- Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas será publicado na segunda-feira
- Texto preliminar afirma que região sofre ‘transformação ecológica
em larga escala’
- Texto sugere parceria entre indígenas e ciência para proteger
floresta
A Organização das Nações Unidas (ONU) deve publicar na
próxima segunda-feira (9) o relatório do Painel Intergovernamental de Mudanças
Climáticas (IPCC) pela primeira vez em oito anos. A expectativa é que o texto
acenderá alertas sobre a aceleração do aquecimento global e os impactos para o
planeta.
Entre os alertas, o desmatamento, as alterações climáticas
e os incêndios na Amazônia têm destaque. A devastação leva a região para uma
“transformação ecológica em larga escala” que vai impactar todo o planeta.
Os documentos estão sendo negociados por diferentes
grupos durante o Painel, que apresentarão suas conclusões na semana que vem. No
entanto, alguns trechos só serão divulgados em 2022.
Versão preliminares, obtidas pelo portal UOL, mostram
que a pressão internacional irá aumentar sobre o Brasil, diante dos altos
riscos das alterações climáticas para a floresta tropical.
"A floresta amazônica como um repositório de
biodiversidade, está ameaçada pela relação entre as mudanças no uso da terra e
as mudanças climáticas, que poderia levar a uma transformação ecológica em
larga escala e a mudanças biológicas a partir de um floresta úmida em floresta
seca e pastagens, reduzindo a produtividade e o armazenamento de carbono",
afirma o informe.
Os negociadores esperam que o documento ajude
ativistas, ambientalistas e grupos indígenas a pressionarem o governo de Jair
Bolsonaro (sem partido) a priorizar a proteção da floresta.
O IPCC se tornou um marco desde que iniciou seus
trabalhos, e principalmente quando passou a publicar informes, que pautam o
debate internacional. Em 2007, recebeu o Nobel da Paz.
Para os cientistas, a Amazônia é um exemplo de
situações que estão chegando a um “ponto de ruptura”.
"Eventos extremos mais frequentes e intensos,
adicionais às tendências climáticas progressivas, estão empurrando mais
ecossistemas para pontos de ruptura além dos quais mudanças abruptas ou
transições para um estado degradado ou totalmente diferente podem
ocorrer", alertam.
"Os efeitos combinados e interativos entre
mudança climática, desmatamento e incêndios florestais são projetados para
levar a mais de 60% de redução de área coberta até 2050", diz.
Além dos alertas, o informe traz também propostas de
ações para superar a crise, sendo a principal delas a preservação.
"Há evidências crescentes de que a proteção de
ecossistemas naturais intactos existentes e a restauração de ecossistemas
degradados e semi-naturais, como florestas, pântanos ou zonas úmidas, mantém e
reconstrói a resiliência e é uma chave de adaptação e mitigação eficazes, e da
conservação da biodiversidade".
É recomendado também uma aproximação com comunidades
indígenas para, junto com a ciência, buscar conhecimento para administrar a
transformação da floresta.
"Conhecimento indígena e o conhecimento local
podem fornecer estratégias cruciais de adaptação para alimentos, fibras,
ecossistemas florestais e manejados em risco devido à mudança climática",
sugere. "Povos Indígenas desenvolveram sofisticados conhecimentos de
adaptação baseados em ecossistemas a partir da vida em florestas tropicais.
Eles podem desempenhar um papel fundamental em apoio ao provisionamento e
serviços culturais ecossistêmicos nesses ambientes utilizando abordagens tais
como criação participativa, monitoramento participativo ou adaptação baseada na
comunidade", constata.
Para o IPCC, proteger a biodiversidade e parar o
desmatamento são essenciais para construir uma “resiliência climática”.
Além disso, o informe desmente a teoria de que
preservar requer alto investimento. "Os benefícios das intervenções de
adaptação muitas vezes compensam os custos. Existem oportunidades para que os
países tropicais criem novos mercados potenciais de serviços ambientais para
ações climáticas, como o gerenciamento do armazenamento de carbono e refúgios
de biodiversidade nas florestas, com os benefícios das intervenções de
adaptação superando os custos", argumenta.
Especificamente para a América do Sul, o IPCC propõe a
expansão de ações de adaptação às alterações climáticas na agricultura e
setores florestais. O texto afirma ser necessário incluir “manejo de solo e
água, diversificação de culturas, agricultura inteligente do ponto de vista
climático, sistemas de alerta, mudança de plantação para evitar aumento de
temperatura e pragas, além de melhorias no manejo de pastagens e gado”.
Também recomenda a implantação de planos nacionais
para adaptar a agricultura e setores florestais. De acordo com o informe, tais
planos mostram avanços institucionais, mas vivem uma "implementação
limitada em todos os países, uma vez que as barreiras persistem".
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