Mergulhando o imaginário criativo nos marcos do raciocínio lógico, a tecnologia ThM-Theater Movement incorpora valores e princípios estruturantes como “Construção Solidária” e “Participação Intensiva”, conduzindo o leitor à possibilidade da construção e encadeamento das tramas, da elaboração do texto criativo, da redação peça teatral.
 Tanto quanto conceber e semear peças teatrais, as intenções e objetivos deste livro constituem uma caminhada. Uma jornada em que o princípio consta latente, mas que o processo e o epílogo invariavelmente estarão por concluir. Inexoravelmente.  
Por esta razão, nesse ponto da travessia, o estudo, a investigação, a pesquisa estruturada, a observação criteriosa, crítica e metódica, deverão impregnar nosso dia a dia. Legando à caminhada os predicados do bom humor, do entusiasmo e do prazer, condições para que façamos com amor, criando sempre e cada vez mais e melhor.
O desafio está lançado. O universo da dramaturgia está em suas mãos, amigo leitor. Eis que o contrarregra sinaliza a abertura das cortinas.
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