segunda-feira, 19 de junho de 2017

"Irena Sendler, minha Irena": Porque a vida é para ser vivida


Mulher de luta, uma mulher de garra
Eis uma mulher de luta
Mulher que ama
Com destemor enfrenta a guerra
Mergulha fundo num mundo imundo
Enfrenta bazucas, fuzis, morteiros
Tropas, milícias, esquadrões
Não perde a magia para regar a planta
Mulher que luta, mulher de garra
Mulher que ama, é a mulher-santa
E rega o broto em flor
E aduba o broto em flor
E cuida do broto em flor
Porque precisa crescer o broto da flor
Noites escuras, noites assombradas
Mas, ainda que a noite escureça
Ainda pulsa a vida no escuro da noite
É escuro
- Mas vida há no escuro
É trevas
-Mas vida resiste às trevas
É silêncio da morte
-A vida respira no silêncio da morte
Até que, no romper de um dia qualquer
O sol desperta e faz adormecer a escuridão densa
Até que, no romper de um dia qualquer
O sol desperta e faz desvanecer a opressão tensa
Até que, no romper de um dia qualquer
Eis a graça de Deus, eis a flor em botão
Abrindo pétalas, aspergindo luz
Movendo-se com elegância em direção ao sol
A flor exulta, florescer, viver
Abrindo as pétalas em direção ao sol
A flor exulta, florescer, viver
Eis uma mulher de luta, uma mulher de garra
Uma alma santa que ilumina as trevas
Uma alma santa que ressuscita a esperança
Uma alma santa que possibilita a vida
Eis uma mulher de luta, uma mulher de garra
Empunha nas mãos uma única arma
A solidariedade, a comunhão, o amor, a compaixão
O frágil armamento que demove tanques
O frágil armamento que demove barbáries
O frágil armamento que condena a tortura
O frágil armamento que evoca a vitória
Porque a vida é para ser singela
Um brinde, uma oferta, uma graça, um presente

Porque a vida é para ser vivida



O livro com a peça teatral Irena Sendler, minha Irena:


A história registra as ações de um grande herói, o espião e membro do Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães, Oskar Schindler, que salvou cerca de 1.200 judeus durante o genocídio perpetrado pelos nazistas. O industrial alemão empregava os judeus em suas fábricas de esmaltes e munições, localizadas na Polónia e na, então, Tchecoslováquia.   

Irena Sendler, utilizando-se, tão somente, de sua posição profissional – assistente social do Departamento de Bem-estar Social de Varsóvia – e se valendo de muita coragem, criatividade e altruísmo, conseguiu salvar mais de 2.500 crianças judias.

"O Anjo do Gueto de Varsóvia", como ficou conhecida Irena Sendlerowa, conseguiu salvar milhares de vidas ao convencer famílias cristãs polonesas a esconder, abrigando em seus lares, os pequeninos cujo pecado capital – sob a ótica do führer – consistia em serem filhos de pais judeus.

Período: 2ª Guerra Mundial, Polônia ocupada pela Alemanha nazista. A ideologia de extrema-direita que sistematizou o racismo científico e levou o antissemitismo ao extremo com a Solução Final, implementava a eliminação dos judeus do continente europeu.

A guerra desencadeada pelos nazistas – a maior deflagração do planeta – mobilizou 100 milhões de militares, provocando a maior carnificina já experimentada pela humanidade, entre 50 e 70 milhões de mortes, incluindo a barbárie absoluta, o Holocausto, o genocídio, o assassinato em massa de 6 milhões de judeus.

Este é o contexto que inspirou o autor a escrever a peça teatral “Irena Sendler, minha Irena”.

Para dar sustentação à trama dramática, Antônio Carlos mergulhou fundo na pesquisa histórica, promovendo a vasta investigação que conferiu à peça um realismo que inquieta, suscitando reflexões sobre as razões que levam o homem a entranhar tão exageradamente no infesto, no sinistro, no maléfico. Por outro lado, como se desanuviando o anverso da mesma moeda, destaca personagens da vida real como Irena Sendler, seres que, mesmo diante das adversidades, da brutalidade mais atroz, invariavelmente optam pelo altruísmo, pela caridade, pela luz.

É quando o autor interage a realidade à ficção que desponta o rico e insólito universo com personagens intensos – de complexa construção psicológica - maquinações ardilosas, intrigas e conspirações maquiavélicas, complôs e subterfúgios delineados para brindar o leitor – não com a catarse, o êxtase, o enlevo – e sim com a reflexão crítica e a oxigenação do pensamento.
Dividida em oito atos, a peça traz à tona o processo de desumanização construído pelas diferentes correntes políticas. Sob o regime nazista, Irena Sandler foi presa e torturada – só não executada porque conseguiu fugir. O término da guerra, em 1945, que deveria levar à liberdade, lancinou o “Anjo do Gueto” com novas violências, novas intolerâncias, novas repressões. Um novo autoritarismo dominava a Polônia e o leste Europeu. Tão obscuro e cruel quanto o de Hitler, Heydrich, Goebbels, Hess e Menguele, surgia o sistema que prometia a sociedade igualitária, sem classes sociais, assentada na propriedade comum dos meios de produção. Como a fascista, a ditadura comunista, também, planejava erigir o novo homem, o novo mundo. Além de continuar perseguindo Irena, apagou-a dos livros e da historiografia oficial, situação que só cessaria com o debacle do império vermelho e a ascensão da democracia, na Polônia, em 1989.


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