A Primeira Guerra Mundial foi um dos conflitos mais
mortíferos da história. Muitas de suas batalhas mais longas e violentas foram
travadas em trincheiras abertas em campos da França e da Bélgica, onde milhões
de soldados perderam suas vidas. Estima-se que, entre militares e civis, mais
de 22 milhões de pessoas foram mortas nos confrontos. Mas no Natal de 1914,
ocorreu um pequeno milagre. Soldados alemães e britânicos interromperam os
combates, e juntos, cantaram canções de Natal, trocaram presentes e jogaram
futebol.
A trégua espontânea no dia de Natal de 1914 foi observada em vários pontos das frentes de batalha, mas durou pouco, e logo os violentos combates foram retomados. Mas ela se tornou um poderoso símbolo da boa vontade entre os povos e do ideal de convivência pacífica.
A Primeira Guerra Mundial foi um dos conflitos mais
mortíferos da história. Muitas de suas batalhas mais longas e violentas foram
travadas em trincheiras abertas em campos da França e da Bélgica, onde milhões
de soldados perderam suas vidas. Estima-se que, entre militares e civis, mais
de 22 milhões de pessoas foram mortas nos confrontos. Mas no Natal de 1914,
ocorreu um pequeno milagre. Soldados alemães e britânicos interromperam os
combates, e juntos, cantaram canções de Natal, trocaram presentes e jogaram futebol.
A trégua espontânea no dia de Natal de 1914 foi
observada em vários pontos das frentes de batalha, mas durou pouco, e logo os
violentos combates foram retomados. Mas ela se tornou um poderoso símbolo da
boa vontade entre os povos e do ideal de convivência pacífica.
O emocionante caso é relatado através de testemunhos
de soldados britânicos e alemães no podcast Que História!, da BBC News Brasil,
apresentado por Thomas Pappon.
Frente
Ocidental
A Primeira Guerra Mundial começou em julho de 1914, um
mês após o assassinato do arquiduque Franz Ferdinand, herdeiro do Império
Austro-Húngaro, em Sarajevo (hoje na Bósnia-Herzegovina), por um membro de um
grupo nacionalista sérvio.
O assassinato gerou uma crise entre o Império
Austro-Húngaro e o principado da Sérvia, e dividiu a Europa. De um lado, ficou
a aliança entre o Império Austro-Húngaro, Alemanha e Itália. Do outro, a
Tríplice Entente, de Reino Unido, França e Rússia, aliada da Sérvia.
"Eles terminaram a canção natalina. A gente
aplaudiu e pensou 'precisamos retaliar de algum jeito'. E respondemos cantando
The First Noel."
"Quando terminamos, eles bateram palmas",
conta Williams. "E começaram a cantar a música de Natal favorita deles, O
Tannenbaum. A gente cantava nossas canções, e eles respondiam cantando as
deles. Até a gente cantar Come o Ye Faithful, quando os alemães imediatamente
começaram a cantar junto a mesma música com a letra em latim, Adeste Fidelis.
Achei aquilo uma coisa extraordinária. Duas nações cantando junto a mesma
canção natalina no meio da guerra.
Essa "coisa extraordinária" se espalhou pela
frente de batalha, com soldados dos dois Exércitos trocando as hostilidades, de
forma espontânea, por gestos de aproximação. Um fuzileiro do País de Gales,
cabo Frank Richards, recorda como os soldados de sua trincheira fizeram contato
com ajuda de uma mensagem de Natal escrita em uma lousa.
"A gente escreveu 'Feliz Natal' na lousa. Eles
responderam com gritos de 'Feliz Natal!'. Alguém, disse 'será que vão atirar
hoje?'. 'Acho que hoje não'. E de repente apareceu um alemão com as mãos
levantadas, caminhando pela margem do rio em nossa direção. Um dos nossos jogou
seu equipamento no chão e foi a seu encontro. Eles se cumprimentaram, então
todos nós começamos a sair da trincheira. Mas o comandante da companhia veio correndo
dizer que iria atirar em todo aquele que deixasse seu posto. Até que uns
rapazes do posto mais avançado disseram a ele que era tarde demais."
"Todos nós saímos. Passamos o dia juntos. Ficamos
conversando. Um dos alemães disse para mim, em inglês excelente, 'Quanto tempo
você acha que essa maldita guerra vai durar? Estou de saco cheio dela'. Eu
disse 'Você não é o único, a gente passa o dia com água e lama até o pescoço'.
Ele disse: 'Conosco é a mesma coisa'".
"Os oficiais também acabaram saindo. E começaram
a beber juntos", continua Richards. "O comandante da companhia deu a
um oficial um plum pudding (bolo típico de ameixa). E esse perguntou se podia
oferecer aos soldados do batalhão dois barris de cerveja. 'A gente tem um
monte'. 'Mas vocês não estão querendo deixar nossos soldados bêbados?'. Então
dois alemães trouxeram dois barris num carrinho e a gente rolou esses barris
até nossa trincheira."
Cenas como essas descrita pelo cabo Richards e o
soldado Williams foram vistas em vários pontos da frente de batalha. Homens que
por meses tentaram matar um ao outro emergiram cautelosamente de suas posições,
apertaram as mãos, começaram a conversar, dividiram rações e beberam juntos. Em
algumas partes da "Terra de Ninguém", como era chamado o território
entre as trincheiras, houve até partidas de futebol. Uma delas terminou
Alemanha 3, Inglaterra 2.
'Jamais
esquecerei'
Anos depois do conflito, um major alemão não
identificado descreveu, em uma carta, seu encontro, na "Terra de
Ninguém" com um oficial inglês.
"A iniciativa da trégua não veio de nós, veio dos
ingleses", diz a carta. "No Dia de Natal, por volta das 11 da manhã,
vimos uma bandeira branca sendo acenada na trincheira inglesa, que ficava a uns
140 metros da nossa. Alguns deles saíram da trincheira e caminharam em nossa
direção, fazendo sinais. Meu comandante, o major barão von Blomberg, me ordenou
que eu fosse descobrir o que eles queriam. Acompanhado por um voluntário, eu
saí para me encontrar com o inglês. Sob o olhar surpreso dos homens nas duas
trincheiras, a troca preliminar de cumprimentos foi um pouco embaraçosa.
Ouvimos do inglês que eles desejavam, no dia de Natal, enterrar seus mortos,
que estavam caídos no fronte. Eles pediram que nós suspendêssemos a ação
inimiga por um período adequado. Não havia tempo para consultar instâncias
superiores. O major von Blomberg decidiu então que haveria um armistício local
até uma da tarde, dizendo aos ingleses que seus mortos tinham de estar
enterrados até essa hora."
"Enquanto os soldados ingleses realizavam a
triste tarefa, eu conversei com o tenente inglês, Edward Hulse, e entreguei a
ele uma medalha e cartas que pertenceram a um capitão inglês que morreu na
nossa trincheira, no ataque de 18 de dezembro. Tocado pelo tratamento
respeitoso dado aos pertences de um de seus companheiros, Edward Hulse tirou o
seu cachecol de seda e deu para mim, como uma recordação desse dia de Natal. Eu
fiquei tão emocionado por esse gesto, que mandei ao tenente, na mesma tarde, um
par de luvas. Só no dia de Ano Novo, quando um tiro disparado pelos ingleses
matou um sentinela nosso, é que essa trégua de Natal, que eu jamais esquecerei,
chegou ao fim."
Essa trégua durou apenas alguns dias. Generais alemães
e britânicos ficaram chocados com os relatos de camaradagem entre soldados dos
dois lados da "Terra de Ninguém", e emitiram ordens expressas de que
não haveria mais confraternização nos campos de batalha nem tréguas informais,
sob ameaça de corte marcial.
Gradualmente, os sons de canhões e tiros voltaram a
ecoar ao longo da frente ocidental, e a guerra retomou seu ritmo de violência e
morte. Ela duraria por mais quatro anos. A Primeira Guerra Mundial terminou em
novembro de 1918. Ela matou nove milhões de soldados e 13 milhões de civis.
Para muitos dos soldados e oficiais que se aventuraram
pela Terra de Ninguém durante a trégua, aquele Natal de 1914 foi o último.
Entre eles, estava o tenente Edward Hulse, que deu seu xale seda de presente
para o oficial alemão e recebeu em troca, um par de luvas. Ele foi morto em
batalha, apenas três meses depois.
BBC
News
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