quarta-feira, 3 de julho de 2019

Sobre homens e lobos



À beira do precipício, Alfredo investe em uma pequena granja como última esperança para recuperar a dignidade perdida. Seus sonhos e planos são destruídos por um inesperado acontecimento. É esta a embarcação que o autor utiliza para entregar suas mensagens, reflexões sobre o homem contemporâneo e suas circunstâncias.

“(...) ao concluir uma obra, não gosto mais de me manifestar sobre ela, considero ser esta uma prerrogativa do leitor; mas, desafiado, diria que ‘Sobre homens e lobos’ encerra, a um só tempo, um alerta e uma provocação. Alerta quanto aos tempos de intensas transformações que fazem com que desdenhemos valores vitais para a humanidade. Quanto à provocação, salta do conto como uma fábula às avessas, ‘o homem é o mais insano e cruel dos lobos’ (...)”, discorreu o autor em uma recente entrevista. 

Quando nos deparamos com uma narrativa curta, focada em um só conflito, com unidade de ação, tempo e com número diminuto de personagens, eis-nos diante de um conto, gênero literário que sempre atraiu Antônio Carlos dos Santos.

O interesse, nas palavras do escritor, “se vincula às origens primitivas do gênero narrativo, a milenar tradição de transmitir a história de forma oral, uma vez que o registro escrito ainda estava para ser criado. Foram os temas épicos e folclóricos que impulsionaram o gênero até chegar ao estilo despretensioso e despojado dos dias atuais, a brevidade, a concisão e a escrita em prosa”.

Os contos apresentam uma linguagem tão singular que Eça de Queirós, um ícone da literatura portuguesa chegou a teorizar sobre ele:
- No conto tudo precisa ser apontado num risco leve e sóbrio: das figuras deve-se ver apenas a linha flagrante e definidora que revela e fixa uma personalidade; dos sentimentos apenas o que caiba num olhar, ou numa dessas palavras que escapa dos lábios e traz todo o ser; da paisagem somente os longes, numa cor unida.

Antônio Carlos aderiu de forma entusiástica ao gênero quando publicou, no livro “Tiradentes, o mazombo”, vinte contos dramáticos de alta densidade e vigor literário. 

Agora nos brinda com “Sobre homens e lobos”, um conto inédito, alegoria que enfoca o dilema de um pequeno produtor rural consumido em dúvidas quanto a punir ou não um lobo que lhe rouba o meio de subsistência.

Em uma estória aparentemente despretensiosa o autor mergulha fundo em questões candentes que angustiam o homem contemporâneo: o eterno dilema entre a justiça e a injustiça, a culpabilidade e a inocência; a erudição enquanto instrumento de falácia e mola propulsora da impunidade; o discurso politicamente correto e a derrocada do bem em face das maquinações dos lobos do homem.

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